domingo, 19 de fevereiro de 2023

A LÓGICA CONTRADITÓRIA DO CAPITAL CONDUZ INEVITALVEMENTE AO IRRACIONALISMO DA SOCIEDADE

 


A
relação social capitalista obedece a uma lógica contraditória que conspira permanentemente contra a racionalidade. A lógica capitalista de necessidade de autorreprodução permanente da forma-valor, operando ad infinitum, entra em choque com limites existenciais próprios desta contraditoriedade funcional, tais como a guerra concorrencial de mercado e a capacidade de consumo.  

As mercadorias, que são a materialização do valor, digladiam-se no confronto épico da guerra concorrencial de mercado, explicitando a equação irresolúvel desse modo de relação social. 

Não é por menos que Marx, já no início da sua maturidade, aos 40 anos, deixando mais ao lado a sua intromissão nos eventos políticos das dores do fim da transição feudal para o capitalismo, começa sua obra fundamental, O Capital - da qual os GRUNDISSE foi o alicerce sob a forma de rascunho - dissecando a essência da forma mercadoria que serve de base para toda a sua análise crítica da economia política.  

Nenhum economista burguês, ou filósofo exotérico, conseguiu contraditar consistentemente as suas análises de conteúdo que o levaram ao vaticínio segundo o qual o capitalismo fatalmente viria a se chocar com a questão de forma como agora acontece.  

Até mesmo os marxistas exotéricos, apegados ao conceito pífio de distribuição humanizada da forma-valor pelo estado proletário - o nome já indica sub-repticiamente a perpetuação e incenso do trabalho  abstrato produtor de valor, expresso nas insígnias da foice e do martelo - não souberam ou não quiseram, por mero apego ao poder político vertical, caminhar no sentido da superação das categorias capitalistas e dos seus conceitos de relações sociais tão contraditórios.   


O capital vem se conservando a partir da entourage de institutos políticos-jurídicos constitucionais ou consuetudinários que agora demonstram as suas falácias e fundamentos opressores. O exemplo maior disso é o campo do direito e suas firulas que tentam transformar o que é intrinsecamente injusto em justo

As categorias capitalistas do gênero forma-valor se plasmam socialmente como espécies dele derivadas e compõem o universo da irracionalidade social clamando por superação. Deste conjunto social fantasmagórico, temos: 

- trabalho abstrato;  

- dinheiro, a única mercadoria sem valor de uso que compra todas as outras, a abstração por excelência;  

- mercadorias sensíveis e serviços com valor de uso e de troca, sendo uma concreta outra abstrata;  

- mercado;  

- estado  com suas instituições e formas políticas; 

A irracionalidade social comportamental obedece a um critério autocrático que escraviza a humanidade sem ela perceber os grilhões lhe manietando a ação e o pensar, e  ainda determina  os indivíduos sociais neles inseridos na qualidade de cidadãos a sofrerem as consequências de seu modo cruel e desumano.  

O capital deseduca e transforma os indivíduos sociais em cidadãos contribuintes da sua própria opressão e adversários entre si. A solidariedade, traço comportamental responsável pela evolução dos hominídeos, transforma-se em competição fratricida.    

Neste quadro, surgem as mais diversas teses políticas que vão desde a ultradireita conservadora, agora ressurgida passados 78 anos desde o fim da Segunda Guerra Mundial - quando, diante dos horrores da bestialidade irracional da guerra, os nazifascistas mantiveram-se calados nos subterrâneos da incivilidade -, até os bem intencionados membros da esquerda institucional, hoje  dependente de todas as categorias capitalistas pelas quais é sustentada, que pregam a retomada do desenvolvimento econômico sem compreender a necessidade de superação daquilo visto por eles como salvação.  

O movimento das doutrinas políticas sob o capital mais parece o pêndulo de um relógio, transitando de um lado para outro sem sair do lugar.  

São muitas as demonstrações perfeitamente visíveis dos comportamentos socialmente irracionais que obedecem à voracidade onívora da forma-mercadoria em sua necessidade de expansão infinita, tais como: 

- congestionamento do trânsito nos grandes centros urbanos que transforma veículos velozes em carroças empacadas nas vias públicas, quando se poderia usar um sistema público de transporte eficaz, com eliminação de CO² na atmosfera e consumo desnecessário de peças; 

- poluição de rios, lagoas, mares, solo, subsolo e atmosfera, além de emissão de gases poluentes que formam o efeito estufa, cientificamente comprovado como fator de alteração climática destrutiva; 

- critério de trabalho abstrato - assalariado - gerador de valor e acumulação concentrada e excludente de capital como forma de remuneração do consumo social pela forma-valor , ao mesmo tempo que desenvolve tecnologias de produção robótica e cibernética capazes de reduzir substancialmente a mesma capacidade de obtenção de salários, causa do desemprego estrutural hoje mundialmente observado;   

- produção clandestina de substancias tóxicas capazes de enlouquecer e tornar dependentes os seus usuários, como forma de se ganhar dinheiro com o tráfico e cumplicidade de setores policiais, igualzinho quando da lei seca estadunidense nos anos da grande depressão econômica. 

-  considerar-se democrático um processo eleitoral sabidamente viciado pela corrupção econômica na qual o eleitor incrédulo nos políticos e suas instituições procura obter uma vantagem econômica individual pretensamente compensatória a partir do voto, e o político corrompe o eleitor sob várias formas recebendo uma outorga de poder delegado no qual o eleitor outorgante se distancia da outorga concedido e fica à mercê de quem o representa infielmente, e que sempre em grande maioria parlamentar representa apenas os interesses dos detentores do capital; 

- aceitar-se e normalizar-se a violência urbana com altos níveis de letalidade e assaltos à mão armada como questão meramente policial; 

- aceitar-se os altos índices de analfabetismo e semialfabetização do povo como traço cultural;  

- aceitar-se a desassistência médica preventiva e hospitalar da população  e os altos preços dos remédios laboratoriais patenteados - muitos delas meramente paliativos, pois muitas doenças poderiam ser curadas com remédios eficazes e definitivos que são boicotados-, e tudo tratado como questão de mercado e meramente administrativa governamental; 

- não  se considerar o niilismo e a raiva juvenil dos adolescentes como a resultante de uma sociedade socialmente injusta e sem perspectivas de realização pessoal profissional e humana que está se plasmando no bojo dos limites expansionistas e de saturação da relação social capitalista;  

- considerar-se que o oposto do processo democrático eleitoral é a ditadura, como se somente houvesse duas formas políticas de estruturação jurídico social, ambas antipovo, e pior, ver que após o processo eleitoral os derrotados clamam diante de quarteis militares por ditadura militar como forma de salvação democrática nacional, fazendo-se continência para pneus queimados e marchando-se em ordens unidas militares com símbolos patrióticos;  

- aceitar-se passivamente e sem questionamento que a humanidade adquiriu imensos saberes tecnológicos capazes de realizações de proezas nas áreas da comunicação via satélite, da computação, da microeletrônica e da biomedicina, enquanto se vê aumentar a fome e a miséria mundiais, se atribuindo, quando muito,  a questões periféricas que contribuem para o agravamento destes problemas, mas não correspondem às suas verdadeiras causas;  

- negar-se o esforço de biólogos, verdadeiros heróis da humanidade,  que em laboratórios mundo afora pesquisaram a natureza biológica do vírus da covi19 como forma de criação de vacinas capazes de combater os seus efeitos letais, de  validades estatisticamente comprovadas, admitindo-se que tais vacinas podem promover mutações genéticas,  principalmente por quem não tendo conhecimento científico sobre a matéria e com a  responsabilidade do ex-Presidente da República coloca em dúvida a sua eficácia e admite jocosamente a possibilidade da transformar os seus usuários em gay ou jacaré;    

- submeter-se qualquer atividade social ao crivo restringente da viabilidade econômica, ou seja, somente se faz aquilo que dá lucro, mesmo que a coletividade esteja necessitando com urgência de uma determinada providência que se torna impossível de ser tomada caso tal iniciativa não resulte na síntese desumana do comando mercantilista como a derrubada de florestas sem um replantio sustentável, ou o uso de combustíveis fósseis poluentes quando se pode usar energias limpas e a não canalização das águas fluviais para as  regiões secas de baixas densidades pluviométricas; 

- ver crescer o fundamentalismo religioso tacanho e charlatão que se aproveita da ingenuidade e sofrimento coletivos na terra vendendo lotes da salvação no Céu ao mesmo tempo que doutrina sub-repticiamente a aceitação dos sofrimentos terrenos, não podendo, contudo isso ser confundido com o direito humano de crença religiosa de boa-fé merecedora de respeitabilidade; 

A sociedade capitalista somente permanece viva, apesar da sua flagrante disfuncionalidade social, graças à inconsciência da maioria da população sobre suas mazelas, bem como pelo desconhecimento de que é possível se viver socialmente, e bem melhor, sem o Deus da modernidade: a forma-valor.  

Os que conhecem o teor da irracionalidade capitalista e dela se beneficiam desejam que ela permaneça socialmente imperceptível; os que deveriam ter interesse em sua superação, a desconhecem.  

Mas, apesar dessa inconsciência sobre si mesma e do caráter negativo contido no modo de produção social capitalista, há um fator conjuntural forçando o despertar da letargia coletiva suicida, a impossibilidade crescente de se viver socialmente sob as contradições inerentes e imanentes à forma-valor.  

A nós todos cabe promover o despertar da emancipação humana antes que seja tarde. (por Dalton Rosado)


2 comentários:

Túlio disse...

Saudações, Dalton
Texto maravilhoso. Aliás, este blog é um bolsão de ar puro em meio às platitudes propagadas pela mídia venal a serviço do capital, bem como as redes sociais operadas pela big techs, que não têm o mínimo interesse na emancipação do se humano, muito pelo contrário...
Aproveitando a referência ao vídeo postado, esse texto me remete a alguns versos do Caetano:
"impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi"
Segue abaixo um link de um documentário sobre a tribo dos Panarás, que retornaram à sua terra depois da devastação dos garimpeiros.
https://youtu.be/pOFuQEJxUl8
Ouro, a febre terçã do capitalismo

Anônimo disse...

Deu no www.marketwatch.com !!
O livro de Greta Thunberg: Capitalismo e economia de mercado uma 'ideia terrível' para retardar a mudança climática

https://glossary-morningstar-com.translate.goog/news/marketwatch/20230217462/greta-thunbergs-book-capitalism-and-market-economics-a-terrible-idea-to-slow-climate-change?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

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