quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

JÁ LÁ SE VÃO 55 ANOS, MAS O MELHOR DE TODOS OS WESTERNS CONTINUA IMBATÍVEL!

A
ntes de anunciar o filme por mim considerado merecedor de tal distinção –e que está disponibilizado na janelinha abaixo–, vou fazer uma breve introdução.

O filão surgiu em 1903, com O grande roubo do trem (d. Edwin S. Porter), oito anos depois de os Irmãos Lumière terem exibido os 55 segundos do seu L'Arrivée d'un Train a La Ciotat, inventando o cinema.

Dos milhares e milhares de bangue-bangues lançados nestes 126 anos, qual pode ser considerado the best? É difícil dizer. Inexiste uma opção tão amplamente aceita quanto Cidadão Kane (d. Orson Welles, 1941) como o melhor filme de todos os tempos.

Os grandes westerns  puros, que fixaram a mitologia do gênero, foram No tempo das diligências (d. John Ford, 1939) e Os brutos também amam (d. George Stevens, 1953).

O western mais 
corajoso e digno é fácil de apontar: Matar ou morrer (d. Fred Zinnemann, 1952), uma parábola devastadora sobre o macartismo, realizada por alguns dos atores e técnicos que estavam sendo por ele perseguidos e cujo lançamento se deu no auge da caça às bruxas

É de arrepiar a cena em que o xerife (Gary Cooper) atira a estrela no chão e parte enojado da cidade que o tinha como ídolo, mas o abandonou no momento do perigo!

Os principais westerns outonais, retratando o fim desse período histórico e o crepúsculo das lendas por ele engendradas, devem ser creditados a Sam Peckinpah (Pistoleiros do entardecer, 1962; e Meu ódio será sua herança, 1969) e a Sergio Leone (Era uma vez o Oeste, 1968).

Finalmente, meu palpite como o melhor de todos os tempos é Três homens em conflito, de 1966, o extraordinário épico de Leone sobre três aventureiros (o bom Clint Eastwood, o mau Lee Van Cleef e o feio Eli Wallach) que caçam um tesouro em meio à Guerra da Secessão.

Foi, claramente, o divisor de águas na carreira de Sergio Leone, o momento em que ele mostrou ser muito mais do que o (brilhante) artesão que se evidenciara nos seus faroestes anteriores.

Em
 Por um Punhado de Dólares (1964) ele introduzira:
a figura do anti-herói no centro da trama;
— a amoralidade básica dos tipos e das situações;
— a apresentação criativa dos letreiros iniciais, valorizada com vários recursos, inclusive o uso de animação;
— a nova concepção musical que Morricone trouxe para os westerns; e
— um dos personagens mais emblemáticos do bangue-bangue à italiana, o pistoleiro oportunista interpretado por Clint Eastwood.
 
Depois, em Por Uns Dólares a Mais (1965), todas essas características foram desenvolvidas e aprimoradas. É um filme muito melhor do que o anterior, mas, paradoxalmente, não apresentou novidades significativas.

A única que vale a pena citar é a colocação de dois personagens em destaque, em vez de um. A partir daí, os filmes de Leone trariam sempre essa dupla de anti-heróis ocupando o espaço dos antigos mocinhos.

Aí, finalmente, estava pronto para seu tour-de-force.
Três Homens em Conflito foi a fita em que Leone definiu e afirmou seu estilo, embutindo no cinema de ação discussões mais profundas, sem prejuízo do entretenimento propriamente dito. 

É um tipo de obra em camadas. De acordo com sua sensibilidade, o espectador pode se divertir apenas com o básico ou captar os muitos toques subjacentes.

E é grandiosa a crítica que Leone fez ao belicismo, com algumas das sequências mais comoventes que o cinema já apresentou:
—  oficial bêbado sem coragem para, descumprindo as ordens recebidas, destruir a ponte;
— a orquestra do campo de prisioneiros tocando para abafar os ruídos da tortura;
— o jovem soldado agonizante a quem o Estranho Sem Nome dá seu charuto.

O duelo triangular no centro do cemitério é o mais artístico e climático que o cinema já apresentou e tem a valorizá-lo mais um tema emocionante de Ennio Morricone. Foi citado (ou seria melhor dizer copiado?) por Quentin Tarantino em Kill Bill.

Leva quase três horas e vale cada segundo. Um arraso! (por Celso Lungaretti)

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