POR UMA QUESTÃO DE PRINCÍPIOS
É inquestionável: o justo, sob o ponto de vista moral e ético, não comporta atitudes escravistas, racistas, segregacionistas, elitistas, misóginas, xonófobas, homofóbicas, populistas, ou seja, antipopulares na sua razão última, anticientíficas, fundamentalistas religiosas, genocidas, egoístas, ecocidas, etc.
Tais atitudes negam o humanismo que deve nortear as nossas ações e comportamentos, independentemente de rótulos comportamentais.
Não há dúvidas de que o capitalismo, como forma de relação social, incorpora todas as adjetivações acima, ainda que muitos tentem dar-lhe a conotação de mal necessário para impulsionar o progresso.
Numa entrevista dada por Paulo Guedes na enganosa campanha eleitoral de 2018, afirmou que o capitalismo havia retirado uma grande parte da humanidade da miséria mais cruel. Tal afirmação, falaciosa e oportunista, deve ser explicitada.
O que proporcionou o avanço substancial dos meios de sobrevivência da humanidade foram os ganhos científicos por ela acumulados, malgrado muitos deles tenham decorrido das guerras e das invenções bélicas, além, é claro, da volúpia capitalista pelos lucros.
Os ganhos da ciência, que poderiam ter acontecido de modo mais cômodo para a humanidade, ocorreram apesar dos regimes escravistas (imperiais, feudais e capitalistas) que dominaram as sociedades humanas ao longo dos últimos milênios, e ainda dominam, e não por causa deles.
Não há como se excluir da lógica funcional capitalista, representada pela existência de suas categorias fundantes (valor, dinheiro, trabalho abstrato, mercadoria, mercado, Estado e política) a maior parte, se não todos os motivos da permanência e intensificação das mazelas humanas listadas acima.
Um segmento mais consciencioso da humanidade tem procurado humanizar o capitalismo, acreditando ser possível dar-lhe uma feição civilizada.
Entretanto, mesmo que se considerem os avanços alcançados, eles não têm o condão de evitar os retrocessos, que são inevitáveis por conta da natureza de uma forma de relação social cuja origem é escravista (e escravista ainda é).
Não se pode querer que o diabo seja bom e generoso, ainda que às vezes ele ilusoriamente o pareça ser. O diabo termina sempre por mostrar a sua verdadeira face, tal como acaba se revelando Mefistófeles clássico Fausto.
Que a direita defenda, sem pejo, postulados desumanos, tentando fazer o injusto passar por mal menor e necessário, é coerente com seu papel na ordem das coisas.
Mas a esquerda não tem o direito de deixar-se enganar por Mefistófeles, muito menos o de reproduzir a máscara de ilusório caráter do personagem de Goethe. O meio jamais justifica os fins.
Por que se admite a extração de mais-valia em países que se dizem marxistas e anticapitalistas?
Por que se proíbe a livre manifestação da opinião na China, dita comunista, quando se sabe que a busca da verdade comporta o contraditório e a diversidade de visões, traduzida na defesa da tese e da antítese, que resulta na síntese?
Por que a China se tornou o segundo maior emissor de gases poluentes na atmosfera (rivalizando com os Estados Unidos, a meca do capitalismo) e produtor de mercadorias vendidas no mundo inteiro, dessubstancializando o próprio valor e ameaçando os fundamentos de sua própria economia e da economia mundial, que caminha a passos largos para o colapso econômico e ecológico?
Por que Daniel Ortega (outrora guerrilheiro revolucionário de esquerda, atualmente ditador da Nicarágua) agora se faz passar por místico religioso, enquanto continue prendendo e arrebentando opositores, ou seja, repetindo descaradamente tudo aquilo que condenava no tirano que o antecedeu, o direitista Anastasio Somoza?
Por que Lula pede hipocritamente perdão aos italianos por não ter extraditado Cesari Battisti, um combatente dos anos de chumbo naquele país, depois de hipocritamente o ter salvado por exigência de dirigentes importantes do PT, embora desse mostras cabais de o estar fazendo a contragosto?
Por que o mesmo Lula assume ares de defensor do capitalismo e afirma, sorridente, que com ele a Ford não teria ido embora do país, escancarando a sua posição cada vez mais convergente com a centro-direita e contraditória com seu passado (o sindicalista se tornou defensor da exploração dos sindicalizados pelo capitalismo!)?
Por que o PT defende uma ditadura corrupta, sustentada pelas forças militares dirigentes de estatais na Venezuela, como se aquele país, por ter sido (e ainda estar sendo) fustigado pelos ultradireitistas, representasse os ideais emancipacionistas que negam as categorias capitalistas na sua totalidade?
Por que, como alternativa à volta de ditaduras de direita, se apoiam governos democrata burgueses, quando não passam de duas faces da mesma moeda, nenhuma delas merecedora de nosso apoio (apontar os primeiros como o inimigo menos pernicioso num determinado momento pode ser uma necessidade tática, mas apoiá-los equivale a passar recibo de uma identidade estratégica).
Os governos de esquerda, antes e agora, sempre funcionaram sob uma base capitalista, ainda que se dissessem proletários, daí terminarem por sucumbir às ditatoriais regras de sua lógica funcional; dinheiro e poder são irmãos siameses. Não se pode construir o bem a partir de critérios consentâneos com o mal.
Será que os postulados emancipatórios são tão difíceis de serem compreendidos e assimilados por uma população historicamente espremida entre projetos conservadores de um lado, e projetos políticos sociais-democratas, democratas burgueses e socialistas do outro lado, como se fosse impossível negar o poder vertical, e criarmos um estrutura de organização social horizontalizada e sob bases de produção social voltada para a satisfação de necessidades e não para a acumulação do lucro?
Mas a vida caminha no sentido da superação do velho e assimilação do novo, representado por uma organização social que seja capaz de negar a negatividade.
Portanto, fico feliz quando a população oprimida abandona as teses políticas institucionais e, mesmo, sem compreender que a base dos seus problemas reside numa mediação social subtrativa da riqueza socialmente produzida, se rebela contra:
— o apartheid social racista (vide o movimento estadunidense black lives matter, ou seja, vidas negras importam, que se alastrou mundo afora);
— o movimento dos coletes amarelos na França, que encostou na parede os projetos falsamente dicotômicos da direita, do centro, e da esquerda institucional, e de tantos quantos se posicionem geografica e ideologicamente a favor da manutenção das causas da opressão;
— a surpreendente postura de grupos brasileiros de torcedores de futebol, que, para fazer inveja aos comprometidos e acovardados partidos de esquerda e sindicatos, se posicionam contra os nacionalistas verde-amarelos, promotores do ódio e da violência contra os oprimidos;
— idem, idem quando a população aturdida com um genocídio premeditadamente praticado contra si, acorda e vai às ruas lançando um sonoro não! ao morticínio em curso e exigindo mudança de rumos (sem nem mesmo saber como ou para onde ir, mas sabendo muito bem o que pode continuar ocorrendo);
— idem, idem, idem quando um grupo de militantes se articula para promover um Tribunal do Genocídio e Ecocídio (vide aqui), visando dar nomes tanto ao que está na base de tal tragédia humana e ecológica, quanto aos seus executores, num espectro amplo que inclui crimes de misoginia, racismo, impossibilidade material de provimento da vida, escravismo indireto pelo trabalho abstrato e tantas outras mazelas sociais que se incorporam ao processo genocida em curso.
Destarte, termino por saudar a todos que no sábado passado, deixando o aconchego dos seus lares e os atrativos de suas horas de lazer, foram às ruas clamar pelo bota fora do genocida, numa verdadeira festa da emancipação!
#Fora Bolsonaro! (por Dalton Rosado)
Um comentário:
Grande Dalton!
O povo foi e irá as ruas por causa da carestia.
A perda de renda foi brutal e, nós sabemos, a fome é o grande motor das revoluções.
Ainda mais num lugar onde ela e injustificável.
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Contudo, o novo está se fazendo e vem da ciência, não das ruas.
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Ela, a ciência prescinde da construção do conhecimento através da dialética.
De fato, a forma mais rudimentar de se chegar ao conhecimento científico é a observação.
Observando e comparando similaridades é possível classificar e agrupar fenômenos.
Aristóteles foi discretamente censurado por Rafael, que o pintou apontando para baixo, só porque disse isso.
Entretanto, a gavetas de Aristóteles até hoje tem servido a ciência.
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A mesquinharia mercantilista não é páreo para o avanço da tecnologia.
Veja-se o projeto Babilon Health que, usando inteligência artificial, está tendo resultado iguais aos dos clínicos gerais ingleses.
E essa estrutura lógica tem memória infinita e aprende com os erros.
Em breve superará qualquer médico humano, pois essa máquina é milhões de vezes mais capaz que Aristóteles.
São zilhões de gavetas e observações.
Porém, o soviete de lá - o CRM deles - já está indo contra e tentando impedir o projeto de ir em frente.
Em toda parte, vê-se sempre os herdeiros da múmia da praça vermelha.
Os vetustos guardiães da verdade oficial, do conselho, das normativas e da reserva de mercado.
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Quando Deep Blue derrotou Karpov a nova era foi anunciada.
(Mesmo que depois Karpov tenha vencido o match.)
Agora é o Babilon Health, que está botando os médicos ingleses no córner,
Foi aceito em Ruanda.
Com ajuda dele, 16 enfermeiros e 16 médicos atendem dois mil pacientes em 24 horas.
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Debalde a estultice se interpõe.
Debalde as cátedras, guidas, confrarias, classes, esquemas, conselhos, governos, empresas e outros zumbis tentam normatizar e negar.
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A revolução já aconteceu.
O futuro será dos protocolos blockchain e da inteligência artificial.
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E pur si muove!
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