Em artigo mais do mesmo publicado na Folha de S. Paulo, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann desperdiçou quase todo o espaço com elogios em boca própria e lamúrias de quem deveria, isto sim, estar fazendo a autocrítica dos erros crassos cometidos.
Deixou para o parágrafo final a única coisa que importava:
"O Brasil não suportará uma saída por cima, para manter a agenda de Guedes com ou sem Bolsonaro. Nem voltará à normalidade sem reparar a injustiça e restaurar os direitos do ex-presidente Lula.
Mais que o impeachment, o PT defende novas eleições com participação de todas as forças políticas. Ou enfrentamos a crise com o povo ou ela só vai se aprofundar".
Ora, depois de ter respeitado rigorosamente o isolamento social, entrando nele antes mesmo de sua adoção (escondeu-se nalguma caverna logo após o período natalino e só acordou da hibernação para impugnar as iniciativas daqueles que começavam a resistir pra valer a Bolsonaro), eis que agora fixa condições para a retirada do bode da sala.
Com que direito, após ter evitado cuidadosamente os riscos da empreitada, enquanto os ministros do Supremo e os Gaviões da Fiel lhe davam exemplos de destemor diante do inimigo fascista?!
E lá é hora de propor metas que retardarão, ao invés de estimular, a união do máximo de forças políticas para dar um fim ao pesadelo o quanto antes, salvando a vida de brasileiros que estão sofrendo mortes evitáveis em função de Bolsonaro sabotar conscientemente o combate à pandemia?! Quantos milhares precisarão morrer para o PT se dar conta do imperativo de uma solução urgente?!
O objetivo que une os melhores brasileiros é a remoção de Bolsonaro. Temos de somar, não dividir! |
A ortodoxia neoliberal do Guedes ficou no passado, a Covid-19 já se incumbiu de mandá-la pelos ares. Qualquer presidente que substitua o catastrófico Bolsonaro, deverá tomar medidas pragmáticas como a montagem de algum tipo de governo de salvação nacional para minimizar o sofrimento dos brasileiros por força do vírus e da depressão econômica. É o óbvio ululante.
Então, a retomada da agenda do mercador de ilusões só poderia entrar em pauta lá por 2022 ou ainda depois. Tanta água passará debaixo da ponte que é ocioso nos ocuparmos disto desde já.
Quanto à restauração dos direitos do Lula, trata-se de piada de mau gosto tocar-se neste assunto agora. Um desrespeito aos que estão morrendo ou sendo levados à penúria e ao desespero por causa dos desmandos do presidente miliciano.
Tratemos primeiramente de salvar os coitadezas (as vítimas preferenciais de sempre!) e deixemos para quando houver um novo governo a discussão de uma anistia para o Lula; seria a melhor forma de virarmos essa página da História, mas há problemas muito mais urgentes para resolvermos antes.
Quanto a novas eleições após o impeachment, é uma proposta totalmente irresponsável, em primeiro lugar pela demora dos trâmites: a perda definitiva do mandato do Bozo jamais ocorreria em 2020 e, do primeiro dia de 2021 em diante, quem assume é o vice e ponto final.
Nova eleição presidencial somente ocorrerá se a chapa for cassada pela Justiça Eleitoral ainda em 2020. Mas, isto já está para ser concedido ou negado pelo TSE no próximo semestre, independentemente das exigências do PT.
Então, o melhor que o partido tem a fazer é participar humildemente das iniciativas da sociedade civil e das mobilizações dos jovens que, com muito brio, retomaram o controle das ruas (perdido pelos petistas em 2016).
Até porque o protagonismo a que o PT aspira, além de não se justificar pela prática por ele desenvolvida nos últimos anos, serviria como uma possível boia para o governo Bolsonaro agarrar-se no instante em que afunda.
A rejeição ao PT é uma de suas últimas esperanças para evitar o defenestramento, daí a importância de, como em 1984 nas diretas-já, haver um amplo leque de forças participando em pé de igualdade, unidas para despachar o governo genocida à lixeira da História. (por Celso Lungaretti)
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