sexta-feira, 19 de junho de 2020

O PT MANTÉM A SOBERBA: NÃO FOI ÀS RUA CONTRA BOLSONARO, MAS QUER DEFINIR COMO DEVEMOS DAR FIM A SEU GOVERNO

Em artigo mais do mesmo publicado na Folha de S. Paulo, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann desperdiçou quase todo o espaço com elogios em boca própria e lamúrias de quem deveria, isto sim, estar fazendo a autocrítica dos erros crassos cometidos. 

Deixou para o parágrafo final a única coisa que importava: 
"O Brasil não suportará uma saída por cima, para manter a agenda de Guedes com ou sem Bolsonaro. Nem voltará à normalidade sem reparar a injustiça e restaurar os direitos do ex-presidente Lula. 
Mais que o impeachment, o PT defende novas eleições com participação de todas as forças políticas. Ou enfrentamos a crise com o povo ou ela só vai se aprofundar".
Ora, depois de ter respeitado rigorosamente o isolamento social, entrando nele antes mesmo de sua adoção (escondeu-se nalguma caverna logo após o período natalino e só acordou da hibernação para impugnar as iniciativas daqueles que começavam a resistir pra valer a Bolsonaro), eis que agora fixa condições para a retirada do bode da sala.

Com que direito, após ter evitado cuidadosamente os riscos da empreitada, enquanto os ministros do Supremo e os Gaviões da Fiel lhe davam exemplos de destemor diante do inimigo fascista?!

E lá é hora de propor metas que retardarão, ao invés de estimular, a união do máximo de forças políticas para dar um fim ao pesadelo o quanto antes, salvando a vida de brasileiros que estão sofrendo mortes evitáveis em função de Bolsonaro sabotar conscientemente o combate à pandemia?! Quantos milhares precisarão morrer para o PT se dar conta do imperativo de uma solução urgente?!
O objetivo que une os melhores brasileiros é a remoção de Bolsonaro. Temos de somar, não dividir!
A ortodoxia neoliberal do Guedes ficou no passado, a Covid-19 já se incumbiu de mandá-la pelos ares. Qualquer presidente que substitua o catastrófico Bolsonaro, deverá tomar medidas pragmáticas como a montagem de algum tipo de governo de salvação nacional para minimizar o sofrimento dos brasileiros por força do vírus e da depressão econômica. É o óbvio ululante.

Então, a retomada da agenda do mercador de ilusões só poderia entrar em pauta lá por 2022 ou ainda depois. Tanta água passará debaixo da ponte que é ocioso nos ocuparmos disto desde já.

Quanto à restauração dos direitos do Lula, trata-se de piada de mau gosto tocar-se neste assunto agora. Um desrespeito aos que estão morrendo ou sendo levados à penúria e ao desespero por causa dos desmandos do presidente miliciano.  

Tratemos primeiramente de salvar os coitadezas (as vítimas preferenciais de sempre!) e deixemos para quando houver um novo governo a discussão de uma anistia para o Lula; seria a melhor forma de virarmos essa página da História, mas há problemas muito mais urgentes para resolvermos antes. 
Ou alguém duvida de que isto jamais ocorrerá no atual governo? Então, um mínimo de bom senso manda primeiramente efetuarmos a transição e depois colocarmos tal anistia em pauta. 

Quanto a novas eleições após o impeachment, é uma proposta totalmente irresponsável, em primeiro lugar pela demora dos trâmites: a perda definitiva do mandato do Bozo jamais ocorreria em 2020 e, do primeiro dia de 2021 em diante, quem assume é o vice e ponto final.

Nova eleição presidencial somente ocorrerá se a chapa for cassada pela Justiça Eleitoral ainda em 2020. Mas, isto já está para ser concedido ou negado pelo TSE no próximo semestre, independentemente das exigências do PT.

Então, o melhor que o partido tem a fazer é participar humildemente das iniciativas da sociedade civil e das mobilizações dos jovens que, com muito brio, retomaram o controle das ruas (perdido pelos petistas em 2016).

Até porque o protagonismo a que o PT aspira, além de não se justificar pela prática por ele desenvolvida nos últimos anos, serviria como uma possível boia para o governo Bolsonaro agarrar-se no instante em que afunda. 

A rejeição ao PT é uma de suas últimas esperanças para evitar o defenestramento, daí a importância de, como em 1984 nas diretas-já,  haver um amplo leque de forças participando em pé de igualdade, unidas para despachar o governo genocida à lixeira da História. (por Celso Lungaretti)

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