fernando canzian
PARA BOLSONARO, AGORA É POPULISMO OU MORTE
Jair Bolsonaro segue entrincheirado nos cerca de 30% dos brasileiros que ainda o escutam. Mas a onda política, econômica e sanitária em formação deve engolir o presidente.
A curva ascendente de infecções pela Covid-19 projeta 35 mil casos diários daqui a um mês, o que pode representar cerca de 2 mil mortes diárias se o Brasil continuar insistindo num isolamento meia-boca.
As UTIs do SUS devem lotar em muitos estados antes de junho. Os leitos privados remanescentes provavelmente estarão sendo disputados na Justiça ou requisitados às pressas por estados e municípios.
Juramento à nova bandeira |
Em algumas semanas, cenas tristes e grotescas como as de Manaus serão comuns em estados mais pobres e no Rio de Janeiro. O cenário remeterá à política contra o isolamento de Jair Bolsonaro e à sua gripezinha.
Até lá, a economia terá afundado muito mais, concretizando a profecia de um tombo histórico no setor de serviços, onde estão dois terços dos empregos.
Talvez comece a ficar claro também que Bolsonaro colocou o Brasil no pior dos mundos: nem fechamos, nem abrimos.
Isto manterá o vírus entre nós por muito mais tempo, espalhando-se em ondas paralisantes por aqui enquanto o resto do mundo reabre.
Com as investigações do caso Moro/PF/filhos avançando, Bolsonaro precisará cada vez mais do fisiológico centrão, que já deve estar pensando: compensa mamar num governo tão quebrado e moribundo?
"mamãe eu quero mamar..." |
Em sua última pesquisa, o Datafolha mostrou que a popularidade de Bolsonaro despencou 11 pontos entre os que têm renda familiar acima de cinco salários mínimos (10% dos brasileiros). Mas ele ganhou oito pontos nos que ganham até dois mínimos (60% da população).
O aumento do apoio entre os mais pobres coincidiu com o início do pagamento da ajuda de R$ 600, por três meses, aos afetados pela crise. Para outros 11,3 milhões no Bolsa Família, o valor usual médio de R$ 190 mensais saltou a R$ 1.200.
É triste dizer isso, mas milhões de brasileiros nunca viram tanto dinheiro na vida.
Sob o pretexto verdadeiro de que os pobres não terão como sobreviver sem a ajuda federal, pode restar ao presidente enveredar por um populismo em cima dessa miséria nacional —agora devidamente cadastrada na Caixa Econômica Federal. (por Fernando Canzian)
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