sábado, 1 de fevereiro de 2020

JAMAIS DEVEMOS ENCARAR O BOZO COMO PREFERÍVEL AO MORO. TEMOS É DE SER A ALTERNATIVA A TODOS OS FASCISTAS!

Começa a encorpar-se na esquerda a tendência a erigir Sergio Moro em inimigo principal, a ser combatido inclusive favorecendo implicitamente o Bozo na disputa por poder que se trava no seio do fascismo tupiniquim. 

Depois de Reinaldo Azevedo e Lula, agora é o editor-executivo do Intercept Brasil que assume tal postura, da qual este blog discorda incisivamente, daí estar abrindo a discussão sobre ela. 
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leandro demori
BOLSONARO, CUIDADO
Vejam que coisa curiosa: o Brasil vem piorando há cinco anos nesse ranking mundial de percepção da corrupção. É a mesma idade da Lava Jato.

Há meia década, nós, brasileiros, achamos – a cada ano mais – que nunca se roubou tanto neste país. 

Mas vejam: isso é um ranking de percepção de corrupção, não da corrupção efetiva. É um ranking sobre o sentimento da população em relação à roubalheira. E o que potencializa essa percepção? 

Cinco anos de notícias diárias sobre o combate à corrupção, com certeza, sim.

E quem alimenta a imprensa com esse ciclo eterno? Sobretudo a Lava Jato.

Então, quanto mais Lava Jato tivemos, mais as pessoas foram achando o país corrupto. Quem se beneficiou disso? A Lava Jato, ora, que só cresceu, concentrou poder e cometeu arbitrariedades disfarçadas de heroísmo.

Quanto mais operações da Lava Jato, mais notícias. Quanto mais notícias, mais as pessoas foram achando que o país piorava em relação à corrupção. 

Qual remédio foi vendido para aplacar essa percepção crescente de que somos um país de ladrões? Mais Lava Jato. [E, por favor, isso nada tem a ver com o combate à corrupção em si, mas com os métodos e a transformação da função pública em circo.]

No dia seguinte à divulgação da pesquisa, Sergio Moro disse:
"Indicadores da Transparência Internacional mostram como é difícil mudar a percepção sobre corrupção. Nota no Brasil não melhorou nos últimos anos apesar dos avanços da Lava Jato e de 2019.Isso significa que precisamos fazer muito mais, inclusive no Congresso".
Viram o remédio do Sergio? Mais Lava Jato, e os abusos de poder que ainda finge não terem existido.
Essa panaceia – como se os remédios anti-corrupção fossem sozinhos salvar o Brasil – criou a armadilha perfeita para destruir a confiança em toda a classe política e se buscar a saída fora dela: 
— MPF e Judiciário com seu lavajatismo;
— aventureiros como Bolsonaro; e
— (agora) Huck com sua anti-política.

Estamos bolsonarotemáticos, mas quem é o grande candidato da extrema-direita hoje? Ele, Moro. 

Talvez Bolsonaro já tenha se convencido que sua única chance é tirar Moro do palco imediatamente, antes que seja engolido. 

Isso aqui, p. ex., deu no Jornal Nacional nesta semana. Nem notícia é. Com Moro fora do governo, ele perde seu principal microfone.

Seguirá a ter repercussão, mas dependerá muito mais de besteiras ditas no Twitter do que de coletivas oficiais cheias de repórteres. O séquito de jornalistas que passam o dia atrás da agenda do ministro minguará, e serão três anos sem esse enorme palanque que é o Ministério da Justiça. Um longo caminho até 2022.

A história mostra que não existem ministros indemissíveis. Ouça, Bolsonaro, ouça. (por Leandro Demori) 
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celso lungaretti
VAMOS PASSAR RECIBO DE IMPOTÊNCIA?!
Foi chocante receber neste sábado (1º) um e-mail do Intercept Brasil, no qual seu editor-executivo, Leandro Demori, lança um alerta dramático ao Bozo ("Ouça, Bolsonaro, ouça"), como se o fã incondicional do Donald Trump e do Brilhante Ustra merecesse ser salvo das insídias de outro fascista tão execrável quanto ele, o Sergio Moro... 

A coisa vem de longe. Reinaldo Azevedo, o iniciador dessa tendência, há muito vem açulando o Bozo contra o Moro (vide este artigo, p. ex.), parecendo seriamente preocupado com a possibilidade de o marreco prevalecer sobre o palhaço.

Lula foi na mesma direção, empilhando elogios ao Bozo numa entrevista tão desastrosa que deu ao jornal da ditabranda uma oportunidade de ouro para desmoralizar o dono do PT (vide aqui), sem o mínimo receio de receber resposta à altura, pois não existia nenhuma capaz de salvar a situação.

Mas, qual deve ser a posição da esquerda face à luta pelo trono cujas escaramuças já estão em curso, embora a eleição de outubro de 2022 ainda vá demorar uma eternidade? 
Quem se prostra abjetamente à institucionalidade democrático-burguesa (embora o impeachment da Dilma tenha atestado de forma cabal que se trata de um jogo de cartas marcadas e que o poder econômico vira a mesa como e quando bem entende) faz intrigas para enfraquecer a ambos, atirando-os um contra o outro, na esperança de derrotá-los nas urnas e governar durante mais um tempinho, até o pé na bunda seguinte.

Ou seja, desiste de quaisquer tentativas de abreviar o circo de horrores que nos está sendo imposto e já começa também a apostar todas as suas fichas na sucessão.

Na contramão dessa corrente que mais parece inspirada em Maquiavel do que em Marx, o blog Náufrago da Utopia continuará defendendo o renascimento da esquerda nas ruas e o firme engajamento nas lutas sociais, acumulando forças para, nos próximos confrontos com a direita, não ser derrotada vergonhosamente como o foi em 2016 e 2018. 

A credibilidade da esquerda só será resgatada com posicionamentos consistentes e corajosos, não por meio dessas matreirices para, como se dizia antigamente, gozar com a pica alheia

Se for só isso que temos a oferecer neste momento trágico da vida brasileira, o homem comum concluirá que somos não só uns pobres coitados, como também... impotentes! (por Celso Lungaretti)

4 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, caro CL

Percebe-se cada vez mais que se trata de uma trama muito bem urdida há muito tempo pela direita, generais entreguistas, com a ajuda dos istêits e do capital financeiro transnacional.

É um jogo de ganha-ganha, em que o capital financeiro sempre sairá vencedor.

Ora, a quem interessa um (des)governo do bozo ou do marreco ? Aos assalariados jamais, ainda que a maioria não tenha essa consciência.

A verdadeira esquerda brasileira precisa urgente de coragem para perseguir um projeto emancipador...

celsolungaretti disse...

Eu já não tenho nenhuma ilusão a respeito dessa esquerda que está aí. Minha esperança é que as novas gerações nos tragam de volta a combatividade perdida.

Daí a minha indignação com o que o PT fez em 2013. Precisávamos demais daquela moçada aguerrida, mas os petistas deixaram a direita arrebentar os manifestantes.



Anônimo disse...

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Celso,
A essa rivalidade entre Bolsonaro e Moro seguem-se as manobras políticas dos adversários usando todas as mumunhas a patranhas típicas da política, como você bem aponta.
Delfim Neto, em entrevista a Band News, disse que todos os adversários políticos do governo não querem que Bolsonaro dê certo e, tudo farão para atrapalhar o governo, disfarçando isso sob o nome de "grandes projetos em sintonia com os melhores objetivos de governança". (algo do gênero)
Assim, a meu ver, este tal Leandro é player neste jogo o que me faz admirar de a relevância dada a ele, da mesma maneira como fez ao citar os demais que também estão a fomentar tal discórdia no centro do poder.
A minha maneira, já saquei isto quando o Moro foi para cima do Flávio, com PF e tudo, logo que estes boatos se explicitaram.
No "poder" político manda quem tem os dossiês.
Advinha quem os tem?
Essa situação não é nova e nem característica deste governo. Tanto não é que li uma citação do livro Escritos Sobre Política, de Nietzsche.
"O demônio do poder
"Não é a necessidade, nem o desejo - não, é o amor pelo poder que é o demônio dos homens (...) [o qual] permanece sempre a espreita e reclama satisfação. Tudo pode ser tirado deles, contanto que se satisfaça esse demônio: então, com isso, eles ficam quase felizes - tão felizes quanto podem ser os homens e os demônios".
O cara já escrevia isto no século XIX.
E, você sabe, a sua pretendida"nova esquerda" também irá trilhar este caminho, posto que decerto enlouquecerá e se desagregará nas lutas intestinas, quando de sua próxima assunção ao poder.
Nada de novo.
Sabendo desta fatalidade, acredito, que devemos ser menos severos uns com os outros e utilizarmos o conhecimento para adotarmos atitudes honestas que se beneficiem da inconstância resultante da eterna luta pelo poder.
E, creio, o homem comum sabe fazer isso melhor que todos os guindados a postos de mando e poderio. As enésimas decepções com a turma do poder é quem fez crescer a percepção de eles são corruptos e não a propaganda, pois, mesmo quem se beneficia dos conchavos, tem nojo da situação.
Daí a incapacidade inata daquele povo de ter um projeto virtuoso ou algo além do consumismo e exibicionismo de pobres diabos satisfazendo-se com seus pequenos e transitórios nacos de poder.
Vidas viciosas e amedrontadas, com a sua consequente absoluta nulidade.
Mas, tudo se aproveita, pois, no delírio absconso e banal, algo criam de bom, mesmo que inconscientemente.
Aproveitemos o que de bom já foi criado e persiste.
*
"Viver é como comer um peixe. Pega-se a carne e joga-se fora as espinhas".
*



celsolungaretti disse...

Quanto ao Bozo e ao Moro, quero mais é que ambos se arrebentem. Estão, sim, disputando o poder, mas não vejo vantagem nenhuma para nós com a vitória de um ou do outro nessa luta interna. São apenas as duas representações mais emblemáticas do fascismo tupiniquim.

Tenho, contudo, enorme preocupação com o tradicional oportunismo da nossa esquerda, que parece tendente a fazer algum tipo de composição com o Bozo para barrar o Moro. Se isto acontecer, é melhor fechar o boteco e irmos para alguma ilha deserta. Seria a desmoralização final.

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