Uma conjunção de erros terríveis, acasos funestos e manipulações tecnológicas que pegaram a Justiça de surpresa (possibilitando que eleitorados fossem submetidos a verdadeiras lavagens cerebrais), fez com que uma tempestade perfeita desabasse sobre Inglaterra, Estados Unidos e Brasil.
Como consequência, estes três países passam por seus piores momentos nas décadas recentes, com repercussões em escala planetária.
No Brasil, um presidente com QI negativo e alma de vereador obstina-se em cumprir suas promessas aos apoiadores de campanha, que foram os piores possíveis: trogloditas do agronegócio, fabricantes de armas, empresários cujo universo mental é ainda o do capitalismo selvagem, fanáticos religiosos que querem anular toda a trajetória civilizatória a partir do iluminismo, ultradireitistas alucinados, racistas, homófobos, misóginos e outros refugos da humanidade.
Quem mais apoiaria Jair Bolsonaro? E que outro candidato seria tão tacanho a ponto de acreditar que os compromissos assumidos com essa ralé repulsiva e ignóbil precisariam ser honrados?!
Então, como a única ideologia que ele conhece é a das cartilhas do anticomunismo tosco para arrancar grana de perfeitos otários (um conjunto de garranchos impressos, cujo autor é um astrólogo picareta que faz qualquer coisa para alavancar seus negócios), Bolsonaro beija o chão em que Donald Trump pisa.
Ao mesmo tempo e incorrendo em flagrante contradição, ele insufla um nacionalismo fake sempre que as nações civilizadas cobram do Brasil que pare de dar sinal verde para a destruição da Amazônia.
As ridicularias do populismo de direita ameaçam ressuscitar as do populismo de esquerda, começando por Lula, é claro. Ele acaba de dar entrevista à RFI, na qual não poderia faltar o brado retumbante de A Amazônia é nossa! (ambos os populismos concordam em ser atrasados, mantendo uma visão de mundo que caducou no século passado). Eis o mais do mesmo do Lula:
"A Amazônia é propriedade do Brasil. Ela faz parte do patrimônio brasileiro. É o Brasil quem tem que cuidar dela.
Isso não quer dizer que é preciso ser ignorante, que a ajuda internacional não é importante. Mas a Amazônia não pode ser um santuário da humanidade.
Lembro que 20 milhões de pessoas vivem lá, precisam comer e trabalhar. Devemos também cuidar deles, levando em consideração a preservação do meio ambiente".
Não lhe parece ocorrer que 20 milhões de pessoas só comem e trabalham enquanto estiverem vivas, sendo tal condição exatamente o que está em jogo quando o capitalismo destrói de forma tão acelerada os recursos indispensáveis para a sobrevivência da espécie humana.
A internacionalização da Amazônia até que seria justificável se o mundo inteiro passasse a colocar como sua prioridade máxima deter a atual marcha da insensatez ecológica. Mas, enquanto não se eliminarem causas muito mais graves do aquecimento global e das alterações climáticas, como o uso de combustíveis fósseis para o transporte individual, a coisa soa farsesca.
Evidentemente, é muito mais fácil para os poderosos imporem sua vontade ao Brasil do que às indústrias automobilística e do petróleo, mas a hora das meias medidas já passou faz tempo. Ou nos compenetramos de que os encaminhamentos têm de ser encarados desde já como emergenciais, ou esperamos as grandes catástrofes começarem a acontecer para, quem sabe então, começarmos a agir de verdade, torcendo para que não seja tarde demais para evitarmos o pior.
E por que pensarmos em respostas definitivas a problemas transitórios? Afinal, o Brasil só deixou de ser um gestor pelo menos aceitável da Amazônia no presente ano, quando um circo de horrores tomou o lugar do governo federal.
Os mesmos donos do PIB que colocaram Bolsonaro na Presidência da República podem retirá-lo quando bem entenderem, tão logo constatem que sob ele a economia não reaquecerá de jeito nenhum, pois, com reformas ou sem reformas, a insegurança permanente que ele inspira é péssima para os negócios, afugentando novos investimentos e, portanto, prolongando a estagnação.
Meu prognóstico é que tal decisão seja tomada nas reuniões de novembro/dezembro em que as grandes empresas fazem um balanço de seus resultados do ano que finda e definem metas para o seguinte. Se concordarem que o descarte de Bolsonaro é necessário, iniciarão 2020 com a perspectiva de encaminharem sua remoção. E certamente a conseguirão, mais facilmente até do que no caso da Dilma, pois cada vez mais brasileiros se dão conta de que ele não passa de um desequilibrado crônico.
Então, o real problema imediato para as nações civilizadas é evitarem que o governo Bolsonaro, enquanto durar, produza mais estragos na Amazônia. Certamente encontrarão soluções menos bombásticas para atingirem tal objetivo, pois país tão fragilizado economicamente quanto o Brasil não tem como resistir às pressões que eles podem desencadear.
E muita coisa mudará quando o retumbante fracasso econômico de Donald Trump fizer com que ele seja expelido na eleição do ano que vem e quando Bolsonaro vazar, provavelmente também no ano que vem. Quem viver, verá.
Quanto à desnorteada esquerda brasileira, o que não pode é reassumir a cegueira nacionalista em pleno século 21. Tem de finalmente se compenetrar de que tudo mudou quando foi ultrapassada a barreira da necessidade.
Passamos milênios disputando a ferro e fogo aquilo que era escasso e insuficiente para todos. Agora, dispomos de conhecimentos científicos e meios tecnológicos para garantir a cada ser humano o suficiente para uma existência digna, desde que os aproveitemos racionalmente e levando em conta a necessidade de preservarmos nosso habitat e não esgotarmos os recursos que nos são indispensáveis.
Então, a postura com relação aos outros povos têm de ser drasticamente alterada: não podemos mais encará-los como adversários na disputa por bens escassos, mas sim como parceiros na construção de um mundo em que se garanta o suficiente para a felicidade de todos.
Seria ótimo se conseguíssemos nos imbuir desta nova consciência antes de estarmos com a corda no pescoço, precisando unirmo-nos para nossa salvação pura e simples.
E é à esquerda que caberia disseminar a nova consciência, ao invés de continuar "sempre, sempre, matando amanhã o velhote inimigo que morreu ontem", como disse Caetano Veloso num desabafo inspirado de meio século atrás. (por Celso Lungaretti)
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