vinícius torres freire
BOLSONARO EXPÕE A IMUNDÍCIE DE SUAS
ENTRANHAS E DE SEU PROJETO ELEITORAL
O espetáculo, a massificação da mentira e a propaganda da morte são atitudes típicas de políticos do espectro fascista. Jair Bolsonaro não é lá diferente.
Foi assim a virada de ano da extrema-direita brasileirinha, ainda mais repugnante na sua decomposição avançada, mas até por isso mesmo capaz de causar mais pestes.
O país se degrada, mais gente padece de fome, doença ou desgraças como as enchentes da Bahia. A administração pública se desorganiza mais, ora em revolta contra caprichos sectários desse tipo que ocupa a cadeira de presidente, que quer agradar polícias a fim de manter consigo falanges armadas.
Há operações-padrão de auditores da Receita, o que ameaça p. ex. a importação de combustíveis; há ameaça de greve geral de servidores.
A produção da indústria encolheu pelo sexto mês seguido, o que não se via desde a recessão de 2015.
Azares do tempo podem fazer com que a safra de grãos seja menor que a do ano passado –se esperava recorde, um anteparo mínimo para a recessão que começa a aparecer no horizonte. Mas não há governo, tentativa de reação ou remédio. Ao contrário.
O capitão da morte vadiava, indiferente a sofrimentos e desordens, rindo com sua catadura selvagem e sua boca espumante. Fazia o show do tiozão grosseiro desfilando com brinquedos caros e barulhentos.
Era parte da palhaçada da autenticidade, show que em breve voltaria quase à indecência teratológica dos tempos das cirurgias, durante a internação indigesta do tapado.
Uma parte do espetáculo de Bolsonaro é a exposição de suas entranhas morais e quase literalmente físicas: intimidades com a mulher com quem se casou, o corpo nu cheio de tubos, as cicatrizes e, agora, sua indigestão monstruosa.
"Foi domingo. Eu não almoço, eu engulo. Foi uma peixada, tinha uns camarõezinhos também. Eu mastiguei o peixe e engoli o camarão", disse, ao explicar sua mais recente internação.
A indecência, a brutalidade e a feiura são parte da estética política do bolsonarismo. Entender porque o despudor ainda comove suas falanges e um tanto mais do eleitorado é um problema, mas desde a irrupção de Bolsonaro tal exposição faz algum efeito.
A exibição do desmazelo pessoal, corporal e social, sua boca-suja, seu linguajar iletrado e cafajeste, o chinelão, o leite condensado com migalhas espalhadas pela mesa, tudo faz parte da fantasmagoria da autenticidade.
O espetáculo vai além, claro. Há motociatas e comícios golpistas, assim como a nomeação de inimigos da pátria, do cardápio tradicional do espectro fascista.
Há o heroísmo de fancaria de quem diz lutar contra o sistema e a difusão de mentiras conspiratórias que tempera esse brutesco.
Há o farisaísmo, as blasfêmias e o uso do nome de Deus em vão, o que espantosamente não abala muita gente religiosa.
Há a propaganda da morte, a crítica aos tarados por vacina e a indiferença quanto à morte de crianças.
Tudo isso é tolerado, como se o salvador da pátria e da família tivesse de vir travestido de anticristão (o que também é o caso de Donald Trump).
E daí? Esse é o monstro que, daqui a outubro, tentará obter votos para a reeleição ou algum modo de sobreviver politicamente ou fora da cadeia. Esses são seus recursos.
Bolsonaro não tem nada que qualquer governante no limite do universo da razão e da decência pudesse apresentar como realização.
Seus instrumentos são a ameaça de morte, baderna armada, golpe e tirania, o grotesco nauseabundo e a apelação aos sentimentos mais baixos e desumanamente lunáticos – o tipo é indiferente à morte de crianças, ressalte-se.
Foi assim o Ano Novo de Bolsonaro. Por que acreditar que o ano eleitoral será diferente? O que mais lhe resta além da fuga? A desordem imunda. (por Vinícius Torres Freire)
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