quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

A COVID-19 COMPROVOU O QUE TANTOS NÃO QUERIAM ENXERGAR: A INSENSIBILIDADE DE NOSSO MODO DE RELAÇÃO SOCIAL – 2

(continuação deste post)
O pesadelo que Manaus viveu no 2º trimestre de 2020 não merecia reprise, mas, infelizmente, a teve...
Como podemos nos livrar revolucionariamente do comando abstrato da forma-sujeito desumana, a qual, justamente por se tratar de uma lógica social funcional abstrata (ainda que o abstrato que se torne real nas mercadorias), é muito mais difícil de ser identificada e compreendida, apesar de ter os seus agentes pessoais e beneficiários personificados num acinte entre luxo e pobreza. 

Estes, aliás, mais parecem apenas cumprir com eficiência (destrutiva e autodestrutiva), tal qual Pilatos no credo, as regras de um jogo que não foi por eles estabelecido.  

Fazemos esta introdução para demonstrar, numa conexão de causa e efeito, quão genocida é, num momento de pandemia, a relação social sob a forma-mercadoria, ou a forma-sujeito da modernidade, que justamente por ser abstrata (ainda que beneficie os seus gestores proeminentes), os olhos de muitos aparenta ser algo natural, tal qual um evento de força maior, inimputável a quem quer que seja. 
...até porque de nada serviram as lições da primeira onda da covid...
Não! O genocídio do coronavírus tem culpado identificável, ainda que abstrato: uma forma-sujeito própria à relação abstrata do capital, que encontra nos governantes estatais (de todos os matizes ideológicos), bem como nos administradores da acumulação pessoal do capital, o executores terrenos da crise sanitária.

Os 50 milhões de mortes pela epidemia da gripe espanhola, quando a população mundial era de cerca de 2 bilhões, teve como condottieri a 1ª Guerra Mundial, que a propagou pelo mundo inteiro; no caso da covid-19, a condottieri é a completa submissão social à lógica do capital, que igualmente impulsiona as pessoas a um convívio social suicida.

A suicida propagação infecciosa do coronavírus ocorre:
— graças à incapacidade social de promoção de um isolamento sustentável (ainda que muito chato), não proibido pelos governantes súditos do capital, ou permitido com restrições (eles precisam dos impostos da vida mercantil como o Drácula de sangue); e
— pela dificuldade da produção imediata das caríssimas vacinas (os laboratórios é que lucram com o terror coletivo e aparecem como salvadores, sem homenagens aos cientistas que as desenvolvem).

Demonstra, também e de forma incisiva, o quão genocida é a relação social sob a forma-mercadoria, ou forma-sujeito, o comando fetichista que nos faz segui-lo como se fôssemos guiados por sua hipnótica flauta mágica.
...sendo o presidente da República e o governador do Estado isso aí...

No século 21, em plena era tecnológica desenvolvida na qual os seres humanos estão sendo substituídos pelos robôs e uma parafernália de instrumentos eletrônicos, estamos a assistir a morte de mais de 2 milhões de pessoas em curva ascendente, sem que consigamos estabelecer relações sociais fraternas e solidárias, capazes de evitar tal tragédia. 

O que dizer da horrível agonia das pessoas que morreram por falta do oxigênio em Manaus? Existem palavras capazes de a expressarem? 

O presidente da República e seu tão ridículo quanto genocida negacionismo; o governador bolsonarista do Manaus; o dublê de ministro da Saúde; os parlamentares, por omitirem-se de sua missão de fiscalizar o Executivo, e alguns comerciantes oportunistas são os responsáveis mais diretos por essa ignomínia administrativa e mercantil e por essa desumanidade estarrecedora: são eles as espécies identificáveis e personalizadas da gestão do nosso agonizante capitalismo. 

Não há como isentar-se de culpa um sistema de relação social que se demonstra indiferente ao drama humano e que faz da necessidade de consumo de mercadorias apenas o instrumento utilitário de sua própria existência fantasmagórica.  

A covid-19 comprovou o que tantos não queriam enxergar: a insensibilidade do nosso modo de relação social, e talvez seja este o único aspecto contributivo de sua existência trágica para a humanidade, pois, afinal, reza o dito popular, não há mal que não traga algum benefício.
Seremos capazes de extrair desse exemplo tenebroso, que se configura como a maior tragédia humanitária do pós-guerra e que caminha para números de extermínio macabro, as lições que podem e devem ser dele derivadas???

Vivemos a conjunção de quatro fatores que nos facilitam a solução de um impasse histórico: 
— o desemprego estrutural (a tecnologia está matando a galinha dos ovos de ouro capitalista); 
— o aquecimento global resultante do atual comportamento social ecocida; 
— a falência do Estado cobrador de impostos; e,
— agora, uma crise sanitária monstruosa, que é impulsionada pela insensatez e irracionalidade de uma sociedade inconsciente de si mesma. 

Mas haveremos de superar a todos estes dramas humanos, pois, como disse Marx, nenhuma sociedade se propõe problemas que ela mesma não possa resolver. (por Dalton Rosado)

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