quarta-feira, 13 de maio de 2020

JOGO JOGADO: O BOLSONARO DESPENCA LADEIRA ABAIXO, MARCHANDO PARA O FIM

Às 9h51 daquele domingo (17/04/2016) em que a Câmara Federal discutiria o impedimento de Dilma Rousseff, quando era enorme a expectativa sobre a obtenção ou não do aval de dois terços dos deputados para a abertura do processo de impeachment, eu já colocava no ar um post dando tudo como decidido e avaliando perspectivas futuras.
"O fim de Dilma se aproxima; ainda hoje deverá se tornar presidente agônica. E ela provavelmente deixará para trás três principais legados:
— a pior recessão brasileira de todos os tempos;
— o pior estelionato eleitoral numa eleição presidencial em todos os tempos [eu me referia à Dilma ter feito campanha presidencial jurando de pés juntos que bloquearia as execradas reformas exigidas pelos poderosos, mas ter optado pelo neoliberal Joaquim Levy como seu ministro da Economia, dando-lhe carta branca para jogar na lixeira a promessa dela]; e
— Michel Temer.
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As duas primeiras heranças malditas são incontroversas. Só não vê quem não quer. 
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A terceira ela ainda poderá evitar, se tiver a grandeza de renunciar logo após a Câmara Federal aprovar o impeachment, deixando o PT com as mãos livres para empunhar imediatamente a bandeira de uma nova eleição".
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Não sou astrólogo, cartomante, quiromante ou necromante. Morreria de vergonha se alguém me comparasse com o Olavo de Carvalho e demais picaretas que se fingem ou já fingiram de adivinhos. Todas as previsões que eu faço se baseiam em meras deduções.
Don Corleone e Don Corona: a famiglia em primeiro lugar

P. ex., por uma infinidade de notícias e declarações daquela semana, eu percebia que haveria votos suficientes para o início do impeachment.

E eram favas contadas que, transposta a berreira mais difícil, os políticos profissionais (cuja cabeça eu sabia muito bem como funcionava por haver trabalhado durante três anos e meio na Imprensa do governo paulista) tratariam de cair nas boas graças do presidente vindouro, de forma que os 50% mais um voto exigidos nas etapas posteriores jamais deixariam de ser atingidos. 

Então, aquele jus sperniandi subsequente (que acabaria durando quatro meses e meio) se prenunciava um desastroso desperdício de um tempo que seria bem melhor utilizado se a esquerda iniciasse o contra-ataque ao invés de ficar sangrando em público e permitindo que o lado contrário continuasse acumulando forças. 

Com isto perdemos de vez as ruas, pavimentando o caminho para a escalada do baixo clero ao poder. 

As mesmas deduções me levam a afirmar agora: Bolsonaro se tornou nesta 3º feira (12) um ex-presidente se arrastando como zumbi pelo Palácio do Planalto. A contagem regressiva para seu afastamento já começou e avança com surpreendente rapidez. Ele não tem mais salvação possível.

O tiro de misericórdia foi dado pela Globo, que novamente se mostrou exímia manipuladora da opinião pública. 
Assim, o Jornal Nacional, além de pegar o Bolsonaro na mentira várias vezes, martelou longamente seu melhor trunfo: a comprovação de que o presidente move céus e terras, tendo derrubado um dos principais ministros e importantes autoridades policiais, apenas para livrar a cara dos filhos.

Por receio das investigações em curso na Polícia Federal, que se encaminhavam inevitavelmente para a abertura de processos criminais contra eles, Bolsonaro foi se complicando cada vez mais. 

O golpe de mestre parte de uma percepção que a Globo (e poucos mais) tem, de que o cidadão comum pode identificar-se intensamente com o sucesso político de outro homem comum, tão pouco especial quanto ele próprio, mas a relação de amor se converte em ódio se for habilmente insuflada sua inveja.

[O mesmo ela fez com o Lula. Lembram-se da interminável exibição de imagens do triplex e do sítio? O povão, que tanto se orgulhava do filho do Brasil, de repente passou a nutrir enorme inveja do corrupto que estaria desfrutando de tais luxos, a ele inacessíveis.]/ 

Convivemos com uma polícia violenta e frequentemente arbitrária, temida pelo homem das ruas; e o dito cujo não tem como afastar quaisquer chefões que ameacem foder sua prole (como diria o Bolsonaro, com a elegância habitual...). O fato de o presidente poder fazê-lo com tamanho impudor o leva a perceber claramente que o Bolsonaro não é igual a ele, e sim mais igual

Foi um golpe mortal num governo que já:
— deixara de beneficiar-se do antipetismo, pois já lá se vão quatro anos que o PT foi apeado do poder e desde então só tem perdido relevância, a ponto de estar praticamente desaparecido do noticiário durante a gravíssima crise atual;
— já viu reduzida a cacos sua promessa de retomada do crescimento econômico, substituída pela perspectiva de, em futuro bem próximo, estarmos enfrentando a pior depressão econômica de nossa História;
— perdera a bandeira do combate à corrupção para Sergio Moro e seus lavajatistas, passando a representar exatamente o contrário a partir da compra do apoio fisiológico do desmoralizadíssimo centrão, numa desesperada tentativa de prevenir-se contra o impeachment;
— descartara o ministro da Saúde no qual o povo confiava para salvá-lo de uma terrível epidemia e o ministro da Justiça que antes erigia em herói da pátria; e
— agora passa a ser percebido como disposto a tudo para defender os interesses particulares da família real.  

Pior para Bolsonaro, impossível! E ele a cada dia acrescenta mais motivos para rejeição, como exibir-se em academias de tiros ou passeando em jet ski, bem como planejar churrascos espalhadores de vírus e de maus exemplos, enquanto brasileiros morrem como moscas numa emergência sanitária para a qual ele demonstra ostensivamente não estar dando a mínima. 

O resumo da ópera é que Bolsonaro tomou definitivamente o rumo do fundo do poço. 
(por Celso Lungaretti)

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