quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

BADERNA MILITAR NO CEARÁ DEVE NOS SERVIR DE ADVERTÊNCIA CONTRA O CAOS

O velho sociólogo está certo: há um vácuo de poder que leva cada força política e social a magnificar seus interesses específicos, mandando às favas os interesses comuns da nação e do povo brasileiro. 

A baderna militar no Ceará foi o primeiro alerta de que o trem pode descarrilar de vez. Por aí só chegaremos ao caos, com grande chance de repetirmos as experiências mais funestas do século passado, como o nazismo.

Então, para começarmos a sair do atoleiro que nos traga, precisamos reentronizar o pensamento crítico, em substituição às narrativas convenientes, tendenciosas e unilaterais que pululam nesta era de polarização fanática, sob a égide da internet.

Fato é que o capitalismo flagrantemente perdeu pujança desde a crise imobiliária estadunidense do final da década passada. 

Seus defensores testam em vão fórmulas  e mais fórmulas para restituir-lhe o dinamismo, enquanto seus opositores alegam que se trata da culminância de um processo de agravamento de suas contradições intrínsecas que vem desde o século retrasado (lembram-se das crises cíclicas de superprodução que outrora ocorriam mais ou menos a cada 10 anos?).

Eu tenho, tu tens, quase todos temos um ponto de vista formado a tal respeito. Mas, apostar todas as fichas na corrente mais extremada do capitalismo, em detrimento até dos mais óbvios interesses nacionais (como vem fazendo a dupla Guedes-Bolsonaro), é coisa de jogador que está perdendo as calças no cassino e insiste em renovar as mesmíssimas apostas fracassadas até o mais amargo fim.

Quanto à milicianização da Presidência da República, está colocando todos contra todos em disputas insanas e canibalescas, de forma que cada força se vê impelida a usar todos os trunfos de que dispõe para alcançar seus objetivos: desde as mais sórdidas campanhas de difamação nas redes sociais até balas disparadas contra vereadoras ou senadores. Vale tudo. Perdem todos.

Então, antes que a governança esfarele de vez e voltemos à lei da selva, temos de pensar em como ainda se pode deter a descida aos infernos. 

Não vejo outra possibilidade que não seja a formação de uma coalizão entre a esquerda, o centro e a direita moderada que:
—  restabeleça, pelo menos, o respeito aos direitos individuais e coletivos constantes na Constituição que está aí e que, ultimamente, vêm sendo rudemente atropelados; e 
— defina, pragmaticamente, medidas econômicas na linha da salvação nacional, já que, num país pobre como o nosso, o crescimento insuficiente ou negativo do PIB que vem desde 2013 (média irrisória de 0,9% ao ano) é simplesmente insuportável. Mata gente. 
Como nas diretas-já, temos de reaprender a unirmo-nos contra um inimigo maior
Por último, um lembrete à esquerda: ignorar a correlação de forças sempre foi fatal para nós. E, neste momento, ela nos é das mais adversas. 

Passamos muito tempo sem fazer a lição de casa direito e agora somos obrigados a tirar da cabeça quaisquer veleidades de confronto direto com as forças da intolerância e do atraso. Inevitavelmente perderíamos, e as consequências seriam trágicas. (por Celso Lungaretti)

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