domingo, 17 de novembro de 2019

SE DEPENDER DE LULA E DO PT, BOLSONARO CONTINUARÁ DESTRUINDO O BRASIL POR MAIS 3 ANOS. SOBRARÁ ALGUMA COISA?

demétrio magnoli
DECIFRANDO A MENSAGEM DO LULA
As palavras radicalismo e polarização atravessaram o ar, logo depois do discurso de Lula em São Bernardo do Campo (SP). Os analistas, em modo automático, fixaram-se na superfície retórica, ignorando as três curtas frases que formam o núcleo da mensagem do líder petista. 

De fato, não há radicalismo, muito pelo contrário —e a polarização é uma oferenda que o centro político deposita nos altares do atual e do ex-presidente. 
Paulo Guedes, acusou Lula, seria um "demolidor de sonhos" e um "destruidor de empregos e empresas públicas brasileiras". Novidade nenhuma.

A rejeição total da agenda de reformas reflete menos uma posição ideológica e mais a necessidade de proteger o espólio lulopetista. O PT não está autorizado a revisitar o populismo econômico de seu segundo mandato e do consulado dilmista.

O líder frustra os intelectuais sensatos que giram na órbita petista, proibindo aquilo que, na linguagem política italiana, chama-se aggiornamento: a reavaliação crítica do passado, a atualização de uma orientação estratégica. 

O veto serve ao próprio Lula, "um viciado em si mesmo" (Millôr Fernandes), pois prende seu partido e as legendas auxiliares (PSOL, PCdoB) à pesada âncora do lulismo. 

Serve, ainda, a Bolsonaro, oferecendo-lhe argumentos substantivos na sua perene campanha contra a esquerda. 
Lula vê no Bozo o candidato ideal para ser derrotado na próxima eleição presidencial...
Mas faz mal ao país, que precisa de uma esquerda moderna, e ao PT, que fica marcado a ferro como um partido incapaz de aprender com seus erros.

“Governar para o povo brasileiro, não para os milicianos do Rio de Janeiro”. No seu disparo mais contundente, Lula iluminou a suspeita crucial que paira sobre o clã presidencial. Radicalismo? Só se resolvermos, como nação, aceitar a hipótese de um governo associado ao crime organizado. 

A palavra milicianos circula nas esquinas —e com bons motivos. A sua ausência quase completa no discurso dos líderes e partidos do centro político é um dos sintomas da renúncia deles a fazer oposição a Bolsonaro. 
...e, como sempre, é só sua eleição que lhe importa, mas...

João Doria parece almejar algo como um bolsonarismo sem Bolsonaro. Luciano Huck esquiva-se, tanto quanto possível, de polarizar com o presidente.

O protagonismo oposicionista de Lula emerge da abdicação dos demais atores. Obviamente, como tantos registraram, a polarização rende frutos aos dois polos, estreitando os horizontes do debate público.

A vadia preferência pelo óbvio obscurece o cerne da mensagem de Lula. “Tem gente que fala que precisa derrubar o Bolsonaro, tem gente que fala em impeachment. Veja, esse cidadão foi eleito. Democraticamente nós aceitamos o resultado da eleição. Esse cara tem um mandato de quatro anos.” 

O suposto radical, o desvairado incendiário, está erguendo uma muralha diante do PT e das legendas auxiliares. De fato, interdita, para sempre, ao menos entre os seus, o recurso ao impeachment. Bolsonaro esqueceu de agradecê-lo.

Lula nunca recuou face à contradição lógica, e não o faz agora. Se ficar provada a aliança entre o clã presidencial e as milícias, o remédio democrático atende pelo nome de impeachment. Mas aqui, como na economia, o líder petista está preso à armadilha da narrativa que formulou para preservar a aura do lulismo nos domínios da esquerda.
...e se a explosão social chegar antes?

O impeachment corta o mandato de quem perdeu as condições políticas para governar. No processo, o Congresso —não um partido singular— decide se uma violação da regra do jogo constitui crime de responsabilidade. 

Ao qualificar como golpe o impeachment de Dilma, Lula e o PT praticamente descartaram a legitimidade da instituição do impeachment. 

O tabu tem consequências: do lulopetismo não partirá, sob nenhuma circunstância, uma iniciativa de interrupção do mandato de Bolsonaro.

Que ninguém se preocupe. Lula tem os olhos fixados nas urnas de 2020 e 2022 —e sabe que sua melhor chance é aparecer como única oposição real ao governo. (por Demétrio Magnoli)

2 comentários:

marcosomag disse...

Lula é muito mais esperto do que o professor de geografia que bem conheço de cursinho pré-vestibular. E você, parece ter aderido de forma acrítica a um paladino da direita. O que Lula fez foi "blindar" seu discurso da pecha de "golpista". Diz não querer o "impeachment" do miliciano. Mas, pede mobilização do povo brasileiro como acontece atualmente no Chile. Ele sabe que, com a polarização só tem a ganhar pois o "povão" na rua põe a direita para correr. O "povão" na rua faz a tropa recuar. Não é à toa que a imprensa corporativa deplora a polarização e tenta uma "terceira via". O nome, que vem sendo preparado com exposição midiática muito cuidadosa e muito dinheiro da banca é Luciano Huck. O fracasso monumental do neoliberalismo na América Latina está jogando o povo em uma situação pré-revolucionária. No Chile e Bolívia faltam os meios e as lideranças pois o PS e o PC chilenos foram destroçados por Pinochet; e Morales é uma liderança vacilante. Mas, no Brasil há liderança popular de Lula, queira você admitir ou não. Ele mobiliza as massas e elas vão ultrapassa-lo caso não saiba lidar com elas quando a polarização levar ao confronto.

celsolungaretti disse...

Marcos,

até quando terei de repetir que publico neste blog textos inteligentes, que nos ajudam a refletir sobre a realidade, sem necessariamente concordar com eles em tudo?!

Mas, o Magnoli, do qual discordo em outros assuntos, está certíssimo quanto a Lula: ele não passa de um populista que desde a década de 1980 faz tudo para desideologizar o PT e extirpar o pouco que ele pudesse ter de revolucionário.

Escreverei sobre isto mais tarde, contudo antecipo: a minha análise é que o Lula foi libertado para desempenhar o papel de oposição consentida e domesticada, na verdade força auxiliar do capitalismo.

É uma reprise do velho plano dos milicos, que impuseram o bipartidarismo para que a Arena desempenhasse o papel de partido do "sim, senhor" e o MDB o de partido do "sim".

O MDB não se prostrou tanto assim, tinha gente lá dentro com vergonha na cara. Mas o Lula, tenho certeza, vai se prostrar.

Suas declarações sobre a autocrítica e sobre o respeito ao mandato do Bozo são indícios seguros de que ele está todo dominado.

Vai ser o palhaço da esquerda, assim como o Bozo é o palhaço da direita. Os dois distraindo a atenção da plateia enquanto os Guedensteins fabricam seus monstros.

A esquerda tem de renascer nas ruas. Querer que isto aconteça só nas urnas de 2022 é piada de mau gosto.

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