domingo, 17 de novembro de 2019

ELES SÃO TODOS IGUAIS! (1ª parte)

Assim como na bela canção de Chico Buarque, Flor da idade, as relações entre os governantes também são um tanto incompreensíveis para quem as observa de fora:
— Vladimir Putin defende Nicolás Maduro, da Venezuela, 
— que é odiado por Donald Trump, 
— que simpatiza com Recep Tayyip Erdogan, da Turquia,
— que recebe apoio de Vladimir Putin, da Rússia,
— que ajudou a eleger Trump, 
— que apoia Kim Jung Un, da Coreia do Norte, 
— que também recebe apoio da XI Jinping, da China, 
— que detesta Donald Trump,
— que se opõe tanto a Bashar Al Assad, da Síria, 
— quanto a Evo Morales,  que entregou Cesare Battisti para ser preso 
— e agradar a Mateo Salvini, da Itália, que já caiu
 que se alinhava com o entreguista liberal Jair Bolsonaro, do Brasil,
— que puxa o saco de Donald Trump
— e que era amigo de Sebastian Piñera do Chile, que está pra cair, 
— e que lamenta a derrota de Maurício Macri para Alberto Fernandes na Argentina
— e que aceita de bom grado o assassino Mohammed Bin Salman, da Arábia Saudita, 
— que se opõe ao Irã de Hassan Rouhani...

O paralelismo com os versos só fica incompleto porque não creio existir algum ser humano no mundo (pelo menos fora dos hospícios) capaz de amar toda essa quadrilha.
Evo Morales: emporcalhou-se mas não evitou o pé na bunda

A aparente irracionalidade e contradições nos apoios e oposições internacionais de governantes (com guerras genocidas pelo meio) tem uma lógica: o interesse circunstancial e efêmero ditado pelo exercício do poder político verticalizado do Estado e pelas pretensões de hegemonia econômica estatal em benefício do capital ou de boas relações comerciais na guerra da concorrência internacional de mercado sem escrúpulos.

Noutras palavras: pela irracionalidade racional de genocida do capital. Não é segredo para ninguém que somente produzindo e vendendo mercadorias (aliás, no longo prazo somente se produz o que se vende) é que se acumula riqueza abstrata, e tal mecânica social está na inversa proporção de quem apenas compra e não produz e não vende mercadorias no nível pretendido.

Produzir e vender: esta é a pretensão geral que esbarra numa equação matemática segundo a qual somente compra quem tem dinheiro para comprar, então como todos querem vender, estabelece-se o impasse da guerra comercial de mercado e a razão de ser de todas as guerras modernas e disputa de poder. 
Como sorri o príncipe saudita que mandou matar o jornalista!
Vale lembrar, neste sentido, a frase célebre do economista burguês clássico Adam Smith, cuja adesão ao liberalismo está acima de quaisquer suspeitas, mas que era capaz de rasgos de sinceridade jamais encontrados nos seus discípulos medíocres, como Paulo Guedes: 
"Para um muito rico há, no mínimo, 500 pobres, e a riqueza de poucos presume a indigência de muitos".
A briga pela obtenção do dinheiro é a razão de ser de todas as guerras, apoios e oposições da política, na medida que é a dita cuja a esfera subserviente protetora e regulamentadora das relações sociais mercantis. 

Beija-se a mão inclusive daqueles por quem os sentimentos íntimos são de ódio, desde que isso favoreça a produção de riqueza abstrata e permita ao beijoqueiro fazer-se passar, aos olhos do povo que elege o governante (o nacionalismo mais não é do que Mateus, primeiro os teus) como provedor da sustentabilidade social a partir de tais relações. 

Tudo nas relações mercantis é abstratamente reificado, fetichista (como disse Marx), pois o valor, medida abstrata, torna-se real e comanda negativamente a vida social, dando ordens insanas a todos os seus súditos, inclusive aos trabalhadores.

Serviçais por excelência do valor são aqueles que, na estrutura vertical do poder, têm a incumbência maior de obediência e preservação dessa norma social. 

O poder político é tão fetichista quanto a ambição da riqueza abstrata, e é isso é que faz alguém suicidar-se na iminência de perdê-lo (como fez Getúlio Vargas), ou de mandar matar (como fez Josef Stalin da União Soviética com Leon Trotsky, bem como Mohammed Bin Salman da Arábia Saudita com o jornalista Jamal Khashoggi).

O Jair Bolsonaro da campanha eleitoral fez discurso nacionalista sobre a China, no qual chegou a afirmar pejorativamente que "os chineses estão comprando o Brasil". E foi além: "O próprio Brasil deveria desenvolver e explorar suas riquezas minerais, ao invés de deixar a empresa China Molyndenum comprar uma mina de nióbio por USS 1,7 bilhão em 2016".

O mesmo Jair Bolsonaro, eleito e exercendo o cargo de presidente da República, afirmou na reunião dos Brics da semana passada que “a China é cada vez mais o futuro do Brasil.” 

O que dita tal mudança de postura em tão curto espaço de tempo é o interesse político e capitalista. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

4 comentários:

SF disse...

Incrível como mentes inteligentes como a sua, Dalton, percam tempo em estudar oa movimentos e palavras destes mesquinhos medíocres até a medula.

Já ouviu falar do Bóson de Higgs?

https://www.youtube.com/watch?v=-fXAsrZ-ePM

Compare os objetivos e posturas desse povo com a nossa classe dirigente.
Se não sentir um visceral asco ainsa não entendeu do que ae trata a real batalha que se teavano mundo.

Anônimo disse...

Assim caminha a humanidade há 3 mil anos: dinheiro (valor abstrato), imperialismo (império Persa, 500 a.C.) e monoteísmo (zoroastrismo, cristianismo, islamismo).

O pior desse tripé é o monoteísmo, que é a fonte primária da intolerância.

Saravá!

Anônimo disse...

PQP! Eu sei que não faz bem à alma, mas eu odeio profundamente esse índio safado, traidor. Não consigo ter pena dele, e não moveria uma palha para defendê-lo -- mesmo tendo consciência de que seu governo foi vitimado por um golpe da escumalha civil-militar. Posso estar errado, não creio. Deu Battisti de bandeja para os fachos italianos, e com sorriso nos lábios. Frouxo! Abandonou o povo boliviano sob o pretexto de evitar derramamento de sangue -- sangue indígena esse que abunda pela ruas bolivianas. Jamais será um Allende -- que só saiu morto da La Moneda. Allende, Allende, Allende no se vende! Já esse índio...

marcosomag disse...

Há com escapar disso? Creio que não. Mesmo com a Revolução Industrial 4.0 jogando as camadas médias na miséria não creio que haverá reação da "tropa de choque" política dos capitalistas. Vão acreditar na tese neoliberal absurda do "homem-empresa", considerar que seu fracasso é de sua exclusiva culpa individual e que a brutal concentração de renda nas mãos dos banqueiros é resultado de seus méritos. O velho propagandista Joseph Goebbels já ensinava que o povo é imbecil. As massas são desumanizadas a cada dia pela imprensa corporativa. Na Austrália, os aborígenes voltaram a não serem contados como população. No Brasil, o próximo censo não contará os moradores de rua. A menos que tenham os meios (muitíssimas Kalashnikov) serão "exterminados como baratas", como já prometeu o miliciano.

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