segunda-feira, 11 de novembro de 2019

QUER DIZER QUE DE NADA ADIANTOU HAVER TRAÍDO BATTISTI E TER VINDO ABANAR O RABO NA POSSE DO BOLSONARO?!

Touro Castrado envergonhando a tribo...
Embora o saldo de seu governo tenha sido positivo em termos de melhorar a situação econômica e social da paupérrima Bolívia, o populista Evo Morales repetiu o erro de tantos outros populistas que veem a si próprios como homens providenciais, os únicos capazes de fazerem felizes seus povos. 

Então, fincam os dentes no poder como um buldogue morde seu osso e evitam projetar seguidores à sua altura para não terem quem lhes faça sombra nas próprias fileiras.

Geralmente pagam caro por colocarem a si mesmos acima da causa dos explorados. 

...o grande Touro Sentado...
Lula, p. ex., despencou porque, percebendo que uma tentativa de mudar as regras do jogo para possibilitar nova reeleição abriria seu flanco às investidas da direita, escolheu o poste errado para o substituir enquanto cumpria o ritual de alternância no poder: Dilma Rousseff, cuja gestão econômica desastrosa acabaria, aí sim, levantando a bola para o inimigo marcar o ponto. 

Ou seja, desejando um(a) boneco(a) de ventríloquo e não um petista minimamente qualificado para exercer a Presidência, optou por alguém que avaliava como tão carente de carisma e de brilhantismo que seria  obrigada a seguir obedientemente suas determinações, não causando grandes estragos nem se tornando sua concorrente. Mas, não sabia com que ego descomunal estava lidando...

Por que comparo as situações? Porque foram dois governos até então sólidos que desmancharam no ar graças a lambanças constrangedoras: a de Dilma, ao tentar exumar o anacrônico e superado nacional-desenvolvimentismo; e a de Morales, ao botar os pés pelas mãos no afã de evitar um 2º turno que provavelmente venceria com certa facilidade.

...e o lendário Tupac Amaru II.
Nos dois casos, a conta foi paga pelo povo: o brasileiro, que amarga o presidente mais tosco e desequilibrado de sua História; e o boliviano, que parece destinado a muito sofrer por não existir ninguém capaz de preencher adequadamente o vazio de poder que se desenha, ainda mais com o acirramento das tensões decorrente da forma como ele foi defenestrado. 

Morales (seguindo as pegadas de Dilma) coloca tudo na conta de um golpe branco, o que acaba parecendo desculpa de mau pagador, para desviar a atenção do peso que as próprias trapalhadas tiveram na sua desgraça. Um pouco de humildade cairia bem para ambos. 

A única opção sensata agora seria a convocação de nova eleição presidencial, com Morales participando apenas como apoiador do candidato por ele escolhido (com nossa torcida para que apostasse em alguém bem diferente da Dilma).

Não consigo sentir pena de quem traiu Cesare Battisti e veio balançar o rabo na posse do Bozo. Mas, nem todos os líderes de origem indígena podem ter a estatura moral, a coerência e a coragem de um Tupac Amaru II ou de um Touro Sentado. (por Celso Lungaretti)
Tributo de Vandré aos quechuas, tamoios, mapuches, tabajaras, guaranis,
incas, astecas, maias, aimarás e tupis (povos exterminados): "Por sus
mujeres y tierras, sus flores y amores/ Quiere ser mi canto
alegre frente a los dolores/ De América, de América".

5 comentários:

Anônimo disse...

As veias abertas da América Latina vão permanecer abertas...

"O horror, o horror..."

SF disse...

Ih Celso,
Estive em Cochabamba na praça onde ficava Evo confabulando e fazendo polítitica.
Ele não era nada até os caras privatizarem o fornecimento de água de Cocha.
Alí começou a liderança de Evo.
Ou seja, sempre que alguém passa do limite surge um líder que estava lá, apagado, fazendo seus conchavos.
A ganância fez Evo aparecer.
E é como uma bola de neve.
Aqui, os caras extrapolam se todos os modos e os conchavistas ainda estão lá, fora dos holofotes.
Basta uma faísca catalisadora e o movimento ocorre.
O líder surge.
Tranquilito no más.

Valmir disse...

aventureiros nunca se deram bem na Bolívia,,a começar de Butch cassidy and the sundance kid, passando pelo Che e terminando com cesare batisti

celsolungaretti disse...

SF,

eu apenas lamento a decadência política e moral da esquerda, que passou a fazer composições com meros populistas que apenas tornam o capitalismo mais palatável para as massas durante algum tempo.

E tais populistas, não tendo compromisso nenhum com os valores revolucionários, cometem infâmias como entregar o Battisti para os neofascistas italianos exibirem triunfalmente.

Se o Evo tivesse passado antes o sufoco pelo qual passou agora, talvez não houvesse se comportado de maneira tão ignóbil quando teve nas mãos o destino de um perseguido político.

Aliás, uma das grandes broncas que eu tenho do Lula é bem parecida. Quando o julgamento do Cesare se aproximava do final, ele mandou ao Gilmar Mendes o recado de que permitir a extradição, caso fosse ele a decidir, era impossível porque queimaria o filme dele com pessoas importantes dentro do PT (um que, por outras fontes, eu sei que ficaria indignado é o Gilberto Carvalho).

Mas, completava o recado, se o Supremo estabelecesse que estava dando a última palavra e não cabia o presidente da República opinar, aí o Lula deixaria a extradição acontecer.

O Gilmar Mendes lutou como um leão para que a decisão do STF fosse definitiva, mas o Ayres Brito, extremamente digno, não se curvou às pressões: afirmou que, noutros casos, ele sempre defendera a prerrogativa presidencial de dar a última palavra e não seria daquela vez que ele ia mudar de opinião.

Como alguém me soprou esses movimentos de bastidores, o nosso comitê também lutou como um leão para que fosse confirmada a prerrogativa presidencial. E vencemos.

Mas, não por causa do Lula, que estava prontinho para dar uma de Pilatos e satisfazer o Berlusconi, assim como o Evo satisfez o Bolsonaro.

Não vejo os populistas como meus verdadeiros companheiros. Nem a pau, Juvenal!

Abs.

celsolungaretti disse...

Valmir,

Butch Cassidy era um mero ladrão de bancos.

O Che, um revolucionário que tentou de todas as maneiras tirar Cuba do isolamento a que os EUA a submetiam, pois sabia que, se a ilha dependesse unicamente da União Soviética, a revolução se deturparia de forma irremediável.

Segundo os companheiros da VPR de origem brizolista me disseram, o plano era o desencadeamento de guerrilhas simultâneas na Bolívia e no Brasil. Mas, o Brizola pegou a grana dos cubanos e jogou aqueles pobres coitados em Caparaó sem dar-lhes a mínima condição de desencadearem uma guerrilha de verdade.

Isolado na Bolívia e sem o apoio dos comunistas bolivianos (fiéis à orientação da URSS, que não queria criar atritos com os EUA patrocinando guerrilhas no quintal dos estadunidenses), o Che acabou executado. Mas, a pecha de "aventureiro" não lhe cabe.

Muito menos ao Cesare, um dentre centenas de participantes dos movimentos rebeldes italianos, que os neofascistas resolveram erigir em símbolo quando se tornou novelista policial famoso.

Perseguido político que sofre uma perseguição sem fim de uma Justiça fajuta não está participando de aventura nenhuma. Eu levei esse tipo de vida durante um único ano e sei como acaba com qualquer um.

Levantava de manhã sem saber se no fim do dia ainda estaria vivo. E respirava fundo antes de abrir o novo jornal, sempre com medo de encontrar notícias de morte ou prisão ce companheiros estimados.

Abs.

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