(continuação deste post)
Sobre a crise ecológica – Falar-se sobre contenção (e, mais ainda, sobre superação) da crise ecológica sob o capitalismo é como pretender que o fogo não queime.
A natureza da produção de valor é a exacerbação da luta das mercadorias que o representam no sentido de imporem sua hegemonia de mercado. Cada mercadoria busca a vitória sobre as outras tantas que existem como forma de sobrevivência do capital, e isto tem um custo ecológico predatório irremediável.
Reduzir custos de produção significa a viabilização hegemônica de cada produção de mercadoria, o que acarreta serias consequências.
Trata-se de reduzir os custos de produção de mercadorias, condição permanente e inafastável que implica investimento crescente de capital fixo (máquinas, instalações, laboratórios de pesquisa, etc.) e diminuição dos custos com capital variável (Marx); e é necessário levar-se também em conta o trabalho abstrato necessário (tendência de compra da mercadoria força de trabalho em cada vez menor quantidade e a valores mais baixos).
Estabelece-se, então, um embate entre a crescente consciência social sobre a necessidade de preservação do meio ambiente territorial, fluvial, marítimo e atmosférico, e a necessidade de vitória dos produtores de mercadorias na guerra fratricida de mercado.
Este é um componente socialmente contraditório que o Estado não pode resolver, seja porque não tem meios materiais de punição aos agressores do meio ambiente, ávidos pelo oxigênio vital às suas atividades (o lucro), seja pela função estatal de apoio e indução ao desenvolvimento econômico do qual tira o seu sustento.
Estabelece-se, então, um embate entre a crescente consciência social sobre a necessidade de preservação do meio ambiente territorial, fluvial, marítimo e atmosférico, e a necessidade de vitória dos produtores de mercadorias na guerra fratricida de mercado.
Fumaça das queimadas na Amazônia fez tarde virar noite em São Paulo |
Quando vejo partidos de esquerda (todos) pugnando pela retomada do desenvolvimento econômico e, ao mesmo tempo, bradando contra as agressões ao meio ambiente fico a me perguntar: tal postura deriva de deslavado cinismo ou da ignorância sobre a dinâmica do funcionamento da lógica irracional do capitalismo?
Qualquer opção por uma das hipóteses acima, ou até pelas duas concomitantemente, demonstra quão inconscientes ou oportunistas são os programas partidários (coisa que hoje não vale nada no Brasil) e seus representantes políticos. É de dar náuseas!
Esta contradição ideológica é inevitável justamente pelo acima demonstrado, ou seja, não há capitalismo saudável do ponto de vista ecológico (como pretende o ministro liberal Paulo Guedes), nem funciona o nacionalismo isolacionista e militar do capitão presidente, num mundo dominado por relações econômicas globalizadas.
A aberrante postura do governo brasileiro com relação à Amazônia, com discurso na base do liberou geral para grileiros, latifundiários e mineradoras, é posicionamento cada vez mais fora de sintonia com o pensamento dominante de multilateralismo e formação de blocos econômicos (como o Mercosul e alianças comerciais com a União Europeia).
Tudo isso ocorre no exato momento em que o mundo rico se dá conta de que o aquecimento global atinge a todos, ou seja, não fustigará apenas os empobrecidos do mundo. Daí a retórica governamental do presidente Boçalnaro, o ignaro lembrar um elefante numa loja de louças: para cada lado que se volta, alguma coisa sai quebrada e imprestável.
Mas não é apenas na Amazônia que os problemas ecológicos confirmam as contradições capitalistas. Os municípios brasileiros, cada vez mais falidos por conta da recessão econômica que castiga fortemente o país há cerca de 5 anos (entre outras mazelas como a tradicional corrupção e juros altos incidentes sobre a dívida pública), dão dá um destino ecologicamente correto e economicamente inteligente ao lixo urbano produzido.
Neles temos os lixões como forma de depósitos dos resíduos sólidos urbanos, nos quais uma parte da população socialmente excluída disputa com os urubus a primazia de comer os restos inservíveis ou recolher objetos recicláveis (muitos dos quais poderiam ser seletivamente reciclados com redução dos custos econômicos das coletas).
Os rios urbanos que recebem todo tipo de poluição são exemplo claro dessa impossibilidade de convívio social harmonioso sob o regime de exploração do homem pelo homem.
Se o capitalismo é ecologicamente predatório por sua própria natureza, razão pela qual até os países ricos estão sofrendo as restrições da debacle econômica renitente que ora por lá se instala, no Brasil, com o capitalismo burro e cartorial que praticamos, a coisa se torna ainda mais prejudicial à sofrida população. (por Dalton Rosado)
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