sexta-feira, 27 de setembro de 2019

EI, BOZO!

Em Heil, Bolsonaro! (vide aqui), meu bom amigo e tradicional colaborador deste blog, Rui Martins, fez uma análise política séria de algo que absolutamente não era sério nem importante: aquele amontoado de abominações ideológicas, velharias medievais, crassas asneiras e delírios de anormais reunidos no discurso desta 3ª feira (24) do mais tosco presidente brasileiro de todos os tempos. 

Como vivo na pátria desalmada, idiotizada, Brasil, estou acostumado com a vacuidade intelectual de todas e quaisquer manifestações faladas ou tecladas do Bozo. Então, marcante para mim naquele stand up na ONU foi apenas sua enorme dificuldade para ler a cola do teleprompter, revelando que nem algo tão primário foi capaz de fazer pessoalmente: a tarefa coube a escrevinhador(es) de discursos... que jamais passaria(m) de aprendiz(es) nas agências de comunicação nas quais trabalhei! 

Humoristas profissionais ao menos decoram seus scripts, mas até nisto o Bozo é amador.

É normal que, morando e trabalhando em Genebra, o Rui tenha uma visão exagerada tanto do Bozo quanto da ONU, cuja impotência em impedir que as nações poderosas (com destaque para Israel) façam as mais fracas de sacos de pancadas lhe valeu o apropriado apelido de muro de lamentações

Na verdade, o discurso do Bozo, como muitos analistas escreveram, não passou de uma oportunidade perdida: em nada alterou o péssimo conceito que o mundo já tinha dele e só serviu para agradar aos seus seguidores brasileiros mais aloprados, os únicos que o continuarão apoiando caso sua popularidade siga despencando na velocidade atual.

Então, eu nem desperdiçaria meu tempo com a algaravia do Bozo se não fosse este trecho do artigo do Rui:
"...chegou também a hora de se deixar de se falar em Bozo, de se tratar o presidente como idiota. Não é por aí que se conseguirá reverter a situação política no Brasil. Ele até que pode ser, ou se fazer como se fosse, mas, ali na tribuna da ONU, lendo seu discurso, ele se comportou como um líder nacionalista de extrema-direita, um Hitler tupiniquim..."
Ora, que motivo eu, já chegando aos 69 anos, teria para continuar lançando no espaço virtual minhas mal tecladas linhas, se não fosse pelo prazer de dar nome aos bois, o que não pude fazer em boa parte da minha carreira jornalística? 

Então, como agora não sou mais obrigado a poupar os calos dos fãs de nenhuma celebridade, nem pretendo adotar raciocínios de propagandistas, trato o presidente como bufão, pois é como bufão que o vejo. Simples assim. 

Para dizer a verdade, nem mesmo estou certo de que ele seja realmente um fascista convicto. Pode muito bem não passar de um espertalhão que vislumbrou no anticomunismo e no antipetismo bons nichos para a arregimentação de patetas que batalhariam por ele de graça; enfim, uma versão rudimentar do astrólogo que descobriu ser mais rentável deixar o movimento dos astros em paz e extrair seus ganhos das cartilhas simplificadas de ódio para otários.

Aproveito para tranquilizar o Rui quanto à reversão da situação política no Brasil: não precisaremos deixar de tratar o Bozo como idiota, pois o desvario ultradireitista está sendo varrido do horizonte político, conforme o Igor Gielow assinalou (vide aqui).

Por quê? Porque jamais teve chance de vingar em médio e longo prazos, já que a globalização dos mercados é um fenômeno irreversível sob o capitalismo (ou seja, enquanto o capitalismo durar). O drama do Reino Unido está servindo para comprová-lo: na ponta do lápis, o Brexit é receita certa de empobrecimento acentuado e acelerado. 
Como  a História não marcha para trás, é tão inviável querer restaurar a moral e misticismo da Idade das Trevas, anulando toda a evolução da humanidade desde o iluminismo, como tentar cancelar a 3ª Revolução Industrial, recriando protecionismos, reservas de mercado e outras artificialidades soberanamente burras. [Lembram de quando a Política Nacional de Informática, promulgada em 1984, nos fazia avançar em passo de lesma e os carros aqui fabricados bem mereciam a qualificação de carroças?]

Então, como quem permanecer aberto ao fluxo internacional de produtos e serviços terá uma vantagem competitiva enorme com relação a quem constrói muros para separá-lo do vizinho, desde o início eu sabia que era inevitável o novo nacionalismo selvagem morrer na praia, como está morrendo.

Só errei no timing: pensei que ele fosse demorar mais para derreter, causando estragos maiores. 

Enfim, o Bozo, na ONU, me fez lembrar uma frase do filme Made in USA, do Godard dos bons tempos, quando a matadora profissional diz ao poeta: "Quando falo de um homem, é porque ele já morreu".

Aquele discurso atroz versou sobre o que já morreu e muitos só perceberão quando os cadáveres baixarem à terra. (por Celso Lungaretti)

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