domingo, 20 de janeiro de 2019

QUANDO JÁ ÍAMOS NOS ACOSTUMANDO, ELE COMEÇOU A BALANÇAR. SERÁ QUE VAI CAIR?

"as denúncias de corrupção avolumam-se"
david emanuel coelho
O FIM DO GOVERNO BOLSONARO SE APROXIMA?
Ao que tudo indica, podemos estar vendo o começo do fim do governo Bolsonaro. 

As denúncias de corrupção envolvendo Flávio Bolsonaro avolumam-se a cada dia, com a encrenca crescendo em valores e datas. O que começou como movimentações suspeitas de milhares de reais, agora evolui para lavagem de dinheiro na casa dos milhões.  

Não seria correto descartarmos, a priori, envolvimento do próprio presidente Jair Bolsonaro no esquema, visto não apenas a profundamente íntima relação familiar, mas também o cheque depositado na conta de sua esposa, até hoje não explicado de forma convincente. 

Muito pior, no entanto, pode ser a origem do dinheiro. Além de se apropriar do salário de funcionários, a família Bolsonaro talvez tenha recebido dinheiro das milícias do Rio de Janeiro.

Não é segredo o apoio do clã às forças paramilitares atuantes no estado. O próprio Flávio Bolsonaro defendia a atuação delas à época da CPI das milícias, chegando mesmo a propor sua legalização. 

Além disto, líderes milicianos presos ano passado na chamada Operação Quarto Elemento possuem ligações estreitas com a família do presidente. Se for provada, de modo cabal, a ligação de milícias com os Bolsonaros, a situação ficará muito delicada. 

Tudo isto, no entanto, é apenas a superfície da crise. O fundamental está na inorganicidade do novo governo e em sua incompetência política.
"postura de Mourão mais parece a de um membro da oposição"

Brigas públicas no interior do PSL mostram a completa falta de unidade política entre os grupos oportunistas que se atrelaram ao bonde Bolsonaro.  

O fato do PSL ser um partido de aluguel dificulta a disciplina interna, pois não há quadros com raízes ou autoridade. À exceção do dono, o partido é formado por pessoas cujo único compromisso é consigo mesmas. 

A recente viagem à China de uma comitiva do partido é exemplo disso. Feita à revelia do presidente e do próprio PSL, teve por justificativa oficial buscar uma tecnologia de reconhecimento facial, quando, na verdade – segundo informações – teria sido apenas para estreitar laços comerciais de alguns de seus integrantes com empresas chinesas. 

A crise envolvendo Flávio Bolsonaro pode prejudicar ainda mais a unidade do partido, visto ser o filho do presidente a principal liderança política do junta-junta bolsonarista. 

A tendência, avento, é o PSL perder deputados para outras siglas, dentro do autorizado pela legislação, o que enfraqueceria ainda mais o partido do presidente. 

A falta de um horizonte claro e as dúvidas quanto à capacidade de articulação política do governo é outro ponto problemático. Reina a confusão, sem uma clara noção de quem, afinal, comanda. 

Na articulação com o Congresso, Onyx parece não ter voz alguma, sendo tutelado por um ministro militar e atropelado por Paulo Guedes.  
"uma balbúrdia generalizada"
Isto transparece na incompetência do governo em fixar um nome para apoiar nas eleições para presidentes do Senado e da Câmara. Cada membro do PSL parece ter seu nome favorito e o defende, enquanto o próprio governo não se entende sobre quem, afinal de contas, vai apoiar. 

A Educação até hoje não conseguiu fechar seus quadros, chegando a ponto de já existir temores de descontinuidade das verbas para estados e municípios. 

E nas relações exteriores vige a acefalia completa. Oficialmente, o ministro das relações exteriores é o senhor Araújo, o diplomata olavista, mas na prática vários atuam como se chanceleres fossem. Eduardo Bolsonaro, p. ex., não se vexa de sair pelo mundo falando em nome do governo. 

Mas o caso mais esdruxulo é do vice Mourão, o qual admite sem rodeios que faz reuniões com diplomatas de outros países para melhorar a imagem do país. Ele, inclusive, fala sem rodeios que Araújo não serve para o cargo. 

Ainda sobre o general Mourão, é preciso registrar que sua conduta parece muito mais a de um membro da oposição que a de um vice-presidente da república. Até mesmo Temer teve mais cautela em expressar seu descontentamento, o fazendo de modo reservado e, no limite, em carta.

O governo Bolsonaro, portanto, parece uma balbúrdia generalizada, sem ninguém saber direito quem manda ou o que se quer. Enquanto o objetivo era chegar ao poder, o discurso antipetista conseguiu manter uma certa unidade em suas hostes e camuflou, até certo ponto, o vazio político e programático de Bolsonaro e sua trupe. Porém, tendo agora de agir, a inocuidade vem à tona de modo escancarado. 
"abandonar sua desastrada guerra contra a Globo"

Por isso, o escândalo de corrupção de Flávio Bolsonaro vai crescendo e chegando cada vez mais perto do presidente. Em breve, assistiremos aos ratos abandonando o navio. 

Nesta altura, o presidente pode até sobreviver, fazendo um acordo nos bastidores e abrindo mão por completo de seu poder. Ou seja, aceitando virar por completo um presidente figurativo. 

Mas, para tanto, teria de dar uma guinada em seu governo e deixar os profissionais tomarem conta. Seu filho Flávio, contudo, seria obrigatoriamente sacrificado, pois já está passou do ponto de retorno, sobretudo após seu apelo ao Supremo Tribunal Federal. 

Dar uma guinada significaria trocar muita gente no governo, dispensando os bobões Onyx, Damares, Araújo e Vélez, além de trocar o coadjuvante Guedes por alguém com mais pedigree. 

Teria também de abandonar sua desastrada guerra contra a Globo e afastar seus filhos do governo. Por fim, abandonar a retórica belicista e diminuir a presença militar, trocando-a por gente da plutocracia política e financeira. 

É impossível cravar a linha de ação que Bolsonaro vai adotar. Poderá aceitar um acordo ou comprar a briga até o mais amargo fim. Em se tratando de uma pessoa que queria explodir quartéis e chegou a entregar o esquema para uma revista de circulação nacional, tudo é possível. Inteligência não é o forte dele. 
"deixar os profissionais tomarem conta"
No entanto, um presidente sem bases sociais sólidas, contando apenas com uma legião desarticulada de fãs e um bando de politiqueiros oportunistas, não tem a muito a que recorrer. 

Podemos estar vendo o princípio do fim do breve governo Bolsonaro. 
(por David Emanuel
de Souza Coelho)
Vai cair mesmo? O Raulzito diria que sim...

3 comentários:

Anônimo disse...

Onde há fumaça, há fogo.

Este já é o segundo artigo que li, hoje, especulando sobre o fim do mandato Bolsonaro. O primeiro foi o do Nassif, onde já é dado como findo.

Tudo indica que o dia D será o dia 28 próximo, quando prevê-se que o capitão será submetido à cirurgia abdominal reparadora.

Muita água ainda vai passar por sob a ponte que pode nos levar ao passado.

Grato,

Marco Aurélio

Vandeco disse...

O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade; o otimista vê oportunidade em cada dificuldade.

Winston Churchill

Sergio Podólogo disse...

Como sempre, muito bem colocado. Parabéns

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