domingo, 20 de janeiro de 2019

PORQUE NÃO DEVEMOS GOVERNAR, NEM ALMEJAR O PODER (2ª parte)

(continuação deste post)
O desemprego estrutural atinge principalmente os jovens que chegam ao mercado de trabalho e já não conseguem exercer as profissões para as quais foram qualificados. Aos desqualificados restam poucas alternativas razoáveis.

Tudo se deve à ilogia de um modo de produção que se exauriu por seus próprios fundamentos, e não por qualquer ação externa. 

Para usar uma expressão da época da ditadura militar, o capital é o próprio agente subversivo da realidade social. E, por tratar-se de uma lógica abstrata, não dá para qualificar de comunista comedor de criancinhas  esse fenômeno social que está a esgarçar todo o tecido social; nem se pode dar porrada ou trancafiá-lo para sempre, como fizeram com o Cesare Battisti.

A teoria marxiana da crítica do valor exposta há 160 anos (tão pouco estudada e mal compreendida!) se aproximou da realidade atual. Como justiça a esse grande pensador, bem como como forma de comprovação do que ele afirmou, não é demais reproduzirmos algumas conclusões do pensamento de Karl Marx, extraídas dos Grundrisse:
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"... Para além de certo ponto, o desenvolvimento das forças produtivas devém um obstáculo para o capital; ou seja, a relação de capital devém um obstáculo para o desenvolvimento das forças produtivas do trabalho. 

Ao atingir esse ponto, o capital, o trabalho assalariado entra na mesma relação com o desenvolvimento da riqueza social e das forças produtivas que o sistema das corporações, a servidão, a escravidão. E, como grilhão, é necessariamente removido.

A última figura servil que assume a atividade humana (de um lado, a do trabalho assalariado; e, do outro, a do capital) é com isso esfolada, sendo tal esfoladura o resultado do modo de produção correspondente ao capital ...

... A destruição violenta de capital, não por circunstâncias externas a ele, mas como condição de sua autoconservação, é a forma mais contundente em que o capital é aconselhado a se retirar e ceder espaço a um estado superior de produção social ...

... Como consequência, o máximo desenvolvimento da força produtiva e a máxima expansão da riqueza existente coincidirão com a depreciação do capital, e degradação do trabalhador e o mais restrito esgotamento de suas capacidades vitais. 

Estas contradições levam a explosões, cataclismos, crises, nas quais, pela suspensão momentânea do trabalho e a destruição de grande parte do capital, este último é violentamente reduzido até o ponto em que pode seguir empregando plenamente suas capacidades produtivas sem cometer suicídio. 

Contudo, essas catástrofes regularmente recorrentes levam à sua repetição numa escala mais elevada e, finalmente, à destruição violenta do capital".

O desemprego estrutural, resultante irreversível e insuperável da obsolescência do trabalho abstrato em maior parte, é o coveiro do capitalismo. As mãos paradas, por consciência própria ou mesmo por indução da decrepitude da lógica do capital, são mais violentas do que as mãos armadas. 
"emissão de moeda sem lastro mercantil"
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a) o endividamento público (a falência do Estado) e privado insolváveis – o endividamento público crescente possui a mesma causa de base do endividamento privado insolvável, ainda que tenham formas de arrecadações e destinações diferenciadas.

O Estado tem três funções estabelecidas: 
1) a manutenção da ordem capitalista pelas instituições dos poderes Executivo (ai incluída a força militar), Legislativo e Judiciário; 
2) a promoção do desenvolvimento econômico pelo investimento em infraestrutura; e 
3) o amortecimento das pressões populares pela satisfação de demandas sociais básicas e serviços públicos.

Quem financia a sua existência, obviamente, são os impostos cobrados aos consumidores de mercadorias e serviços (em maior parte) e sobre o lucro da atividade empresarial (em menor parte). Todos os valores dos impostos são pagos ou criados pela extração de mais-valia dos trabalhadores assalariados.

Ocorre, entretanto, que como a massa global de valor diminui numa proporção inversamente proporcional ao crescimento das funções estatais, a manutenção das finanças públicas somente pode ser providas a partir do endividamento público.

Um expediente muito usado pelos Estados, que detêm o controle monetário é a emissão de moeda sem lastro mercantil, mesmo que isto provoque a inflação (perda do poder aquisitivo da moeda) que arruína toda a economia e, principalmente, o bolso dos assalariados (sempre chamados a pagarem a conta).
Quanto maior o Estado, maior é o volume do endividamento público com relação ao seu Produto Interno, o que o enfraquece. Daí os liberais ansiarem tanto pelo chamado estado mínimo, financeiramente saudável, apenas com funções auxiliares do capital; já a esquerda prefere sempre um estado forte, sem compreender a insustentabilidade disso.

A emissão de moedas sem lastro, quando aceita internacionalmente (como é o caso do dólar estadunidense e do euro da União Europeia), não provoca inflação interna. Isto porque elas servem como moeda de exportação por todos aceita, o que, contudo, somente funciona até que percam credibilidade diante da constatação inexorável de suas inconsistências, que virá mais cedo ou mais tarde.

O aumento do endividamento privado empresarial mundial, por sua vez, decorre da necessidade crescente de aplicação em capital fixo (máquinas, instalações e conhecimento tecnológico) e infraestrutura para fazer face à concorrência de mercado e dispensa do trabalho abstrato.

Essa espiral de endividamento não encontra correspondência na geração de lucro capaz de remunerar o capital do crédito bancário, tal qual o endividamento público. Tende a atingir o ponto da insolvabilidade que representará, juntamente com a insolvência da dívida pública, o grande colapso do sistema de crédito mundial, com as graves consequências para a lógica capitalista que disto advirão.

Note-se que, como disse Karl Marx, além da queda tendencial da taxa de lucro, o capital tende, também, a uma diminuição da massa global de valor que, num determinado momento, não terá capacidade de remunerar o capital creditício, que já é fictício por apostar em extração de mais-valia futura e de lucro que não ocorrerão. 

O aumento constante na necessidade de investimento em capital fixo e em equipamentos tecnológicos destinados à produção de mercadorias (impulsionado pela guerra concorrencial de mercado), que funcionam como uma varinha de condão que fabrica todas as mercadorias com valores cada vez menores, corresponde a um processo de colapso autodestrutivo do próprio capital, que tornar-se-á explícito num ponto futuro graças ao grau de incapacidade reprodutiva do valor no montante necessário.    

Se se fizer, portanto, uma análise da dívida pública e privada dos países que são grandes produtores de mercadorias, como os Estados Unidos e os países mais economicamente desenvolvidos da União Europeia; bem como da China e do Japão, com suas dívidas colossais e crescentes, dependentes de uma produção e venda de mercadorias que tende a um limite ocasionado por diversos fatores, não é difícil concluir-se que caminhamos para um impasse de proporções gigantescas.  

Basta que se consulte a relação entre o PIB desses países e suas dívidas para se constatar a dependência recíproca que se estabeleceu numa economia globalizada e endividada, e da insolvabilidade do sistema de crédito mundial como credor de dívidas púbicas e privadas que não poderão ser pagas.

Para se ter uma ideia do tamanho da encrenca, só os EUA têm uma dívida pública (que é permanentemente crescente) de US$ 20 trilhões para um PIB de igual valor, e uma dívida privada muito além desse montante.
O FMI já alertou para o problema explosivo, com os especialistas dizendo o seguinte:
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"Você e eu estamos sentados numa montanha de dívida pública e privada. A cota para cada habitante do planeta é de 21.866 euros, ou R$ 95.554. Uma bola de neve gigantesca e voraz. A fatura total chega a US$ 164 trilhões (R$ 608 trilhões), quantia equivalente a 225% do PIB mundial. 

Viver a crédito foi a saída natural da crise financeira. Os empréstimos permitiram cobrir os desequilíbrios das contas públicas e reanimar o crescimento. Mas, convém não ultrapassar determinadas linhas vermelhas. 

Um nível de endividamento jamais visto desde a 2ª Guerra Mundial é uma bomba-relógio que pode explodir a qualquer momento. Argentina e Itália são dois exemplos recentes de como ressuscitam facilmente os fantasmas mal enterrados".
                                                                                                                               .
A crise de impossibilidade de reprodução do valor válido no nível exigido pela irrigação da economia é a razão da permanente criação de bolhas de consumo mercantil que cedo se evidenciam como insustentáveis. neste post

Os grandes produtores de mercadorias estão fadados a falirem abraçados e suas economias serem substituídas por um modo de produção socialmente sustentável voltado para a satisfação cômoda das necessidades de consumo humanas, e de modo ecologicamente sustentável. 

Isto, claro, se não ocorrer uma hecatombe mundial, provocada pela intolerância face a uma realidade inexorável. (por Dalton Rosado) 
(continua neste post)

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