segunda-feira, 19 de março de 2018

UM ROBIN HOOD ENGANA-TROUXAS E A REPETIÇÃO DA INFÂMIA COMO FARSA

Sean Connery no papel de Robin Hood idoso, mas nem tanto... 
Os dirigentes do PT continuam buscando fórmulas de garantir sobrevida a um partido que não tem mais futuro como força transformadora da nossa sociedade.

Depois da repulsiva Carta ao Povo Brasileiro de 2002, quando se renderam ao grande capital em troca da permissão dos poderosos para o Lula ganhar a eleição presidencial e ser devidamente empossado, preparam-se para lançar outra. Será a repetição da infâmia como farsa.

Daquela vez ficou acertado que a autoridade presidencial se restringiria às ninharias do cotidiano econômico, enquanto que a vontade dos donos do PIB prevaleceria na tomada das grandes decisões macroeconômicas. Graças a tal pacto mefistofélico, nunca os banqueiros lucraram tanto quanto durante seu governo, conforme o próprio Lula várias vezes admitiu.

Agora vão vesti-lo com o traje verde de Robin Hood (certamente alugado numa loja de adereços teatrais!): querem que o vejamos como um presidente capaz de reduzir o imposto dos pobres e aumentar o dos ricos. De quebra (e isto vem mais ao encontro de suas propensões reais), extinguiria o congelamento das despesas federais, de forma que o Estado pudesse gastar à vontade no estímulo ao desenvolvimento y otras cositas más...
"Nunca antes neste país os banqueiros lucraram tanto"

Por que não foi adotado tal pacote Robin Hood em 2015, quando Dilma Rousseff iniciava seu segundo mandato? Teria sido melhor do que implicitamente renegar todas as posições defendidas pela esquerda ao longo dos tempos, agarrando-se ao neoliberalismo dos inimigos de classe como tábua de salvação. 

Mas, o diabo mora nos detalhes, como o de que seria um programa de governo intragável e inaceitável para o grande empresariado, que tudo faria para o inviabilizar. Tentar aplicá-lo estando no poder seria um convite ao golpe de Estado. Propô-lo como plataforma eleitoral será unir contra si todo o poderio econômico, político e de manipulação das consciências de que o capitalismo dispõe. 

Não é cartada a se cogitar seriamente no pior momento da esquerda brasileira e latino-americana neste século, quando a correlação de forças nos é francamente desfavorável. Vamos falar sério: algo assim depende muito mais de força nas ruas para sustentá-la do que de votos nas urnas para eleger sicrano ou beltrano. Não podemos esquecer que Dilma foi despachada para casa mediante um simples piparote parlamentar, sem que se registrasse nenhuma resistência digna de nota.

Seria tão estapafúrdio tentá-la neste momento que nos faz suspeitar de que seja apenas mais um pulo do gato: um subterfúgio para poder trombetear, no Brasil e no exterior, que Lula terá sido preso por pretender confrontar a gritante desigualdade econômica brasileira e não devido a condenações (justas ou injustas) a ele impostas pela Justiça, em função de crimes comuns.
Na hora do aperto Dilma oPTou pelo neoliberalismo

Então, a nova carta aos brasileiros se diferenciaria da primeira por não ser um compromisso assumido com o mercado mas tão somente trunfo demagógico, uma peça de propaganda enganosa similar à promessa de que o PT não faria o ajuste fiscal, repetida ad nauseam durante a campanha de Dilma em 2014. 

Tão logo assumiu o novo mandato, ela empossou Joaquim Levy com a principal tarefa de... fazer o ajuste fiscal.

É pela contumácia com que recorre a esses engana-trouxas característicos dos políticos profissionais que o PT hoje não passa de uma legenda queimada aos olhos dos cidadãos com um mínimo de espírito crítico. E foi se desqualificando junto aos formadores de opinião que ele iniciou a marcha para o fundo do poço onde hoje se encontra.

A esquerda tem de renascer pelas mãos de gente com mais integridade e credibilidade intacta, em todos os sentidos. 

E de nada adiantará o PT apenas transferir seus votos para o Psol e adotar Guilherme Boulos como simulacro de Lula, se as mudanças pararem por aí. 
Príncipe herdeiro é coisa de monarquias, Boulos!

Enquanto não fizer uma profunda autocrítica dos motivos que o levaram a sofrer em 2016 a pior derrota da esquerda brasileira desde o golpe de 1964, estará sinalizando que prefere fugir à responsabilidade pelos erros cometidos, sem adotar estratégia e táticas mais condizentes com os desafios atuais nem afastar as lideranças responsáveis pelo desastre recente.

Ou seja, prevalecendo a autocrítica zero serão mantidas suas opções pela conciliação de classe, pelo reformismo e pelo populismo. Então, estaria apenas começando a repetir a mesma trajetória que já fracassou uma vez e agora seria bisada em condições muito mais desfavoráveis.

Por último: a luta contra a desigualdade econômica é uma bandeira importante demais para ser utilizada como mero trunfo demagógico.

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails