O grotesco é o afeto que organiza o gozo fascista. E não qualquer gozo. Um gozo invertido, um prazer na destruição simbólica do outro.
A cada imagem que escancara corpos abjetos, seja o da travesti espancada, do indígena invisibilizado, do pobre ridicularizado, a base se nutre. Ri, compartilha, venera.
A gargalhada aqui é arma. Ela transforma a dor do outro em motivo de pertencimento.
Como na cena em que Bolsonaro imita uma pessoa morrendo com falta de ar durante a pandemia, zombando do desespero de milhares que agonizavam sem oxigênio nos hospitais.
Ou quando ri abertamente da morte de Rubens Paiva, desaparecido na ditadura.
Ou ainda quando despreza e desumaniza a memória de Bruno Pereira e Dom Phillips, assassinados na Amazônia, insinuando que "isso acontece com quem vai por ali".
Em cada um desses episódios, a dor do outro é convertida em espetáculo. A agonia vira punchline. O luto se torna palanque.
E é nesse teatro do escárnio que a base se reconhece, se reafirma, se alinha. Porque o grotesco aqui não é acidente. É doutrina. (trecho do artigo O mártir apodrece, o algoritmo alimenta: a guerra afetiva do grotesco de Bolsonaro, de Reynaldo José Aragon Gonçalves, cuja íntegra pode ser acessada no Brasil247)
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Observação -- esta constatação da afinidade do fascismo com as baixarias mais repulsivas e degradantes já não aparece na imprensa e nas redes sociais com a frequência de outrora, daí eu ter decidido publicar o trecho que considerei mais significativo no texto do Reynaldo Gonçalves, ao mesmo tempo que recomendo a todos que leiam o artigo na íntegra.
Vale acrescentar que o filme mais maldito do Pier Paolo Pasolini, Saló ou os 120 dias de Sodoma (1976), bate exatamente nesta tecla. Só que hoje é muito difícil de encontrar, inclusive no streaming. E exige de quem o assiste um estômago pra lá de forte. (CL)
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