domingo, 27 de abril de 2025

FRANCISCO ERA UM LIBERAL QUE BUSCAVA COLOCAR A IGREJA CATÓLICA NO SÉCULO 19, MAS OS TEMPOS ATUAIS DÃO VITÓRIA A SEU ANTECESSOR.

 


O falecido Papa não era um homem de esquerda, apesar de ter angariado a simpatia de parte considerável da esquerda, órfã de lideranças e carente de um programa político robusto. De seu apoio à ditadura militar argentina e seu papel na perseguição a membros de sua ordem poucos falaram ultimamente, embevecidos com a retórica levemente progressista de Francisco. 

Jorge Mario Bergoglio ascendeu ao trono de São Pedro após a renúncia de Bento XVI em 2013. Ratzinger havia se tornado Papa em 2005 com um programa francamente reacionário, mas desfocado em relação à sua época. Na realidade, ele havia chegado cedo demais, pois a onda neofascista ainda estava embrionária e a esquerda liberal vivia seu auge com Obama, Lula, Kirchner e outras figuras semelhantes dominando o espaço público. O resultado era sua solidão mundial, uma voz de extrema-direita isolada em um mundo progressista. Diante disso, ele resolve renunciar ao papado, abrindo uma crise na igreja cuja resposta veio através da eleição de um cardeal conservador, mas com mentalidade mais liberal, trazido, pela primeira vez, da América Latina. 

A imagem de Bento 16 não era das melhores...

Não poderia existir antítese mais perfeita com relação a Bento 16 que Francisco. O antigo papa era extremamente reservado e frequentemente aparecia com uma carranca pesada. Seu discurso era antipático e seu gosto pelo luxo e pela pompa do Vaticano era imenso. Seu sucessor, contudo, era pura simpatia, tinha o discurso familiar e empático, além de ter quase nenhum apego às pompas e ao luxo. 

A missão de Francisco era aproximar do mundo moderno uma instituição esclerosada e para isso combinava o papel do Papa de consciência moral do mundo, algo já muito usado por João Paulo II, com algumas medidas liberalizantes. Enquanto Bento 16 era adepto do slogan o mundo que se curve à igreja, Francisco tentava conduzir uma aproximação com a realidade do século XXI, mas visando alcançar os níveis de desenvolvimento do século XIX. No fim, ambos estavam coagidos pela mesma situação: a perda histórica de relevância da Igreja Católica no mundo, mas enquanto Ratzinger buscava fazer o mundo retroagir para se adequar ao ser da igreja, Bergoglio buscava faze-la se adaptar à situação histórica atual. 

Por ironia, o Papa que chegou cedo demais agora está vencendo, pois a situação mundial hoje é mais adequada ao programa de Bento 16 e não ao de Francisco. Por isso, não será surpresa se o novo pontífice escolhido for alguém mais à direita, um herdeiro de Ratiznger e não de Bergoglio. O que isso significaria para o futuro do catolicismo é difícil dizer, mas é pouco provável que a derrocada dessa religião seja freada na Europa e na América Latina. 

...ao contrário do risonho Francisco.

Entre os europeus, a igreja vai perdendo espaço para os ateus e os sem religião, enquanto que entre os latino-americanos, ela perde terreno sobretudo para os evangélicos, embora os sem religião também cresçam por aqui. Somente a África ainda mantém fidelidade, mas por ser um continente politica e economicamente fraco, a sobrevivência católica ali pouco acrescentaria na balança da geopolítica. Por onde se olhe, o catolicismo vai se tornando uma relíquia e seus papas cada vez mais oscilarão entre serem rabugentos saudosistas do passado e senhores simpáticos a falar vagamente sobre as preocupações do momento

De qualquer forma, é preciso ter sempre em mente que a mudança radical hoje necessária no mundo nunca virá do Vaticano ou dos templos, mas da luta organizada dos trabalhadores do povo em geral. (por David Coelho) 




Um comentário:

Angelo Genovesi disse...

Defendo profundamente e com total bravura esta postagem.
É justamente do nosso caráter e do nosso esforço constante, que conseguiremos construir um mundo mais justo, que dê a mais que sagrada igualdade a todos os seres humanos neste planeta.
Há décadas e décadas que acompanho pessoas realmente sérias, suar a camisa, para defenderem o direito ao MÍNIMO que deveria ser mais do que justamente concedido ao público sofrido que ainda sofrem duramente com a imensa desigualdade que ainda permanece duramente presente não só no Brasil, mas como no planeta todo.

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