Praticamente todas as minhas previsões sobre Jair Bolsonaro se confirmaram.
Assim, p. ex., quando os outros articulistas de esquerda davam como inevitável que o Exército o acompanharia na futura tentativa golpista, eu já contrapunha que tais fardados não derrubavam presidentes para colocar no poder tenentes despirocados por eles chutados da caserna. Só o faziam para empossar generais.
E, como hoje todos sabem, na hora H o Exército se recusou a marchar sob as ordens do Bozo.
Por que estou lembrando isto agora? É porque, na micareta do último domingo (6) na avenida Paulista, um pastor qualquer, seguidor do Malafaia, disse ao microfone:
“Cadê esses generais de quatro estrelas, do Alto-Comando do Exército? Cambada de frouxos, cambada de covardes, cambada de omissos. Vocês não honram a farda que vestem!".
Mas o pior ficou para o dia seguinte: ao invés de repudiar esse ataque insensato, Bolsonaro o apoiou!!!
Ou seja, ele hoje é um aspirante a golpista que, sem ter o Exército ao seu lado, jamais conseguirá dar o sonhado golpe, de forma que viaja na maionese ao hostilizar os verde-olivas, que levam extremamente a sério tais ataques à honra de seus comandantes.
O último fascistão brasileiro que bateu de frente com os fardados foi Plínio Salgado em 1938; era um líder muito superior ao Bolsonaro e, mesmo assim, perdeu a parada.
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Obrigado a dar baixa do Exército em 1988, Bolsonaro tudo fez para desmoralizar a farda quando presidente |
Agora se trata de um monumental tiro no pé. As relações entre o bolsonarismo e a alta oficialidade chegaram ao ponto mais baixo de todos os tempos.
Como eu consegui prever corretamente, com quatro anos de antecedência, que Bolsonaro, por mais que os bajulasse e até endinheirasse algumas centenas deles, não conseguiria comandar seus antigos colegas de farda? Foi me baseando nas conclusões que tirei sobre o Exército quando era seu prisioneiro político.
Sendo muito jovem e tendo sido por eles derrotado, os milicos me subestimaram: continuaram conversando à vontade. na minha frente, sobre assuntos neutros que não tivessem valor operacional para nossa guerrilha. Não perceberam ou não se incomodaram com eu estar o tempo todo os avaliando e tirando conclusões sobre eles.
Pena que esse aprendizado tenha sido desperdiçado pela esquerda, à qual sempre me dispus a fornecer análises que lhe fizeram muita falta. É uma das minhas maiores frustrações.
DO EXISTENCIALISMO AO MARXISMO -- Entre os 14 e os 17 anos, eu pensei seriamente num futuro como pensador de esquerda, seguindo o modelo de Jean-Paul Sartre. Mais por pragmatismo do que por qualquer outro motivo, acabei participando de um ativismo secundarista de inspiração marxista, pois sabia que o existencialismo ateu não floresceria por estas bandas e sentia necessidade de pertencer a um movimento.
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Batalha entre estudantes de esquerda e membros do CCC na rua Maria Antônia. Um secundarista foi assassinado. |
A tragédia brasileira era (e é) dilacerante demais para eu me conformar com o papel de sábio no topo da montanha.
Queria confrontar nossas iniquidades sociais, o que me empurrou para o lado dos que se dispunham a travar o bom combate. Mas não descartava uma volta à faina teórica, principalmente se viesse logo a redemocratização.
Só que 1968 me revelou quem eu realmente era. Participar da luta concreta me empolgou como nada o fizera na minha vida inteira, a cada dia me descobria agindo como antes não ousava, respondendo de bate-pronto aos desafios ao invés de refletir longamente sobre eles, seguindo a emoção do momento sem me questionar se a decisão que tomava era a politicamente correta. Na hora da ação, eu não refletia. Agia.
Minha alma não era a de um scholar, embora dominasse algumas ferramentas da intelectualidade. Entre a academia e a trincheira, percebi que sempre preferiria a trincheira.
E, ao longo destes 55 anos de militância, eu desenvolveria, principalmente, o talento de um comandante de Inteligência. Ou seja, a função que nunca pensara em desempenhar antes de a VPR me incumbir dela virou minha segunda natureza. Meus maiores acertos foram juntando fragmentos de informação para projetar cenários futuros que acabavam mesmo se tornando reais..
E minha maior mágoa foi a infinidade de ocasiões em que eu tentei alertar a esquerda de que suas linhas de ação eram desastrosas, sem conseguir que os dirigentes escolhessem as opções melhores que eu sugeria. Quantos desastres teriam sido evitados!
Eu percebia, evidentemente, que a grande maioria dos companheiros queria receber algo na linha das teses acadêmicas, com um lento e minucioso aprofundamento das questões, de forma que o momento propício para aquelas soluções acabava passando e elas caducavam sem uso. Confesso que até poderia jogar esse jogo, mas me repugnava profundamente agir como Marx já fulminara na sua 11@ tese sobre Feuerbach: "Os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo". (por Celso Lungaretti)
4 comentários:
“A esquerda deveria sair do estupor que a acomete e reagir antes que seja tarde demais”. Entrevista especial com Donatella Di Cesare
https://www.ihu.unisinos.br/650569-a-esquerda-deveria-sair-do-estupor-que-a-acomete-e-reagir-antes-que-seja-tarde-demais-entrevista-especial-com-donatella-di-cesare
https://www.ihu.unisinos.br/650607-r-1-trilhao-brasil-se-aproxima-de-gasto-historico-com-juros-por-conta-da-selic
https://www.dw.com/pt-br/investiga%C3%A7%C3%A3o-liga-crimes-no-cerrado-a-gigantes-da-moda-na-europa/a-68787528
Trump's new tariffs could impact all Americans financially. Here's how
https://trt.global/world/article/0f31ebc1af12
https://www.dw.com/pt-br/como-as-tarifas-de-trump-afetam-o-bolso-dos-brasileiros/a-72175026
Sobre o fantasma da recessão a "Terça-feira Negra” em 29 de outubro de 1929
https://www.ihu.unisinos.br/650533-shiller-nobel-de-economia-panico-e-recessao-mercados-intolerantes-ha-um-clima-semelhante-ao-de-29
Para Trump, as tarifas são uma panaceia contra a depressão. Professores de história, de outra forma
https://trt.global/world/article/258f1d0ee8bb
Sei não! se for mesmo isso, haveria uma guerra para reverter
https://pbs.twimg.com/media/GoFvRFNWAAAJudK?format=jpg&name=900x900
https://www.jb.com.br/brasil/2025/04/1055006-forcas-armadas-ja-foram-anistiadas-pelo-8-de-janeiro-diz-historiador.html
A vida uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem sentido algum.
Contingência pura!
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A dialética da contradição leva a destruição da relação contraditória.
A síntese dessa dialética marxista seria a sociedade sem classes.
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Não a vimos ainda.
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