quarta-feira, 9 de abril de 2025

"FROUXOS", "COVARDES" E "OMISSOS": ASSIM UM PASTOR DA LAIA DO MALAFAIA ATACOU GENERAIS NO ATO DA AV. PAULISTA

Praticamente todas as minhas previsões sobre Jair Bolsonaro se confirmaram. 

Assim, p. ex., quando os outros articulistas de esquerda davam como inevitável que o Exército o acompanharia na futura tentativa golpista, eu já contrapunha que tais fardados não derrubavam presidentes para colocar no poder tenentes despirocados por eles chutados da caserna. Só o faziam para empossar generais.

E, como hoje todos sabem, na hora H o Exército se recusou a marchar sob as ordens do Bozo.

Por que estou lembrando isto agora? É porque, na micareta do último domingo (6) na avenida Paulista, um pastor qualquer, seguidor do Malafaia, disse ao microfone:
“Cadê esses generais de quatro estrelas, do Alto-Comando do Exército? Cambada de frouxos, cambada de covardes, cambada de omissos. Vocês não honram a farda que vestem!"
Mas o pior ficou para o dia seguinte: ao invés de repudiar esse ataque insensato, Bolsonaro o apoiou!!!

Ou seja, ele hoje é um aspirante a golpista que, sem ter o Exército ao seu lado, jamais conseguirá dar o sonhado golpe, de forma que viaja na maionese ao hostilizar os verde-olivas, que levam extremamente a sério tais ataques à honra de seus comandantes. 

O último fascistão brasileiro que bateu de frente com os fardados foi Plínio Salgado em 1938; era um líder muito superior ao Bolsonaro e, mesmo assim, perdeu a parada. 
Obrigado a dar baixa do Exército em 1988, Bolsonaro
tudo fez para desmoralizar a farda  quando presidente

Agora se trata de um monumental tiro no pé. As relações entre o bolsonarismo e a alta oficialidade chegaram ao ponto mais baixo de todos os tempos.

Como eu consegui prever corretamente, com quatro anos de antecedência, que Bolsonaro, por mais que os bajulasse e até endinheirasse algumas centenas deles, não conseguiria comandar seus antigos colegas de farda? Foi me baseando nas conclusões que tirei sobre o Exército quando era seu prisioneiro político. 

Sendo muito jovem e tendo sido por eles derrotado, os milicos me subestimaram: continuaram conversando à vontade. na minha frente, sobre assuntos neutros que não tivessem valor operacional para nossa guerrilha. Não perceberam ou não se incomodaram com eu estar o tempo todo os avaliando e tirando conclusões sobre eles.

Pena que esse aprendizado tenha sido desperdiçado pela esquerda, à qual sempre me dispus a fornecer análises que lhe fizeram muita falta. É uma das minhas maiores frustrações.

DO EXISTENCIALISMO AO MARXISMO -- Entre os 14 e os 17 anos, eu pensei seriamente num futuro como pensador de esquerda, seguindo o modelo de Jean-Paul Sartre. Mais por pragmatismo do que por qualquer outro motivo, acabei participando de um  ativismo secundarista de inspiração marxista, pois sabia que o existencialismo ateu não floresceria por estas bandas e sentia necessidade de pertencer a um movimento.
Batalha entre estudantes de esquerda e membros do CCC
na rua Maria Antônia. Um secundarista foi assassinado.

A tragédia brasileira era (e é)  dilacerante demais para eu me conformar com o papel de sábio no topo da montanha. 

Queria confrontar nossas iniquidades sociais, o que me empurrou para o lado dos que se dispunham a travar  o bom combate. Mas não descartava uma volta à  faina teórica, principalmente se viesse logo a redemocratização.

Só que 1968 me revelou quem eu realmente era. Participar da luta concreta me empolgou como nada o fizera na minha vida inteira, a cada dia me descobria agindo como antes não ousava, respondendo de bate-pronto aos desafios ao invés de refletir longamente sobre eles, seguindo a emoção do momento sem me questionar se a decisão que tomava era a politicamente correta. Na hora da ação, eu não refletia. Agia. 

Minha alma não era a de um scholar, embora dominasse algumas ferramentas  da intelectualidade. Entre a academia e a trincheira, percebi que sempre preferiria a trincheira.

E, ao longo destes 55 anos de militância, eu desenvolveria, principalmente, o talento de um comandante de Inteligência. Ou seja, a função que nunca pensara em desempenhar antes de a VPR me incumbir dela virou minha segunda natureza. Meus maiores acertos foram juntando fragmentos de informação para projetar cenários futuros que acabavam mesmo se tornando reais..

E minha maior mágoa foi a infinidade de ocasiões em que eu tentei alertar a esquerda de que suas linhas de ação eram desastrosas, sem conseguir que os dirigentes escolhessem as opções melhores que eu sugeria. Quantos desastres teriam sido evitados!
Eu percebia, evidentemente, que a grande maioria dos companheiros queria receber algo na linha das teses acadêmicas, com um lento e minucioso aprofundamento das questões, de forma que o momento propício para aquelas soluções acabava passando e elas caducavam sem uso. 

Confesso que até poderia jogar esse jogo, mas me repugnava profundamente agir como Marx já fulminara na sua 11@ tese sobre Feuerbach: "Os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo". (por Celso Lungaretti)

4 comentários:

Anônimo disse...


“A esquerda deveria sair do estupor que a acomete e reagir antes que seja tarde demais”. Entrevista especial com Donatella Di Cesare
https://www.ihu.unisinos.br/650569-a-esquerda-deveria-sair-do-estupor-que-a-acomete-e-reagir-antes-que-seja-tarde-demais-entrevista-especial-com-donatella-di-cesare

https://www.ihu.unisinos.br/650607-r-1-trilhao-brasil-se-aproxima-de-gasto-historico-com-juros-por-conta-da-selic

https://www.dw.com/pt-br/investiga%C3%A7%C3%A3o-liga-crimes-no-cerrado-a-gigantes-da-moda-na-europa/a-68787528

Trump's new tariffs could impact all Americans financially. Here's how
https://trt.global/world/article/0f31ebc1af12

https://www.dw.com/pt-br/como-as-tarifas-de-trump-afetam-o-bolso-dos-brasileiros/a-72175026

Sobre o fantasma da recessão a "Terça-feira Negra” em 29 de outubro de 1929
https://www.ihu.unisinos.br/650533-shiller-nobel-de-economia-panico-e-recessao-mercados-intolerantes-ha-um-clima-semelhante-ao-de-29

Para Trump, as tarifas são uma panaceia contra a depressão. Professores de história, de outra forma
https://trt.global/world/article/258f1d0ee8bb

Anônimo disse...

Sei não! se for mesmo isso, haveria uma guerra para reverter
https://pbs.twimg.com/media/GoFvRFNWAAAJudK?format=jpg&name=900x900

Anônimo disse...

https://www.jb.com.br/brasil/2025/04/1055006-forcas-armadas-ja-foram-anistiadas-pelo-8-de-janeiro-diz-historiador.html

SF disse...

A vida uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem sentido algum.
Contingência pura!
***
A dialética da contradição leva a destruição da relação contraditória.
A síntese dessa dialética marxista seria a sociedade sem classes.
*
Não a vimos ainda.

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