sexta-feira, 22 de novembro de 2024

A VIDA DE PRESIDENTES IMPORTA MUITO PARA LULA. A DAS VÍTIMAS DA DITADURA MILITAR, NEM TANTO.

"Q
uero agradecer, agora muito mais, porque estou vivo. A tentativa de me envenenar, eu e o Alckmin, não deu certo.
"

A frase do Lula me fez lembrar uma verdadeira pérola da sabedoria popular: "Pimenta no olho dos outros é colírio".

Pois o mesmo Lula que ora agradece aos céus por ter sobrevivido aos planos dos golpistas trapalhões, jamais deu o mesmo valor à vida dos combatentes executados pela ditadura militar. 

Assim, ignorou olimpicamente o sofrimento das famílias desses mártires brasileiros, que queriam ao menos ver punidas as bestas-feras que assassinavam prisioneiros indefesos, torturavam bestialmente cidadãos (inclusive pela mera suspeita de que fossem subversivos), estupravam quem lhes apetecesse, seviciavam pais na frente de suas crianças para quebrar-lhes a resistência, davam sumiço em restos mortais dos opositores, etc., escrevendo uma das páginas mais vergonhosas da História brasileira.

Como a anistia de 1979 igualava as vítimas da ditadura a seus carrascos, impedindo que os torturadores fossem processados pelo festival de horrores que perpetraram nos anos de chumbo, dois ministros de Lula se dispuseram em 2007 a lutar pela revisão de tal lei, primeiro passo para os responsáveis por aqueles crimes hediondos poderem ser alcançados pelo braço da lei.

Sob pressão de comandantes militares, o então presidente Lula
proibiu Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) de  levantarem a bandeira da revisão da anistia de 1979 em nome do Executivo. 

Determinou que ambos, ao invés disto, apenas apontassem aos queixosos o caminho dos tribunais. E que multiplicassem as homenagens oficiais àqueles que haviam entregado a vida na luta pela liberdade. 

Com isto, a punição criminal dos torturadores ficou inviabilizada para sempre. 

Se os golpistas trapalhões houvessem tido êxito em envenenar Lula, o que deveríamos fazer: esforçarmo-nos ao máximo para que fossem devidamente punidos ou bastaria criarmos um monte de homenagens à memoria desse presidente que não ousou confrontar os criminosos do regime anterior?

E não é de agora que digo isto: cansei de, então, escrever artigos como este, protestando contra a decisão do Lula de passar pano para tais agentes do terrorismo de estado.

E tem mais: o companheiro Rui Martins e eu lançamos em 2009 a proposta de criação de uma lei específica para coibir a negação das atrocidades cometidas pelo regime militar. 

Afinal, número de mortos à parte, não havia diferença qualitativa entre a negação do Holocausto e a negação da nossa ditadura (que jamais foi uma ditabranda, tal qual a Folha de S, Paulo pretendeu). 

Como Lula e o PT optaram por tirar o corpo fora, um medíocre deputado fluminense pôde continuar endeusando os verdugos da ditadura e, em especial. o torturador-símbolo do Brasil, Brilhante Ustra.  

Então, não é de estranhar que, 15 anos depois, tal aberração gere sequelas como o plano dos golpistas trapalhões. de assassinarem numa fornada só Lula, Alckmin e Moraes. 

O ovo da serpente eclodiu! (por Celso Lungaretti)

2 comentários:

Anônimo disse...

O Zé Simão escreve que o 'Brazíu' é o país da piada pronta. Afinal, é a nação sem noção, da pataquada pronta. A vergonha nacional com orgulho 'et coetera', onde o cocô é troféu

Angelo Genovesi disse...

Concordo e sempre concordarei inteiramente com você, Celso. A punição mais do que justa contra os responsáveis pelos métodos sujos tão usados durante o pior período do governo militar no Brasil, deveria não só ter acontecido já há décadas, como isso também seria uma maneira fundamental de impedir toda essa hipocrisia "democrática" que ainda temos que ver em pleno século 21. É realmente vergonhoso para nós brasileiros continuarmos ver todo esse circo que nos desrespeita insuportavelmente.
Entristece duramente ver o Brasil regredindo dolorosamente na humanidade.

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