Ao lutarmos com grande inferioridade de força... |
Então, a decisão de comentar agora a minha participação na eleição para vereador paulistano em 2012 não se deveu, de forma nenhuma, a porventura ter-me sentido atingido pela afirmação do Dalton, de que considera aquele episódio uma mancha no seu currículo. Longe disto. Percebi claramente que ele estava aludindo apenas a si próprio.
Contudo, ao levantar o assunto, o Dalton deu-me o que nós, jornalistas, chamamos de gancho para passar a limpo o episódio que me diz respeito.
O fato é que eu me deixei empolgar pela receptividade e pelos resultados do meu trabalho como principal defensor nas redes sociais do companheiro Cesare Battisti. Era um jornalista experiente vocalizando as versões do comitê de solidariedade e, como tal, conseguia responder rapidamente aos ataques da imprensa burguesa e travar batalhas contra vários jornalões e revistonas ao mesmo tempo.
Entre o final de 2008 (quando o caso esquentou com a decisão do Conare de não conceder-lhe o status de refugiado político) e o primeiro semestre de 2011 (em cujo dia 9 de junho o libertaram), foram cerca de 250 textos diferentes que eu produzi em favor do Cesare, rebatendo as falácias dos partidários de sua extradição, exigida com toda a arrogância do mundo pela Itália.
...não podemos abrir mão de todas oportunidades táticas... |
Afora a profusão de páginas virtuais que reproduziam parcial ou totalmente meus artigos, entusiasmou-me a atitude de jornalistas da grande imprensa que me confiavam informações de bastidores valiosíssimas para o direcionamento da atuação do comitê de solidariedade. Naquelas condições de extrema inferioridade de forças, só poderíamos vencer se os inimigos errassem muito e nós acertássemos o tempo todo. E foi o que aconteceu.
Quando o Psol, logo depois, me convidou para ingressar nas suas fileiras e concorrer à vereança em São Paulo, vislumbrei uma possibilidade de repetir quase o mesmo tipo de atuação: se eleito, incumbiria os dez funcionários (que cada vereador tem o direito de contratar às expensas da Câmara) de uma única missão: investigar escândalos dos governos municipal e estadual.
Os jornalistas apoiadores talvez continuassem me passando dicas importantes. E outros colegas da imprensa poderiam noticiar e aprofundar as denúncias que eu fosse apresentando na tribuna da Câmara. Ou seja, o mandato seria para mim uma nova frente de batalha e eu passaria longe dos esforços dos vereadores por profissão, no sentido de agradarem eleitores e eternizarem-se no cargo.
O que deu errado? A minha ingenuidade em supor que a esquerda da década passada ainda fosse a mesma que antes elegia não os candidatos que mais atraíssem votos, mas sim os que pudessem fazer mais pelo partido no combate incessante à direita e ao capitalismo. Esta era a tradição do velho PCB, por exemplo.
Antes da desmoralização por não oferecer resistência digna deste nome ao golpe de 1964, a postura adotada no partidão era a de os militantes, aliados e simpatizantes votarem em quem o partido determinava, pois sua prioridade era ter como representantes no executivo ou legislativo quadros à altura do papel que lhes caberia desempenhar, tanto em termos de formação política quanto de combatividade.
...desde que tenhamos clareza quanto a quem realmente somos e quais são nossos inimigos inconciliáveis... |
Mas, não havia tal despojamento e espírito de sacrifício no Psol, tanto que uma tendência de âmbito federal e sua adversária municipal travavam uma verdadeira briga de foice no escuro para que fosse um dos seus quadros o único vereador que o partido conseguiria eleger. Quanto apego aos nacos de poder!
Eu, que sempre detestei as disputas por poder entre companheiros do mesmo partido e que só me sentia verdadeiramente revolucionário quando enfrentava o inimigo de classe, fiquei como peixe fora d'água, amaldiçoando-me por não ter previsto que promessas seriam descumpridas e decisões inaceitáveis tomadas em função do emocionalismo despertado pela rinha entre tendências.
Contara ser apoiado e acabei é sendo boicotado, assim como outros companheiros que tinham chances de obter votações expressivas, pois convinha à minha tendência concentrar o máximo de votos naquele candidato no qual resolvera apostar suas fichas, a fim de que superasse o favorecido pela direção nacional.
Mas, não me senti envergonhado de receber apenas 355 votos, nem por, já sexagenário, haver tido um acesso de voluntarismo. Afinal, todas as lutas que travei na vida foram desiguais, os inimigos de classe sempre dispuseram de mais gente e mais recursos, e mesmo assim algumas terminaram em vitórias simplesmente porque eu e companheiros abnegados não desistimos e fomos procurar brechas nas imponentes muralhas contra nós erguidas.
Esta é a realidade de quem combate o capitalismo nestes tristes tempos presentes. Para compensar a falta de tantos outros trunfos, precisamos improvisar o tempo todo e aproveitar da melhor maneira possível os espaços que a democracia burguesa é obrigada a nos conceder para manter sua imagem de neutralidade.
...pois com os serviçais históricos da burguesia não há acordo possível! |
Para um verdadeiro revolucionário, não passam de opções táticas como tantas outras. O objetivo estratégico é a tomada de poder para damos fim à exploração do homem pelo homem e à priorização do lucro em detrimento das necessidades e das melhores aspirações humanas.
Ser presidente da república, no desenho institucional da democracia burguesa, significa ser tão somente o serviçal número um do poder econômico. Pode ter alguma utilidade, mas nem de longe é nosso ponto de chegada.
A virtude está no meio, dizia Aristóteles. Eu acrescento que a obsessão pela conquista de uma posição de poder na verdade subalterna, que em si não garante a transição para uma sociedade regida pelo bem comum e pela liberdade plena, está é na beirada do grande sonho acalentado pela humanidade através dos tempos.
Por último. Num país como o nosso, tão acostumado a refugar na hora de lutar e a chegar entre os últimos da fila aos grandes momentos de afirmação nacional (independência, abolição da escravatura, proclamação da república, fim das ditaduras fascistas do século passado, etc.), talvez seja de maior proveito, ao invés do aristotélico, um lema bem mais em falta.
O do comandante Lamarca: ousar lutar, ousar vencer. A forma de luta mudou, mas o espírito combativo continua sendo necessário... e muito! (por Celso Lungaretti)
3 comentários:
Chefe da ONU alerta líderes globais: o mundo está em 'grande perigo'
https://apnews-com.translate.goog/article/united-nations-general-assembly-world-in-peril-397d6a04bf2cc49c073d1b1dc6799eeb?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt
https://www-nytimes-com.translate.goog/es/2022/09/16/espanol/opinion/putin-petroleo-guerra.html?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt
Líderes indígenas pedem que empresas e bancos parem de apoiar o desmatamento
https://www-theguardian-com.translate.goog/environment/2022/sep/21/indigenous-leaders-amazon-rainforest-businesses-banks?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt
'Os poluidores devem pagar': chefe da ONU pede imposto sobre lucros inesperados para empresas de combustíveis fósseis
https://www-theguardian-com.translate.goog/world/2022/sep/20/un-secretary-general-tax-fossil-fuel-companies-climate-crisis?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt
Sergio Moro vira um rato de terno em mostra da artista Rivane Neuenschwander
https://f.i.uol.com.br/fotografia/2022/09/21/1663746930632ac3723f0f8_1663746930_3x4_lg.jpg
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