dalton rosado
A ESQUIZOFRENIA SOCIAL CAPITALISTA
Os cidadãos recebem ordens de uma forma de relação social abstrata que se incorpora concretamente sob a forma de mercadorias, impondo-lhes códigos comportamentais alheios à sensatez humana.
Como se admitir a liberação das relações sociais normalizadas num país que não tem vacinas, com isto provocando um aumento do morticínio já em curso e um caos médico-hospitalar-pandêmico como o que se observa hoje na Índia, onde os cadáveres são cremados nas fogueiras acesas em plenas ruas, por falta de crematórios e logística de sepultamentos em cemitérios?
As manifestações negacionistas no Brasil, mesmo que os seguidores do Boçalnaro, o ignaro tenham manipulado as imagens para o contingente de bovinizados parecer maior, são emblemáticas, pois mostram uma parcela da população teleguiada pelo sujeito-automático da forma-valor, que a impele ao suicídio coletivo.
Tal estágio de loucura grupal não é fenômeno novo.
Na Alemanha nazista, a maioria dos cidadãos se surpreendeu quando começaram os bombardeios aliados sobre Berlim, porque fora convencida de que a superioridade aérea germânica impediria qualquer ataque aéreo.
O fanatismo hitlerista, incentivado pela propaganda radiofônica, pelos majestosos bandeiraços com suásticas e pelas solenidades em que figurões nazistas personificavam força e poder em encenações bem estudadas levavam a população ao delirante convencimento da superioridade ariana, que deveria servir como exemplo e guia para a humanidade.
Tratava-se de uma lavagem cerebral coletiva martelando que a espécie humana poderia evoluir a partir dos padrões da mitologia ariana; o bombardeio de mistificações e a recuperação econômica faziam a junção das falsas virtudes com a real prosperidade ocorrida a partir da ascensão ao poder institucional de Adolf Hitler em 1933, após a aguda penúria subsequente à derrota na 1ª Guerra Mundial, à hiperinflação de 1923 e a Grande Depressão iniciada em 1929.
Era o cenário perfeito para uma loucura coletiva manipulada por um partido racista e militarista, que terminou por provocar uma nova guerra mundial e matar cerca de 3% da população do planeta; tal percentual corresponderia, hoje, a cerca de 220 milhões de pessoas, ou seja, 60 vezes mais que os aproximadamente 3,.32 milhões de mortos até agora pela covid-19. Por que um fanático religioso como Jim Jones conseguiu convencer 918 pessoas ao cometimento do suicídio coletivo, na floresta amazônica da Guiana, como forma de todos ganharem o reino dos Céus?
Por que pilotos japoneses, os kamikazes, tomavam o cálice da vida eterna e da honra patriótica antes de entrarem num avião bomba a ser implodido contra os navios de guerra dos aliados?
Por que os fundamentalistas islâmicos ateiam bombas às suas cinturas e as explodem, matando centenas de pessoas em nome de uma prometida vida eterna com haréns de belas virgens à sua disposição e outros privilégios?
Tudo isto aconteceu (e ainda acontece) em nome de crenças políticas e/ou religiosas que impelem tais crédulos ao fanatismo cego, embotando as suas mentes de forma a vedar-lhes o questionamento dessas lorotas infames.
Temos, portanto, de compenetrarmo-nos do perigo que representa o fanatismo decorrente de conjunturas sociais depressivas manipuladas por falsos profetas que conseguem aliar o interesse da classe dominante na manutenção da dominação e a ignorância popular sobre as complexas causas de base dos seus infortúnios.
O capitalismo, na fase atual de sua decomposição orgânica e funcional, é o ambiente propício para a disseminação ilimitada de insanidades.
Quando vejo quem tem parentes nas UTIs de covidados e, ainda assim, defende o fim do isolamento a partir da falsa dicotomia entre morrer pela infecção ou por falência dos seus negócios e perda de privilégios, compreendo melhor como funciona a mente humana diante desse processo esquizofrênico que corresponde ao comando externo do capital e sua irracionalidade, ainda bem presente na nossa segunda natureza, dita racional.
O raciocínio simplório de um trabalhador de salário-mínimo que afirma ser contra a existência de entidades de defesa dos direitos humanos em razão dos direitos humanos das vítimas de violências urbanas, derivando de conceitos retrógrados e conservadores generalizações descabidas e desqualificadas, fico a pensar quão fácil é se manipular consciências incapazes de fazer análises mais profundas dentro de um contexto social mais abrangente e complexo.
Os dois comportamentos têm a mesma origem, mesmo que sob racionálias diferenciadas:
Para quem será o causador da morte de centenas de de milhares, o assassino de 918 não passa de amador |
— tanto o do empresário temeroso da falência dos seus negócios e com ela dos seus privilégios;
— como o do trabalhador oprimido que crê na redenção do seus sofrimentos a partir de bravatas conservadoras e superficiais como as que os boçalnaristas do gabinete do ódio e respectivas redes espalham entre seguidores energúmenos.
Estes, por sua vez, creem piamente que as dificuldades presentes se devam aos governantes anteriores, como se tudo se circunscrevesse a uma questão de gerenciamento governamental e o Boçalnaro fosse mesmo um messias, tal qual os pastores da mercantilização da fé aclamam
Os dois raciocínios têm um mesmo viés que lhes garante alguma credibilidade: a ignorância sobre o devir que podemos alcançar; e o medo do desconhecido, que leva os desafortunados desejaram uma volta ao passado sofrido, mas, ainda assim, menos ruim do que o presente devastador.
Vivemos um momento de tensão social causada pela conjunção destes dois fatores explosivos:
1. a depressão capitalista causada pelo limite interno de sua expansão, sem a qual ele colapsa, agravada por fatores extemporâneos como a depressão causada pelo isolamento social necessário face à pandemia;
2. o estresse aliado às paranoias decorrentes do impressionante número de vítimas fatais do coronavírus, maximizado no Brasil pela obtusidade irresponsável de um governante bronco e insensível.
A tensão social cria falsas dicotomias.
A mais importante delas é a oposição entre democracia burguesa e suas instituições incapazes de solucionar os problemas sociais em razão de que atuam sob um pressuposto de mediação social exaurido (o capitalismo) e a defesa de tais instituições como barreira de contenção de uma ditadura militar ou civil.
Tais correntes de pensamento se digladiam como se não fosse possível a existência de alternativa às a ambas. Elas representam as margens estreitas que comprimem o rio e torna violenta a sua correnteza que tudo arrasta (Bertold Brecht).
Há que se romper a aprisionamento do pensar, pois só assim se viabilizará uma alternativa social que represente a superação do estágio inferior da nossa racionalidade atual. (por Dalton Rosado)
5 comentários:
o Dalton ainda nao tinha decretado o fim do capitalismo nenhuma vez este ano,,,já nao aguentava mais esperar...que alivio
Caro Valmir,
que maldade esse negócio de querer acabar com o capitalismo, não é?
Uma relação social que promove o pleno emprego e oferece salários confortáveis a todos que queiram trabalhar; que oferece educação de qualidade para todos; bem como saúde e assistência médico-hospitalar à população capazes de fazer inveja aos internos do Hospital Albert Einstein; legislação elaborada por um parlamento composto de cidadãos admirados pela população e devotados à causa pública e que protege o cidadão comum, além de ser capaz de coibir qualquer indício de injustiça graças aos seus indiscutíveis e reconhecidos critérios de isonomia e igualdade de direitos legais; um poder judiciário que julga com isenção e sensibilidade humanista, e é imune às influencias externas de qualquer natureza; que permite a todos o direito a moradias dignas e com infraestruturas urbanísticas eficientes e bem projetadas (energia, água, esgoto, pavimentação, etc.); que oferece um sistema de transporte urbano confortável e espaçoso; que promove a paz e tem percentagens insignificantes de risco de morte por violência urbana, ou quase inexistentes; policiais educados e que nem precisam portar armas em razão da credibilidade e respeitabilidade que inspiram à população; baixo índice de criminalidade social; presídios com poucos internos e tratados como seres humanos tendentes a uma reabilitação por eventuais crimes cometidos; governantes probos e completamente dotados de sentimentos de doação ao serviço público, e que atuam num sistema de poder político vertical mas emanado da vontade popular e que em nome dela é exercido; preservação ecológica a partir de critérios de sustentabilidade que purificam o ar que respiramos e protege a camada de ozônio contra a emissão de gases poluentes, e com preservação da mata florestal com remanejamentos científicos de arvores e uso dos recursos naturais (fauna, flora, minerais e hídricos); critérios de sociabilidades baseados da solidariedade entre as pessoas e a competitividade se circunscrevendo apenas ao sentimento de melhor contribuir socialmente à coletividade e dela receber reconhecimento social; crianças e idosos que sejam portadores de doenças graves congênitas ou adquiridas sendo protegidos por procedimentos de assistências sociais que confortam e restabelecem dentro das possibilidades; governantes que ouvem a ciência e valorizam os cientistas que descobrem vacinas e promovem a profilaxia contra epidemias que são tratadas com responsabilidade nos seus nascedouros... (continua)
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...laboratórios médicos que têm uma única preocupação, qual seja a cura dos doentes graças aos investimentos vultosos feitos em pesquisas científicas; relações diplomáticas internacionais que tendem a ser transnacionais, vez que a união dos povos progride de modo ao convício fraterno, como o que se observa nas fronteiras nacionais, nas quais todos são recebidos de braços abertos como irmãos de raça (aí incluídos os habitantes de Jerusalém, que convivem hoje harmoniosamente); Ufa... Muito ainda se teria a dizer quanto às maravilhas da relação social capitalista, mas já falta espaço da minha mente regozijada por tantas virtudes...
Desculpe se me esqueci de elencar algumas das muitas virtudes do capitalismo, fato que deve ser debitado na conta cerca de 50 anos desses meus 71 de vida tentando combater inadvertidamente algo tão virtuoso...
Ah, ia me esquecendo: que maravilha esta forma de relação social que está transformando a força militar, outrora beligerante e treinada para a guerra, agora unicamente em serviço de assistência social de primeiros socorros, catástrofes de acidentes, climáticas ou sanitárias, nas quais ao invés de tiros e bombas, os jovens que ali prestam serviços aos 18 anos, aprendem apenas como salvar vidas num cenário de paz mundial, vez que o capitalismo conseguiu harmonizar as relações humanas e edificá-las num estágio superior de suas capacidades intelectuais.
Como é que alguém pode querer (e sem poder para tal) decretar o fim de um paraíso como este????
Faço aqui minha autocrítica solene diante de tão profunda análise elogiosa ao meu artigo... Dalton Rosado.
PS: obrigado por me ler sempre, apesar do enfado...
aahhh..ótimos argumentos...deve ser por isso que as pessoas continuam enfrentando oceanos de tempestades furacões e tubarões pra Fugir de Miami a nado em direção a Cuba...ou para a Venezuela..breve irão a pé para a Argentina.
Não vale dizer que são ingênuos iludidos pela propaganda do capitalismo pq quase todos tem parentes que vivem no inferno capitalista há anos...
Oi Valmir,
o problema de Cuba (como da Coreia do Norte e outros exemplos similares da história) é que lá se pratica o capitalismo na forma de relação social. Apesar da sensibilidade para com a sua expressiva população de origem africana, que tem propiciado aos seus habitantes dessa etnia alfabetização e assistência médica diferenciada, se compararmos com seus irmãos da América Central e do Sul, lá ainda estão presentes todas as categorias capitalistas (dinheiro, mercadorias, extração de mais valia pelo trabalho abstrato, Estado forte, etc.).
A única diferenciação se dá no campo político, com um governo forte que decide sobre o que fazer e exige cumprimento dos preceitos do marxismo tradicional, que é antimarxiano por excelência.
Os países da América Ventral, como de resto os da América do Sul, querem ir para a ilha de prosperidade capitalista (embora artificial) chamada Estados Unidos porque é lá que estão concentradas as riquezas extraídas dos povos explorados pelo capitalismo nestas bandas americanas.
Se todos os povos pudessem usufruir dos gozos permitidos aos exploradores o capitalismo seria uma maravilha; mas a riqueza de uns está da exata dimensão da pobreza da maioria. Esta é a regra que o pensamento superficial, oportunista e elitista jamais poderá enxergar.
Obrigado por promover o debate. Dalton Rosado
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