terça-feira, 25 de maio de 2021

A VIDA NÃO É, NEM PODE SER REDUZIDA A UM RELES LEVANTAMENTO CONTÁBIL DOS HAVERES E DEVERES FINANCEIROS! – 1

dalton rosado
SERÁ QUE VAMOS APRENDER?
Dia a dia tomamos conhecimento da morte por covid de pessoas bem próximas de todos nós, das muitas outras conhecidas por sua posição social, de celebridades que pontuam no noticiário, etc., além das centenas de milhares de anônimos que se transformam em estatísticas macabras. 

Testemunhamos mortes horrendas por asfixia e desespero; mães e pais que deixam filhos menores órfãos numa sociedade que não protege suficientemente crianças e velhos, e na qual quem não produz valor não come, independente da sua capacidade ou circunstâncias sociais. 

Mas, mesmo assim, o fetichismo da mercadoria nos impele à chamada fuga para a frente, ou seja, a volta à (a)normalidade da vida social capitalista na qual somos obrigados a decidir entre nos isolarmos socialmente (coisa que apenas poucos podemos fazer) ou enfrentarmos os riscos de uma contaminação e morte à mingua.  

[Isto porque a maioria da população brasileira não possui plano de saúde, só lhe restando a angustiosa opção de disputar vagas em hospitais superlotados.]

Nesta pátria antes amargurada do que amada, vige a insensibilidade genocida de um governo que negligenciou a compra de vacinas ao mesmo tempo em que se insurgia contra os conceitos médicos predominantes; ademais, a alternância disparatada de ministros da Saúde gerou agudo descompasso administrativo.

Dá a impressão de que, além da incompetência flagrante, exista uma deliberada intenção de causar a morte das pessoas idosas como forma de
abater despesas para aliviar a deficitária previdência social pública, dando sequência ao plano de corte dos direitos previdenciários de quem dela necessita. 

O certo é que, após terem contribuído a vida inteira para desfrutarem de uma vida amparada na velhice, há hoje anciãos obrigados a mendigar, ou quase isso. 

Existe, ademais, um crime de lesa-humanidade que precisa ser apurado (a História nos cobrará se formos negligentes quanto a ele!): não há quaisquer dúvidas de que mais de uma centena de milhares de mortes poderiam ter sido evitadas se tivéssemos adotado critérios científicos de enfrentamento da mais grave crise humanitária do pós-guerra. 

Os governos, todos os governos, administram as finanças públicas a partir da relação receita/despesa como conceito de bem administrar. O povo que se lixe... 

gota d’água que fez transbordar o cálice da insatisfação de petistas menos fisiológicos no início do Governo Lula, provocando a dissidência de parlamentares e, indiretamente, a criação do Psol (que também quer ser governo e submeter-se à tirania econômica capitalista institucional), foi justamente a proposição de uma reforma previdenciária que retiraria direitos dos previdenciários, iniciativa inimaginável quando é um partido de trabalhadores que está governando o país. 
Apesar do empenho dos dirigentes, a resistência das bases petistas acabou emperrando tal reforma trabalhista de configuração neoliberal, mas os governos seguintes, do
Presidente Temerário e de Boçalnaro, o ignaro, trataram de viabilizar a entrega ao grande capital do troféu exigido. 

Keynesianos estatistas e liberais defensores do mercado como fonte de equilíbrio das relações sociais se igualam na crise do capitalismo que tentam administrar, e é justamente o comando abstrato e absolutista de uma forma de relação social baseada na contabilidade atuarial entre receitas e despesas numericamente dimensionadas aquilo que lhes impõe a obediência cega ao genocídio.

Como estamos cansados de dizer, a produção de mercadorias e tudo dela decorrente, seja no plano econômico, do direito ou da organização social, produz conceitos do que seja certo ou errado justificando a morte em nome de seus absolutistas critérios contábeis. 

A vida não é nem pode ser reduzida a um reles levantamento contábil dos haveres e deveres financeiros!

Tenho uma amiga que está internada com covid, felizmente melhorando aos poucos; mas me telefonou aflita do seu leito hospitalar, pedindo ajuda em razão da pressão telefônica que estava sofrendo com as insistentes cobranças de mensalidades em atraso do colégio particular no qual seus filhos estudam. 

Argumentei com a diretora do colégio que tais cobranças eram impróprias naquele momento de angústia pelo qual a minha amiga está passando

A fulana, entretanto,  contrapôs que era responsável pela sobrevivência do colégio e pelo pagamento dos salários dos professores. 
Ou seja, a desumanidade se assenta sobre uma forma de relação social na qual critérios financeiros prevalecem sobre tudo e sobre todos.

O absurdo de tal situação é que se trata de um comando externo, econômico-financeiro, o que está na base do sofrimento da minha amiga, servindo como justificativa plausível (mas, na verdade, indesculpável) da direção do colégio para atitude tão calhorda. (por Dalton Rosado)  
(continua neste post)

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