Vai acabar o Brasil da época de minha mocidade e de ainda há alguns anos. O Brasil da alegria solta e descompromissada, que fez nosso sucesso no estrangeiro.
O Brasil do Ari Barroso, Dorival Caymmi, Chico Alves, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e tantos outros cantando nossa maneira livre de viver, nossa irreverência, nosso gosto pelo sabor do pecado, pelo rebolar das cabrochas, pelas morenas dengosas, nossas gargalhadas gostosas, nosso riso incontido, nossa inconsequência, nosso samba, nosso Carnaval... tudo isso acabou, vivemos agora uma 4ª feira de cinzas sem fim.
E de onde nos vem essa desgraça, essa maldição, essa tristeza constante, esse olhar perdido de condenados, esse medo do além, esse desejo de submissão, essa vontade covarde de criar calos nos joelhos dobrados, esse remoer de novenas, esses cantos soturnos de salmos e hinos de condenados, anestesiados de tanto ouvir o repetir de mentiras, sem coragem e nem força de se rebelar?
Quem nos roubou nossa consciência de povo feliz, mesmo na pobreza mas sempre na luta por conquistas sociais, aqui, agora, para nossos filhos e nossos netos. Quem promete o paraíso em troca de uma vida no inferno?
É uma praga, que se alastra, corrói e destrói. Mais forte que o coronavirus porque justifica o genocídio, rejeita as vacinas, se opõe ao confinamento e aceita esse tipo de holocausto como uma vontade divina indecifrável ou castigo mesmo imerecido, ou ainda sinal de fim do mundo, que nega existir um culpado.
Essa praga tem um nome chama-se fanatismo e só cresce e se desenvolve em terreno incultos, regados pela ignorância.
É uma degenerescência da mensagem de paz e amor, no contato com o cultivo do ódio, adubado com o mais baixo populismo, por aproveitadores, hipócritas e enganadores da pior espécie.
Quem poderia prever que do protestantismo —um dos elementos detonadores e inspiradores, no século XVI, dos movimentos de ruptura com as trevas medievais do absolutismo religioso e político, dos quais decorreram a liberdade de interpretação das Escrituras antes intocáveis e, por tabela, a liberdade de expressão e a democracia— iria sair essa excrecência evangélica dos nossos dias?
Hoje os evangélicos são cerca de 70 milhões de pessoas, cerca de um terço da população, e a principal coluna de apoio do governo Bolsonaro.
Difícil de entender como o programa de governo do candidato Bolsonaro atraiu os evangélicos, mais difícil ainda de compreender como essa base de apoio se manteve fiel diante da crise do coronavírus, tornando-se negacionista com relação às vacinas e ao confinamento, sendo envolvida pelas teorias de conspiração de QAnon, acreditando piamente nas notícias falsas (ou fake news) distribuídos pelo chamado gabinete do ódio.
O evangelismo brasileiro deixou de ser um movimento religioso reacionário, um subproduto de seitas populares evangélicas estadunidenses, para se transformar num movimento neofascista de sustentação do governo Bolsonaro.
Como isso ocorreu, e tão rapidamente, a ponto de logo suplantar o tradicional culto católico, merece uma pesquisa aprofundada.
Os evangélicos seguidores de Bolsonaro, pouco diferem dos evangélicos seguidores de Trump, mesmo se existe uma contradição doutrinária com o credo político e com o comportamento desses dois políticos.
Fator novo na política brasileira, a fidelidade política decorrente de um fanatismo religioso teleguiado por redes de Internet e dirigido por pastores, na maioria sem formação teológica, na verdade espertos vendedores de planos de salvação post mortem, vai conduzir o Brasil a um retrocesso social ditado por princípios religiosos.
A reabertura das igrejas para os fiéis, por decisão do mais recente juiz do STF nomeado por Bolsonaro, é mais que sintomática. Hoje os demais juízes reagem, porém estão previstas novas substituições por Bolsonaro, uma delas já prometida aos evangélicos. Serão novos juízes que, durante algumas décadas, sedimentarão os novos comportamentos sociais defendidos pelo populismo evangélico.
Será o fim do teatro de críticas sociais e de certa liberdade, assim como será o fim da música brasileira irreverente e crítica substituída por canções próximas do gospel evangélico. Será o fim de todas as artes.
Se os partidos da oposição abrirem mão de um próximo pedido de impeachment de Bolsonaro, aceitando esperarem as eleições do próximo ano, será tarde demais.
Perderemos nossas grandes empresas, perderemos nossas liberdades e perderemos nosso jeito brasileiro de viver, de cantar e de rir. Bolsonaro e os evangélicos terão acabado com o Brasil. (por Rui Martins)
6 comentários:
Bom dia Celso. Esse senhor continua sendo mais do mesmo. Nunca vi um texto tão preconceituoso e agressivo. Para este senhor só vale oque ele pensa é a democracia dele. Cristãos evangélicos são oque senhor? A música só dos amiguinhos. Black sabbath, Raul, Beatles não servem. Puxa agora sei porque é capaz de Bolsonaro ser reeleito em 2022. Merece ser processado por intolerância religiosa. Abraço.
Boa tarde, Celso!
Excelente texto do Rui Martins. Ele conseguiu expressar tudo o que eu sinto: meus temores e receios de que o Brasil torne-se um País fundamentalista, triste, teocrático. Só faltou acrescentar os católicos conservadores aos cristãos evangélicos seguidores de Bolsonaro que formam o grosso da bancada teocrática no congresso. Uma pergunta que há algum tempo martela em minha cabeça é em que momento da história moderna brasileira nós começamos a dar errado? Qual foi o ponto de virada para o retrocesso que estamos vivendo? Quando perdemos o nosso março, o nosso norte civilizatório? Triste Brasil!!! Sem alegria, sem poesia...
Com certeza o Bozo tem o apoio de todo mundo que lucra com o uso das igrejas como lavanderias.
Eu chego numa igreja dessa com uma ruma de dinheiro do tráfico de drogas, e transformo esse dinheiro em material de construção, por exemplo. Entrego a grana pro pastor, e ele banca minhas casas pra eu alugar, como se fosse obra da igreja. Imóveis que eu ponho no nome de laranjas, como os Queiroz da vida.
Ou eu sou político e quero usar um dinheiro sujo pra distribuir cesta básica pros meus eleitores.
Chego lá pro pastor, pago, e por uma comissão, ele trabalha pra mim, distribuindo as cestas e me ajudando a me reeleger.
A criatividade permite 1001 negociações e ainda sobram umas 3000.
Depois é só o pastor dizer que esses dinheiros todos foram doações dos fiéis. Pra dar certo não se pode saber quanto dinheiro os fiéis doaram. E pra haver esse "sigilo", só as igrejas estando abertas. Aí eu digo ou não digo o que eu quiser. De acordo com a minha conveniência.
Avasconcil sabe "onde dormem as andorinhas".
Belo texto. Expressou todos os meus pensamentos.
Kkkk ok só podia mesmo kkkkkk
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