Poucas semanas após aprovar gastos de US$ 1,9 trilhão para acelerar a saída econômica dos Estados Unidos da crise sanitária, o presidente Joe Biden lança sua aposta mais alta com vistas no futuro —um aporte ainda maior, de US$ 2,25 trilhões, a ser usado em oito anos.
Enquanto o primeiro pacote diz respeito a emergências, como sustentar famílias durante a pandemia, o novo plano tem ambição estrutural e busca uma transformação no contrato social estadunidense.
O montante inclui cerca de US$ 750 bilhões para renovação de infraestrutura (estradas, ferrovias, transmissão de energia), US$ 180 bilhões para pesquisa e tecnologia, US$ 300 bilhões para revitalizar a indústria estadunidense em setores estratégicos com liderança hoje ameaçada e outros US$ 100 bilhões para o provimento de internet de banda larga.
Há ainda uma coletânea de iniciativas verdes, como geração de energia limpa, eletrificação do transporte, captura de carbono e melhorias de saneamento. Biden propõe financiar as despesas com aumentos de impostos sobre os lucros das empresas de 21% para 28%, numa quebra de três décadas de redução continuada de impostos.
Espera-se também um anúncio de mais US$ 1 trilhão, nas próximas semanas, com foco em educação e suporte para famílias de baixa renda. A contrapartida deve ser um aumento de tributos para os mais ricos, uma promessa de campanha do presidente.
À diferença do pacote emergencial, facilmente aprovado no Congresso em fevereiro, o novo direcionamento para mais gastos, impostos e alocação estatal de investimentos não vem sem controvérsia.
Bozo fora, Brasil voltaria a receber vultosos investimentos ambientais |
Se bem-sucedido, Biden terá obtido instrumentos para a mais ambiciosa tentativa de transformação do contrato social estadunidense desde a década de 1960 ou mesmo desde o New Deal dos anos 1930.
As comparações são uteis, mas os desafios contemporâneos são muito diferentes. O que importa é que hoje há sinais de maior espaço político para um esforço de revigoração do capitalismo estadunidense, acossado pela ferrenha competição chinesa.
A transferência dessa dinâmica para outros países, como o Brasil, não é imediata. A latitude dos Estados Unidos para gastar é muito maior, dado o papel central do dólar no sistema internacional, e deve ser ponderada em nações cujas moedas são menos aceitas.
No caso brasileiro, o caminho não passa pelo aumento puro e simples de despesas. São fundamentais amplas reformas para flexibilizar o Orçamento, atendendo a novas prioridades, e rever o sistema tributário em prol de eficiência e progressividade. (editorial desta 2ª feira, 5, da Folha de S. Paulo)
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TOQUE DO EDITOR – Este blog começou o ano (vide aqui) chamando a atenção para as iniciativas que Joe Biden prometia lançar no sentido de reforçar o papel dominante do capitalismo dos EUA, cuja liderança estava seriamente ameaçada pela China.
Quem mandou fazer aposta tão alta num cavalo descontrolado?! |
Nem sobre os reflexos no Brasil. Para quem passa pela pior depressão econômica de sua história como nação, pegar algumas migalhas do que os EUA têm para gastar é tão desesperadamente importante que ouso afirmar, desde já, que mais um prego está sendo fincado no caixão político do genocida. Um óbvio benefício do seu imediato afastamento começa a poder ser quantificado em dólares.
Enfim, não é caso para negar, desqualificar ou ignorar o que advirá desse pacote estadunidense, mas sim de avaliá-lo cuidadosamente e definirmos linhas de ação inteligentes para responder a ele. A crassa imbecilidade tem de acabar, juntamente com a era Bozo.
E a esquerda precisa reaprender a pensar criticamente, ao invés de repetir como papagaia chavões do passado que de quase nada servem face aos desafios do presente. (por Celso Lungaretti)
Um comentário:
Caro Celso
O 'The Guardian'publica hoje https://www.theguardian.com/us-news/2021/apr/05/joe-biden-2tn-infrastructure-plan-racial-justice
Há indicativos de que os planos de Biden são tão amplos para fora como para dentro.
Aqui, ainda hoje na Folha, há o artigo de Nelson de Sá
"Jornais europeus e da AL temem pela democracia no Brasil"
A BBC publicou no dia 31 março "O que diz relatório do governo dos EUA que critica situação de direitos humanos na gestão Bolsonaro"
Já faz uns meses que acompanho os mal-estares causados pelo Brasil pelo Guardian, Washington Post, NY Times e Financial Times. Enviam 'newsletters' por 'e-mail.
Nunca as condições do país foram assim
Abraços
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