quinta-feira, 8 de abril de 2021

O BRASIL PRECISA DO LOCKDOWN, MAS NÃO DISPÕE DE RECURSOS PARA O VIABILIZAR: SAIBA QUE ESTA É UMA FALSA DICOTOMIA – 2

(continuação deste post)
A
té os que fazem caridade distribuindo sopas para os mendigos nas madrugadas ou pratos de comidas para famélicos sociais, tomados por um resquício de humanidade que felizmente ainda subsiste nos sujeitos burgueses automatizados e insensibilizados, não se apercebem que aquilo por eles distribuído são, também, mercadorias. 

Muito menos se dão conta de que tal condição impõe limites econômicos de abrangência de sociabilidade humana (a grande mercadoria alimentar, p. ex., destina-se à exportação, como forma de gerar superávit na famigerada balança comercial).

O lockdown e as vacinas são os instrumentos capazes de nos livrar imediatamente da morte por contaminação social infecciosa generalizada e extirpar, no longo prazo, a vida desses vírus microscópicos que precisam exatamente da proximidade de corpos humanos para continuar existindo. 

O isolamento social é medida inarredável a ser tomada. Somente os negacionistas dominados pelo fetichismo da mercadoria não compreendem tal necessidade, como fazem questão de também ignorarem (talvez por vergonha de reconhecerem sua condição de intelectualmente obtusos) o imperativo da vacinação em massa como a única solução definitiva, após acreditarem tanto tempo nas sandices daquele a quem chamam de mito, mas que demonstrou não passar de um grande mico.
Aliás, o mito, na nomenclatura fantasiosa dos clássicos gregos, é um ser que somente existe na ideia metafórica das crendices em superpoderes de deuses criados pelo surrealismo fantástico que anseia por um mundo idealizado, mas cada vez mais distante da realidade. 

Nada mais ridículo do que erigir-se em mito alguém de conhecimento primário, curriculum e práticas recheadas de negatividades e nenhuma proposição, a não ser a desconstrução dos poucos ganhos civilizatórios adquiridos com muito sacrifício pela humanidade no seu itinerário de luta contra a ignorância, marcado por sangue, lágrimas e dor.  

Mas o lockdown é impossível de ser sustentado pelo tempo necessário para a extirpação do vírus sem as medidas de apoio social que jamais podem se realizar sem a eliminação dos conceitos e ordens que o universo do mundo da mercadoria estabelece como regras inquestionáveis.

É claro que alguém tomado pelo sentimento nacionalista de superioridade a partir de conceitos de riqueza abstrata e das armas (o militarismo de ofício, estatal, que substituiu os mercenários na antiguidade, foi aquilo que mais propiciou a remuneração abstrata do salário, inicialmente representado pela mercadoria sal, de onde se origina a palavra salário), tem dificuldade de aceitar a quebra desse código rígido comportamental.

Da mesma forma o doutrinamento liberal de seu ministro da Economia é incompatível com o confisco de bens (mercadorias que representam horas de trabalho abstrato, ou seja, de valor indevidamente apropriado pelo capital nelas coagulado) e de dinheiro como forma de subsídio ao
lockdown
.

[Afinal, para os poderosos do capitalismo, é mais importante a manutenção do teto de gastos do Orçamento Federal do que a perda de 150 mil vidas que poderiam ser salvas.] 

Você, caro leitor, que neste momento lê este artigo, certamente conhece alguém próximo, ou até mesmo de sua família, que faleceu por empreender a chamada fuga pra a frente desconsiderando o necessário isolamento social, comportamento exemplificado desde o início pelo nosso governante insano ao desfilar pelas ruas de Brasília promovendo um populismo de quinta categoria, sem máscaras, comendo pastel e tomando caldo de cana numa birosca qualquer

Para piorar, quem teria de propor medidas urgentes de apropriação das nossas riquezas naturais, visando à proteção dos brasileiros pobres que necessitam ficar em casa, omite-se vergonhosamente. 

Refiro-me, evidentemente, à esquerda adestrada, institucional, dita socialista.

Aquela que está mais preocupada com o pleito distante do que com o extermínio de nossa gente hoje e agora, e que prefere ver o governo atual sangrando na sua própria inconsistência e afundando no desgaste, desde que este proporcione às 
chamadas oposições uma vitória de Pirro nas próximas eleições, à custa de mais algumas centenas de milhares de mortes. 

Recuso-me a fazer parte de tal oposição, pois sou, acima de tudo, a favor da vida. Agora, mais do que nunca, fico satisfeito de ter sido expulso do PT sob a alegação de que era um candidato saído do bolso da então prefeita de Fortaleza, Maria Luíza Fontenele, também expulsa do PT na mesma oportunidade. 

Partido esse que há quatro décadas ajudei a criar, com a ingenuidade característica dos tempos de juventude, no Ceará dos coronéis de então. Quem me mandou acreditar em Papai Noel?! 

Isto me possibilita repetir o que já disse noutros artigos escritos para esta tribuna libertária que é o blog criado por Celso Lungaretti 
— que, tendo sido secretário de Finanças de Fortaleza, saí pobre dessa administração popular que jamais conciliou com a burguesia (Sarney nunca recebeu a Maria Luíza em audiência oficial, mas foi sempre simpático ao Lula); e
— que ajudei a estabilizar as finanças públicas municipais, requisito importante para que Ciro Gomes se tornasse, em apenas um ano, o melhor prefeito do Brasil, galgando posições dentro da politicagem estatal (que hoje considero sumamente nociva à sociedade).

Faço tais afirmações como autocrítica, por entender que inadvertidamente contribui para reequilibrar as finanças públicas de um aparelho estatal capitalista de base municipal, que encontrei falido após os muitos anos de ditadura militar.

[Hoje, quando alguém cita minha passagem como secretário municipal de Finanças à guisa de elogio curricular, costumo responder que tenho esta mancha no meu currículo; é uma reflexão que faço sob o critério estratégico de luta contra o capital.]
  
Perdoem-me aqueles para quem tais afirmações soarem como autoelogio narcisista, que não deve ser a tônica do revolucionário; este, contudo, usa a palavra como instrumento de luta e não hesitará em passar do estágio literário para o do brado retumbante das ruas quando se fizer necessário!

Mas o faço em nome dos muitos que foram injustiçados por não se submeterem à tirania partidária stalinista dos meios justificando os fins, inclusive no PT; até porque o uso do cachimbo entorta a boca. 

A discussão atual sobre o lockdown é fora de foco e representa uma falsa dicotomia. (por Dalton Rosado)

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