quarta-feira, 7 de abril de 2021

O BRASIL PRECISA DO LOCKDOWN, MAS NÃO DISPÕE DE RECURSOS PARA O VIABILIZAR: SAIBA QUE ESTA É UMA FALSA DICOTOMIA – 1

 dalton rosado
COMENTÁRIO ÀS DISCUSSÕES SOBRE O LOCKDOWN
"
Falsa dicotomia – falsa divisão de
um conceito em dois elementos
pretensamente contrários"
(Dicionário Informal)
pandemia do coronavírus já se constitui na maior tragédia humanitária do pós-guerra, aproximando-se dos 3 milhões de mortos, com a contribuição macabra do governo brasileiro para tanto, de vez que já temos o segundo maior número de mortes, com 337 mil óbitos (001,7% da população de 211,7 milhões de habitantes).

Tenho dito, reiteradamente, que tal crise expôs a insubsistência do capitalismo como modo de mediação social minimante eficaz. 

Os Estados Unidos, meca do capitalismo mundial, têm total ainda mais expressivo de mortes, 556 mil óbitos, os quais, contudo, representam os mesmos 001,7% da população (aproximadamente 328 milhões de habitantes). 

Juntos, os dois países são responsáveis por 31% (893 mil) das mortes mundiais (2,87 milhões), embora tenham apenas 6,9% da população mundial (539,7 milhões para 7,8 bilhões de habitantes). 

Somos os campeões da mortandade mundial e isto, indiscutivelmente, tem muito a ver com a orientação negacionista adotada tanto por Donald Trump (que descartou o isolamento social, embora haja estimulado a fabricação de vacinas, até porque isto poderia gerar lucros para a desenvolvida farmacologia estadunidense) quanto por Jair Bolsonaro, que negou a importância das duas coisas. As estatísticas não mentem. 

Mas, nesta corrida da morte, os EUA, com sua vacinação em massa, já conseguiram reduzir o número atual diário de mortes, enquanto no Brasil estabelecemos recordes em cima de recordes, aproximando-nos velozmente do topo deste ranking sinistro. 

É que, para sorte dos estadunidenses, as vacinas e a eleição vieram mais cedo e puderam defenestrar o negacionista de lá, enquanto aqui teremos de aturar o nosso por mais algum tempo (a menos que consigamos abreviar o nosso calvário...). 

Diante dessa tragédia humanitária estabeleceu-se por aqui uma discussão fora de foco, qual seja:
 há uma ala de governantes e setores da sociedade que entende, corretamente, que devamos fazer o lockdown, variando a opinião quanto a sua intensidade para cada um dos componentes desse grupo, sob o correto argumento de que se trata de uma das duas formas de se evitar a propagação do vírus e consequentes mortes, sendo a outra maneira a vacina, ainda em pequeno número para a imunização de uma parcela suficiente da população brasileira;
b) há uma outra ala de governantes, empresários e trabalhadores, para a qual não devemos fazer o lockdown sob nenhuma forma, argumentando que é menos pior morrer de covid-19 do que de fome e miséria. 

Os auxílios emergenciais, diminutos e somente destinados aos que estão em situação desesperadora, são insuficientes para barrar a depressão econômica e o alastramento da miséria sob os critérios capitalistas de sociabilidade. 

Mas, não podemos fazer emissões volumosas de moeda sem lastro, a exemplo de Joe Biden,  porque o dólar é aceito internacionalmente, apesar de sua falta de consistência; o real não. Portanto, se o imitássemos, isto faria explodir nossa inflação e nosso endividamento com juros altos. O capital tem critérios seletivos; o coronavírus não. 

Ambos os grupos têm argumentos que comportam alguma verdade, mas que encobrem um contra-argumento pouco levado em conta: a possibilidade de apropriação social de recursos materiais que respaldariam o
lockdown, desde que adicionado a critérios racionais de distribuição de alimentos e outras medidas jurídicas de proteção social (como suspensão de despejos por falta de pagamento, execuções de dívidas, etc.).

Tais medidas, entretanto, são impossíveis de serem acatadas pelo capital, ou até mesmo serem propostas por quem deveria fazê-lo por opção de classe, pelo simples fato de que estão todos dominados pelo fetichismo da mercadoria, somente concebendo a vida social a partir dos critérios mesquinhos e financeiramente calculistas da forma-valor (dinheiro e mercadorias), que o segundo grupo quer humanizar por hipocrisia ou ignorância.

É o que chamo de aprisionamento do pensar

Como alguém que acredita somente em produzir para vender e comprar chegaria a admitir  que se possa produzir para dar? 

Como alguém que passa a vida procurando acumular riqueza abstrata como forma de se proteger da insanidade destrutiva e autodestrutiva de uma mediação social reificada (na qual coisas inanimadas ganham vida, enquanto mercadoria, e comandam, com seu fetichismo abstrato que se materializa na vida real, as vidas das pessoas), poderá sequer cogitar a disponibilização de patrimônio (bens, mercadorias, etc.) para salvar vidas? 

Como alguém que aguarda ansiosamente as próximas eleições, obcecado em assegurar para si uma minúscula (mas confortável) fatia de poder político concedida pelo capital como forma de legitimação democrática, ousará adotar medidas que afrontem este mesmo capital? (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

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