segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

O PT DÁ ADEUS ÀS ILUSÕES: DELE E NOSSAS!

Se alguém ainda tinha dúvida quanto ao caráter democrático-burguês do Lula e da atual direção do Partido dos Trabalhadores, não as têm mais.

É que, com o apoio ao candidato bolçalnarista para a presidência do Senado, pôde dar adeus a tais ilusões e cravar uma certeza: o PT se tornou um partido institucional pequeno-burguês reformista e conciliador, cujo único propósito é a obtenção de poder político dentro das regras democrático-institucionais capitalistas.

A eleição de 2022 para presidente da República, governadores dos estados e bancadas parlamentares federal e estaduais tornou-se para ele o objetivo teleológico fundamental. O povo que se lixe. 

Tendo suas denúncias do facciosismo jurisdicional da Lava-Jato sido comprovadas pelas escandalosas revelações de promiscuidades processuais entre o ex-juiz Sérgio Moro e procuradores da República, com a conivência de outros magistrados federais, o (ex?) Partido dos Trabalhadores agora tenta obnubilar todas as suas condenáveis práticas políticas de conciliação com o que há de mais espúrio da política brasileira e de tolerância e uso da prática de corrupção como forma de sobrevivência política. 

Se o PT quer ser isso que está demonstrando ser, tudo bem, é uma opção política sua e de todos aqueles que com ela se identificam. 

Mas, por favor, não use a simbologia anticapitalista da estela e da cor vermelha, que remete a lutas históricas quase sempre heroicas (ainda que às vezes equivocadas) na busca por uma sociedade diferente dessa que o capitalismo engendrou e que está aí para comprovar a sua ineficácia. 

Que afirme publicamente o seu descompromisso com a salvação do povo brasileiro diante do genocídio em curso causado pelo governo que aí está, e admita que as mortes futuras servirão para o atingimento do seu objetivo teleológico ineficaz, que é a gerencia política sob as mesmas bases e critérios econômicos mercantilistas de um Estado que agoniza juntamente com aquilo que o sustenta: a depressão da vida mercantil em seu estágio de limite interno de expansão! 

O PT é contra o impeachment do capitão Boçalnaro, o ignaro não porque o primeiro na escala sucessória é um general do Exército Brasileiro com os mesmos propósitos conhecidos; mas prefere que não haja impeachment pelo simples fato de que a decadência de um governo caótico como o que nos está sendo imposto lhe pode dar alguma esperança de eleição de um Fernando Haddad, na hipótese bastante provável de Lula continuar inelegível por força de suas condenações judiciais.   

Reproduz-se a mesma situação de 2018, com o agravante de que o quadro social de miséria tende a acentuar-se por conta da crise sanitária e, principalmente, do despreparo brasileiro diante da paralisa mundial da economia.  

O mundo está clamando por uma nova ordem de produção social e organização que sejam capazes de utilizar todos os avanços da ciência em seu proveito, como ganhos civilizatórios.

[Ainda que a crise dê aos pensadores e atores da ultradireita a possibilidade de entoarem, com alguma aceitação pouco consistente, o seu
canto de sereia de volta a um passado que era igualmente insatisfatório e hoje só parece bom por causa da degringola brasileira na década recém-finda.] 

Onde está aquele PT que eu ajudei a criar em Fortaleza, convencido por uma palestra dada em 1978, na Associação Cearense de Imprensa, por um metalúrgico mutilado numa fábrica, portando uma barba que evocava os guerrilheiros de Sierra Maestra, e que dizia ser importante a criação de um partido só de trabalhadores, sem patrão?

Onde está aquele PT para o qual contribuí com meus esforços, na coordenação de sua primeira vitória numa capital de estado (Fortaleza/1985, quando, contra tudo e contra todos, foi eleita uma mulher provada e forjada na luta contra a ditadura militar)?

Onde está aquele PT sempre presente nas lutas dos favelados contra os despejos coletivos?

Onde está aquele PT que chamava para a greve geral como forma de derrubar general?

Onde está aquele PT que não relutava em solidarizar-se com presos políticos?

Onde está aquele PT que era capaz de combater a corrupção e a conciliação de classes, mesmo que isso representasse dificuldades enormes no processo eleitoral secularmente marcado pela influência do poder econômico? 

Onde está aquele PT cujo ambiente de convivência entre iguais era o antídoto natural contra as picaretagens da política de salão, e que era a casa de quantos lutavam contra todo tipo de injustiça racial, contra a misoginia, contra a exploração e extração de mais-valia, contra a xenofobia e a favor da universalização dos interesses da classe trabalhadora???   

Aquele PT envelheceu e ficou medroso, covarde, fisiológico. Hoje se constitui num melancólico exemplo de como a política institucional e eleitoral deforma os melhores quadros da nossa sociedade, ao colocá-los diante da alternativa de ou irem cantar noutro terreiro, ou se amoldarem fisiologicamente ao amorfismo político que decepciona quantos nele acreditavam.
 
Se proveitos podemos extrair dessa jornada do PT noite adentro, são as lições que dela extraímos: 
— a de que devemos tomar as ruas pedindo uma nova ordem econômica e social, começando com o impeachment de um bufão da ultradireita que está mais para mico do que para mito; e
— a de que devemos dar um definitivo adeus às ilusões burguesas. (por Dalton Rosado)

3 comentários:

Unknown disse...

Prezados Dalton é Celso,
penso que a Renda Básica de Cidadania, conforme preconizada por Eduardo Suplicy é revolucionária, porque é incondicional e universal, ou seja, a tradução agora do comum. Não vejo escapatória.
Obrigado

Unknown disse...

Esqueci de escrever o nome: Thomaz Braga

Unknown disse...

Peço que me permitam adicionar:
Talvez seja das entranhas podres do capitalismo que virá sua própria superação.
Obrigado

Related Posts with Thumbnails