sábado, 30 de janeiro de 2021

IMPEACHMENT SE APROXIMA, DIZ MAGNOLI: "O BRASIL NÃO MERECE ESSE GOVERNO DA ULTRADIREITA BOQUIRROTA E DELIRANTE"

demétrio magnoli
MANAUS É A PROVA: JÁ NÃO TEMOS UM GOVERNO FUNCIONAL!
Jair Bolsonaro comete crimes de responsabilidade diversos desde que subiu a rampa do Planalto. Dezenas de pedidos de impeachment protocolados na Câmara ainda aguardam encaminhamento, pois Rodrigo Maia sabe que o destino do presidente não será decidido no tabuleiro das leis, mas no da política. 

A tragédia de Manaus marca uma reviravolta no cenário: depois das mortes por asfixia, o impeachment transitou do éter dos sonhos para a esfera das possibilidades.

A histeria do impeachment é, hoje, a maior ameaça ao impeachment. O Congresso não impedirá o presidente pelo chiclete ou pelo leite condensado. Os escândalos culinários provavelmente indicam um rastro de esquemas corruptos ligados a superfaturamentos, fornecedores fantasmas e lavagem de dinheiro. Contudo, a investigação do labirinto demandaria meses, obscurecendo o crime maior que tem o potencial de abreviar o pesadelo nacional.
Manaus é a prova de que já não dispomos de um governo funcional. Nos países modernos, retirantes não perecem de inanição na beira da estradas, não porque a miséria foi extirpada mas porque o Estado é capaz de mobilizar meios emergenciais para evitar o desenlace fatal. 

As mortes por falta da cilindros de oxigênio nos remetem a um passado mais ou menos distante, quando famélicos desabavam, exaustos e desamparados, fugindo das secas nordestinas. Na época, faltavam-nos aviões, helicópteros, estradas, caminhões e recursos financeiros. Hoje, tudo isso existe: o que falta é governo.

Os doentes do Amazonas não morreram do coronavírus, mas do vírus do desleixo, da incúria, da inépcia, do desinteresse criminoso. As sondagens de opinião evidenciam que o povo entendeu a cadeia de comando: Pazuello, general de ópera bufa, não passa de um estafeta do autêntico culpado. 

Não é casual que, dias atrás, um tanto apavorado, sob zurros de uma chusma de lambe-botas, o ocupante do cargo presidencial tenha batido seus próprios recordes na olimpíada da malcriação.

Impeachment é, essencialmente, uma decisão política. Só se impedem presidentes cujas taxas de aprovação caíram às profundezas abissais. Bolsonaro continua longe dessa zona escura e fria, mas submerge em velocidade acelerada. 

Os sinais de alarme, que começaram a soar no Planalto na hora do nocaute imposto por Doria na batalha da vacina, dispararam quando emergiram as aterradoras cenas manauaras.

De lá para cá, o governo entrou no modo pânico. O presidente rastejou aos pés dos chineses para implorar por suprimentos vacinais e, nos círculos internos do poder, cogita-se oferecer em sacrifício público os corpos lacerados do trapalhão da Saúde e do místico ocultista do Itamaraty. No atual estágio da crise, Bolsonaro já não pode salvar-se a si mesmo: para voltar à tona, depende da incompetência de seus adversários.

Impeachment é a soma de um crime de responsabilidade com uma narrativa política persuasiva. Dilma caiu pois contou-se uma história (verdadeira, aliás) sobre estelionato eleitoral, caos econômico e corrupção política. 

No caso de Bolsonaro, a sanitização do Planalto exige a releitura da história da pandemia sob a lente de aumento da agonia dos hospitais de Manaus. O oxigênio —ou melhor, a falta letal dele— confere sentido ao negacionismo perene, à sabotagem do distanciamento social, ao curandeirismo do tratamento precoce e ao atraso da imunização.

Há cinco anos, petistas inconformados asseveravam que o uso do instrumento constitucional do impeachment debilita as democracias. A verdade é bem mais complexa. 

Sucessivos impedimentos de chefes de Estado certamente iluminam instabilidades dos sistemas democráticos. 
Mas a remoção de presidentes catastróficos é a derradeira ferramenta de defesa da democracia. 

O Brasil, apesar de tudo, não merece esse governo da ultradireita boquirrota e delirante. Uma praga por vez é suficiente. (por Demétrio Magnoli)

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Celso
Estes do Magnoli e do Kotscho são textos para serem guardados.
Ruy Castro escreveu "Novas definições para Bolsonaro"28.jan e
"Novos xingamentos contra Bolsonaro 26.jan
Porém, sabemos que os milicos são animais peçonhentos.
Sei não, Mourão viria muito pior que o Temer!
Abraços
Fausto

celsolungaretti disse...

Fausto,

o Bozo é a certeza de muitas e mortes inúteis por causa da má administração da crise da pandemia e de outro tanto por causa da incompetência para gerir a depressão econômica.

Mourão é uma possibilidade de um governo pelo menos sensato, o que já salvaria um montão de vidas.

A democracia burguesa é sempre a escolha entre o péssimo e o um pouco menos ruim. Mas, neste caso, a opção é entre o catastrófico e qualquer outra coisa: TUDO que possa vir, em termos de possibilidades viáveis, é melhor do que o louco genocida.

É vergonhoso que a esquerda não tenha coragem de ir às ruas e mobilizar a massa para a remoção do Bozo. Então, se ele cair por decisão do poder econômico, não teremos do que reclamar.

O que não podemos é atrapalhar a derrubada do ogro. Cada dia que passa são mais mortes inúteis acrescentadas no balanço macabro.

Related Posts with Thumbnails