quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

...E SE A CONTRAMESTRE AFUNDAR COM O NAVIO, ISTO BASTARÁ PARA ESQUECERMOS QUE O PRINCIPAL CULPADO FOI O CAPITÃO?

thaís oyama
O PT OFERECE A CABEÇA DE GLEISI DE
 OLHO NA DE LULA, MAS PODE SER TARDE
L
ula nunca tinha ouvido nada assim. 

Menos de 48 horas depois de as urnas revelarem a fragorosa derrota do PT para siglas de direita, centro-direita, centro-esquerda e esquerda também, expoentes do partido vieram a público dizer em alto e bom som o que há tempos já sussurravam nas coxias. 

"O Lula já deu muito para o partido. É hora de abrir espaço", disse Alberto Cantalice, do diretório nacional do PT. 

O senador Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, foi mais claro: "A gente não pode ficar refém. Eu sou amigo irmão do Lula, mas vou ficar refém dele a vida inteira? Não faz sentido". 

Há 40 anos, o PT não dá um passo sem a bênção de seu caudilho. Nenhuma aliança vinga sem a aprovação do ex-presidente. Toda estratégia emana da sua voz. 

Nas eleições municipais, partiu de Lula o comando para a sigla lançar o maior número de candidatos no país, em vez de apoiar outras legendas em cidades estratégicas onde as chances da esquerda eram boas. 

A presidente do PT, para quem Lula é destituído da característica da falibilidade, apenas executou o plano – que nada tinha de novo. 

Entre vencer o adversário do campo oponente (mas no papel de coadjuvante) e correr o risco de perder (mas no figurino de líder da oposição), o PT sempre preferiu o segundo caminho. 

Age, assim, à imagem e semelhança de seu presidente eterno. 

Entre abrir espaço para o crescimento de novos nomes e fortalecer o partido e a esquerda, ou manter o seu como única opção, mesmo com prejuízo do partido e da esquerda, Lula sempre escolheu ficar ao lado dele mesmo. 

Foi assim quando queimou Eduardo Suplicy em 2002, depois que o então senador ousou disputar prévias internas com ele. 

Foi assim quando aplicou mais de uma rasteira em Ciro Gomes, o ex-aliado do PDT a quem prometera dar as mãos. 

Foi assim com Jaques Wagner, por ele preterido para as eleições de 2018, e foi assim com Fernando Haddad, cuja oficialização da candidatura naquele ano Lula só liberou a 20 dias das eleições –muito tempo depois de até as paredes da cela que o abrigavam na Polícia Federal estarem conformadas com a impossibilidade legal de ele disputar o pleito.

Agora, diante da pior surra eleitoral da sua história, o PT planeja oferecer a cabeça de sua presidente num ritual de sacrifício destinado a preservar, ao menos simbolicamente, a do artífice da derrota. 

Correntes minoritárias do partido já se articulam para abreviar o mandato de Gleisi Hoffman, que vai até 2023. Lideram o movimento a Articulação de Esquerda e a Novos Rumos. A corrente majoritária no PT é a Construindo um Novo Brasil

A cabeça de Gleisi não vale uma missa. Mas talvez seja tarde demais para cortar a de Lula. 

Há 40 anos, o PT é refém do ex-presidente. Agora, como disse Wagner, quer se libertar dessa prisão. A questão é o que sobrará do partido se conseguir. (por Thaís Oyama)

Um comentário:

Henrique Nascimento disse...

O bolsolulismo é uma religião evangélica fundamentalista.

Related Posts with Thumbnails