marcelo coelho
ELEIÇÕES MOSTRAM ALGUM ARREFECIMENTO
DO SURTO DESTRUTIVO BOLSONARISTA
De 2018 para cá parece ter havido alguma mudança. Maior controle sobre fake news? Contas extremistas bloqueadas? Robôs menos atuantes?
A força demonstrada por partidos tradicionais nestas eleições não deixa de ser, em parte, resultado dos velhos filmetes e jingles da propaganda eleitoral, com sua propensão para buscar algum consenso mais centrista.
Assim como Antonio Prata, senti um grande alívio ao ver os primeiros pronunciamentos de Joe Biden depois da vitória.
Candidato sem brilho, meio engessado e com sabor de chuchu, ele se mostrou ao menos capaz de mostrar respeito pelas pessoas e pelo cargo.
Será que Trump e Bolsonaro foram apenas um surto, um momento psiquiátrico na História, e estamos aos poucos voltando ao normal?
A questão é que foi esse mesmo estado de coisas normal que produziu tamanhas aberrações. O desemprego, o desmonte do Estado, o crescimento do fundamentalismo evangélico, o ressentimento racista, machista e xenófobo —tudo isso vem de antes. Não sei o quanto políticos moderados e tradicionais, como Biden, são capazes de mudar esse quadro.
Estranhamente, o que estamos vendo é a colisão entre dois surtos: o do populismo de extrema-direita e o de covid-19.
Bolsonaro e Trump poderiam ter se fortalecido na pandemia; bastava não se comportarem como Nero ou Calígula. O menosprezo pelas centenas de milhares de mortes aumentou sua rejeição —mas não tanto como seria justo esperar.
Poderíamos então pensar que, sem a covid, Bolsonaro não teria se saído tão mal nestas eleições. Não se trata de especulação ociosa: trata-se de ver se, quando tudo voltar ao normal, teremos de fato um declínio da extrema-direita.
Sem dúvida, Bolsonaro poderá amargar as consequências de uma recessão prolongada, de uma alta da inflação, de acordos fisiológicos, de escândalos em família e das inúmeras besteiras que ainda haverá de fazer.
Mas fico em dúvida quanto à possibilidade de se desfazer o clima ideológico predominante. A classe média que votou em Bolsonaro se mantém firme, acho, na ideia de que os pobres têm de se virar por própria conta e que a atuação do Estado é um entrave para o desenvolvimento.
Verdade que a resistência ao racismo e à homofobia se mostra vigorosa, e há grande futuro político para quem representa os jovens negros da periferia, vitimados pela violência policial e pelas péssimas condições de ensino.
Não me parece igualmente forte a presença de políticos que defendam abertamente o fim da hegemonia neoliberal; com Palocci e Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, Lula e Dilma seguiram a onda, que no fim os destruiu.
Ciro Gomes, que concentra seu discurso na crítica ao neoliberalismo, não sei se terá tanta penetração.
E quando um dos principais adversários do bolsonarismo, hoje, é João Doria, a perspectiva de uma virada antidireitista continua distante.
Sim, Bolsonaro foi um surto, um ataque de fúria destrutiva e antidemocrática que tomou a maioria do eleitorado. O ódio ao PT e à esquerda arrefeceu. Guilherme Boulos e Manuela d'Ávila mostram força.
Mas os majores, os capitães e os delegados que se elegem vereadores por todos os cantos do país, por partidos tradicionais ou não, mostram que o declínio de Bolsonaro não é o declínio do bolsonarismo.
Uma volta aos políticos normais me traz grande alívio, claro. Mas o normal, passada a demência de Trump ou Bolsonaro, vai ainda precisar de muito conserto. (por Marcelo Leite)
2 comentários:
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Prezado Cezar,
como não me lembro de você ter postado algum comentário antes deste e supondo que você desconhecesse as regras do blog, coloquei-o no ar em caráter de exceção.
Mas, reitero novamente a todos os comentaristas que este espaço é para textos que eles próprios tenham escrito, não para postar links de textos alheios.
Há um motivo jornalístico para tanto: o que um autor posta, o blog pode, eventualmente, contestar.
Mas, articulistas não devem discutir os escritos de outros articulistas num espaço de comentários e sem dar-lhes conhecimento.
Ou seja, se fosse o caso de eu discordar do artigo que você está recomendando, teria de fazê-lo em UM ARTIGO e, em seguida, comunicar ao tal Wilson Roberto Vieira, oferecendo-lhe igual espaço para uma tréplica.
Estas são as regras da imprensa, mas muitos não as cumprem. Eu cumpro.
Um abração!
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