sexta-feira, 8 de maio de 2020

MUSSOLINI MARCHOU SOBRE ROMA COM UNS 40 MIL FASCISTAS; O BOZO MARCHOU SOBRE O STF VAZIO COM 15 INDUSTRIAIS.

dalton rosado
O PODER ECONÔMICO MOSTRA A SUA FACE
Desta vez não foi com um cabo e um soldado, mas com representantes do capital industrial e acompanhado do titular da Economia Paulo Guedes e outros ministros e assessores que o presidente Boçalnaro, o ignaro tentou intimidar o Poder Judiciário. 

Numa ação conjunta com o setor empresarial industrial, sem aviso prévio ao Supremo Tribunal Federal, tal tropa, capitaneada pelo presidente e integrada por representantes do Poder Executivo e de setores institucionais e capitalistas da sociedade brasileira, rumou a pé do Palácio do Planalto para a sede do STF. 

Objetivo: constranger o seu atual presidente, Dias Toffoli (cientificado à última hora, tanto que teve de ir às pressas de casa para o Supremo) a recebê-la, com transmissão televisiva ao vivo, para tomar pessoalmente conhecimento de uma pauta de medidas que contrariam a ciência, a saúde, as decisões do judiciário e a postura de governadores e prefeitos. 

Tal encenação, que teve como figurantes 15 empresários industriais dos setores têxtil, siderúrgico, cimenteiro, calçadista, químico, de máquinas, energético e automotivo, visou demonstrar para o Judiciário (que vem adotando uma postura republicana e consentânea com os princípios constitucionais) quem é que manda. 

Os poderes institucionais não gostaram dessa tentativa canhestra de cooptação, principalmente num momento em que se veem insultados em manifestações orquestradas pelo gabinete do ódio, com a beneplácito explícito do Boçalnaro. 
"A História se repete, a primeira vez como tragédia...
Há perplexidade mundial com a amplitude da contaminação virótica e do número de mortes, na casa de 3,5 milhões de infectados e 250 mil óbitos, segundo a Organização Mundial de Saúde (a Covid-19 já matou mais do que as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki!).

Por aqui, já superamos a marca de 600 vítimas letais/dia; e, mesmo com os prenúncios de que em curto prazo nos tornaremos o epicentro da pandemia, somos obrigados a assistir quase diariamente a tais agressões à lógica e ao senso comum!

Os empresários disseram enfaticamente que os CNPJs [pessoas jurídicas] estão na UTI por causa do decréscimo da demanda de mercadorias, de vez que as indústrias estão com enorme capacidade ociosa (por volta de 60%), e que o pós-pandemia implicará a falência industrial e perda de milhões de empregos que se acrescerão aos que já não existem (havia 12 milhões de desempregados antes da emergência sanitária). 

O problema não é a preocupação com a perda dos empregos e a miséria dos trabalhadores, mas sim com os lucros que baterão asas.  

O intuito da bizarra empreitada foi claro: pressionarem pela volta das relações de produção e consumo mesmo diante da possibilidade de mortes em cascata. Eles encaram a salvação do capitalismo como uma guerra, na qual muitos morrem para que outros sobrevivam. 
...e a segunda como farsa" (Karl Marx)
Cai como uma luva a frase célebre de Paul Valery: 
"A guerra é um massacre entre gente que não se conhece, para proveito de pessoas que se conhecem, mas não se massacram".
Mesmo aos olhos de quem (equivocadamente) acredita que só haja vida possível dentro das regras de mercado, a postura governamental de ignorar as mortes que vêm ocorrendo não passa de um crime de lesa humanidade, pelo capital e por seus áulicos da política. Este foi o significado da marcha sobre o STF

A dicotomia entre a preservação da saúde pública e a manutenção da normalidade da produção capitalista sob a ocorrência de uma pandemia nunca foi tão flagrante. 

A crise sanitária do coronavírus, com sua abrangência internacional, está a expor claramente a incompatibilidade entre a produção de mercadorias voltada para o lucro e a preservação da vida. 

Por mais que o Boçalnaro repita, como um mantra, que a crise econômica pode conviver harmoniosamente com o combate à epidemia, a vida está a mostrar o seu equivoco genocida. 

Somente uma produção voltada para a satisfação das necessidades sociais pode fazer face a uma emergência dessas de modo planejado e de tal modo comedido sanitariamente que o sustento da população em isolamento social possa ser assegurado enquanto a ciência busca antídotos. 

Este é o ponto nodal. 

A paralisia das relações de produção está levando à falência justamente os privilegiados pelo capitalismo; os empregos que o dito cujo fornece não são uma dádiva da benemerência empresarial, mas sim o móvel da produção do valor e da acumulação do capital que escraviza os trabalhadores (tal como um toxicômano é escravizado pelo traficante que lhe vende drogas fiado).

Há quem tente justificar a abertura da economia, mesmo diante dos riscos inerentes. Mas tais malabarismos retóricos somente se sustentam dentro da caixa, ou seja, enquanto raciocinamos segundo a racionália capitalista, que não vê possibilidade de vida fora do mercado.

Daí eu ter, neste espaço, várias vezes recomendado aos desempregados que desistam de procurar recolocação, abandonem tal perspectiva e se juntem aos outros desempregados para a promoção de um modo de produção fora da lógica do valor, explicando que em cada objeto útil à satisfação do consumo não existe um átomo sequer de dinheiro.

Que se apropriem dos meios de produção decadentes e falidos e os façam girar em benefício da comunidade.

O temor de que a população descubra que consegue viver sem os CNPJs, e que pode tomar conta dos meios de produção de bens necessários ao consumo social sem a divisão do trabalho capitalista, é o que está em causa, tudo por conta de uma microscópico vírus ao qual não se pode atribuir nenhum viés ideológico e pessoalidade.
A marcha sobre o STF deixou claro que, se o isolamento social alongar-se muito, o capital entrará em colapso. Isto demonstra toda a sua fragilidade e o oportunismo utilitário das necessidades de consumo sociais de mercadorias.

A alternativa ao consumo e produção de mercadorias é a produção e consumo de bens de consumo sem a interveniência do valor; da mesma forma que a alternativa para o combate ao tráfico de drogas (uma mercadoria) é a abolição do valor e o reconhecimento de que a mercadoria é uma droga. 

O coronavírus é genocida, então gostaríamos que os cientistas descobrissem logo uma vacina, para o bem da humanidade (ainda que os laboratórios venham a ganhar muitos dinheiro com tal vacina e que isto ressuscite parcialmente o mundo empresarial e sua produção escravista). 

Lamentamos, porém. que seja necessária uma pandemia genocida para que comece a penetrar na consciência do homem comum a negatividade social de uma relação social escravista, baseada na produção artificial e abstrata do valor. 

Enfim, este novo exemplo estapafúrdio da gestão política em obediência ao capital dado pelo Boçalnaro e sua trupe de ocasião, serviu para demonstrarmos, mais uma vez, que é possível conscientizarmos os brasileiros e a humanidade da necessidade e premência de uma transformação substantiva do nosso modo de relação social. (por Dalton Rosado)    
Farsa por farsa, a cinematográfica é bem melhor...

2 comentários:

Henrique Nascimento disse...

Ontem quando li a chamada da reportagem e a legenda da foto que mostrava os inquilinos da república e os empresários sentados naquela mesa enorme no STF não teve jeito: lembrei-me de imediato do Dalton Rosado.

Anônimo disse...

Caro Celso

Você deve ter lido, mas não me custa reproduzir aqui


O Aldir e a sombrinha
Aldir Blanc e João Bosco escreveram a música tema da reação à ditadura que, segundo o Bolsonaro, nunca existiu

Luis Fernando Verissimo, O Estado de S.Paulo

07 de maio de 2020 | 03h00

O Jaguar sabia da nossa admiração por ele e organizou uma excursão à Zona Norte. Objetivo: conhecer o Aldir Blanc. Ele nos recebeu em sua casa na rua Garibaldi, Tijuca. Me lembro que uma das peças da casa era ocupada por uma mesa de sinuca profissional, o que me pareceu adequado, assim como a sua barba de profeta. Aldir era um lacônico notório e, como eu não sou de falar muito, o Jaguar tinha previsto que nosso encontro seria uma troca de silêncios. Não foi, conversamos. Fomos conversando no caminho da casa ao bar da dona Maria, na esquina, onde nos esperavam pastéis de bacalhau inesquecíveis e o compositor Moacyr Luz, parceiro do Aldir em muitas músicas, com seu violão. A noite acabou na Casa da Mãe Joana, que eu não sei se ainda existe, com show do Walter Alfaiate e canja do Aldir no tamborim, igualmente inesquecíveis. O grande letrista, grande cronista e grande cara também era bom no tamborim!

Aldir Blanc e João Bosco escreveram a música tema da reação à ditadura que, segundo o Bolsonaro, nunca existiu, e da campanha pelas eleições diretas e a redemocratização do País. O Bêbado e a Equilibrista fala da volta sonhada do exílio do irmão do Henfil e da dor das viúvas de vítimas da repressão, como a companheira do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pelo regime militar. Quem hoje carrega faixas pedindo outra intervenção militar como a de 64 não sabe como foi, sabe mas não se importa ou sabe e aprova com entusiasmo.

O quase hino do Aldir e do João Bosco também falava da esperança que subsistia nos tempos negros, a “esperança equilibrista” que andava na corda bamba “de sombrinha” ameaçando cair. Quem poderia imaginar que, depois de tudo que passamos e padecemos, na certeza de que, acontecesse o que acontecesse, ditadura nunca mais, estaríamos de novo carregando uma sombrinha metafórica numa corda bamboleante, sem saber o que nos espera no próximo passo? Os generais de fatiota que hoje ocupam o governo nos asseguram que não vem golpe. Não vem porque já veio, e nem precisaram de tanques na rua. Entraram no poder pela porta principal, atendendo a convites.

De qualquer maneira, não solte essa sombrinha.

Abraços do Fausto

Related Posts with Thumbnails