david emanuel coelho
E A VERDADE IMPORTA?
"O Lula é a espuma da história… ele nunca desce
ao fundo. A cabeça do Lula está dentro
do sistema" (Leonel Brizola)
Alguns ainda acreditam ter sido Jair Bolsonaro o disseminador das fake news na política brasileira. Ledo engano. Lula e o Partido dos Trabalhadores já criam fake news muito mais bem elaboradas há anos, quiçá décadas.
O PT já contou com nomes do naipe de Florestan Fernandes, mas hoje se ancora em sub intelectualidades iguais a Márcia Tiburi e Jesse Souza. Não poderia ser diferente, visto que a decadência política é sempre acompanhada por uma decadência intelectual.
E nesta decadência intelectual ancora-se a miséria do lulopetismo em sua posição diante da realidade. Não é preciso ser muito perspicaz para perceber o nível de alienação presente na cabeça de Lula e companhia limitada.
A raiz da decadência intelectual do lulopetismo está em sua transformação num aparato eleitoral. Deixou de importar ao partido e seus militantes a transformação, por mínima que seja, do país, passando a ser apenas priorizada a busca incessante por cargos e vitórias eleitorais. Vencer eleição passou a ser o fim supremo.
Lula diz que "teve dedo de fora" nos protestos de junho/2013... |
Ora, num contexto desses, é obvio que toda análise crítica da realidade só poderia ser escamoteada e demonizada. Quem nunca ouviu os lulopetistas choramingando não é hora de criticar, você está fazendo o jogo da direita, etc.?
Esta renúncia a debater o mundo real é explicada pelo deslocamento da ênfase política de modificar as estruturas sociais para tão somente adequar-se a elas. O lulopetismo não almeja mais aprofundar a compreensão do mundo real, porque seu objetivo agora é apenas o de encaixar-se nele.
Esta renúncia a debater o mundo real é explicada pelo deslocamento da ênfase política de modificar as estruturas sociais para tão somente adequar-se a elas. O lulopetismo não almeja mais aprofundar a compreensão do mundo real, porque seu objetivo agora é apenas o de encaixar-se nele.
Neste quadro, deixou de importância o entendimento racional da realidade brasileira e entrou em cena sua maquiagem. Saiu de cena Florestan Fernandes, entrou Duda Mendonça.
O marketing, e não a sociologia, passou a ser a ferramenta intelectual do lulopetismo. E, como sabemos, para o marketing só importa uma coisa: vender o produto, mesmo que com o sacrifício da verdade.
Os fatos, a verdade, o mundo concreto, a sociedade real, tudo isso deixou de importar para o lulopetismo. Só contavam as alianças para a próxima eleição, as pesquisas do DataFolha e Ibope, o quanto Sarney estava feliz ou insatisfeito com seu pedacinho do governo.
...mas os dedos que se viam segurando os cassetetes eram "de dentro"... |
No entanto, como num filme de terror, algo sombrio foi crescendo e ganhando força nos subterrâneos da vida social brasileira, bem longe dos olhares deslumbrados dos ex-operários que haviam se tornado ocupantes de palácios dos governos.
Os sinais foram ignorados. As contradições, caladas. Os avisos, tachados de radicalismo. Mas, chegou a hora em que a realidade se impôs diante dos estupefatos dublês de comissariados, os quais não souberam o que dizer ou pensar. Ficaram atordoados e assim estão até hoje.
O monstro deu as caras em junho de 2013, começando por São Paulo e logo no restante do país. O alimento do monstro foram vários: especulação imobiliária, transporte público de péssima qualidade, serviços públicos insatisfatórios, humilhação diária nas periferias, subempregos, corrupção, etc.
Ao contrário da crença comum, as manifestações de junho de 2013 não começaram por causa de vinte centavos e sim devido à bárbara e desproporcional repressão da Polícia Militar aos manifestantes do Movimento Passe Livre.
As imagens de jovens desarmados, pacíficos e muitos até já rendidos, sendo massacrados pela PM paulista correram o país; a indignação foi unânime e o povo se levantou em peso contra o Estado sanguinário e seu braço militar.
...e de dentro eram os dedos que disparavam balas de borracha. |
As manifestações do MPL se avolumaram de meras centenas para milhões e milhões, graças à truculência desembestada das tropas do governador Geraldo Alckimin, secundadas pelas do prefeito paulistano Fernando Haddad; tal truculência, vale lembrar, veio ao encontro da sede de sangue que dava o tom dos editorais dos reacionários O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.
Lembro muito bem do primeiro dia de manifestações em Belo Horizonte, onde vivo. Após a primeira semana quente em São Paulo, chocados com as cenas exibidas na TV e na Internet, estudantes da UFMG se juntaram ao então Comitê Popular da Copa – o qual lutava em favor dos desalojados por motivo da Copa do Mundo de 2014 – e convocaram uma manifestação para o dia do primeiro jogo da Copa das Confederações em Belo Horizonte. Outras manifestações semelhantes foram marcadas Brasil afora.
Diante da primeira barreira do batalhão de choque da PM de Minas Gerais, dividi o fone de ouvido com um colega e ouvi a jornalista da rádio Itatiaia anunciar a histórica manifestação em Belo Horizonte, com cerca de 50 mil pessoas.
A Avenida Antônio Carlos, uma das maiores da capital, foi completamente tomada em suas mais de 16 pistas, com pessoas subindo às passarelas para observar o quilométrico cordão humano, concentração só vista em dias de jogos do Cruzeiro ou do Atlético (pois o carnaval de BH à época ainda não tinha se tornado o hit de hoje).
Bola levantada para o prefeito petista; ele não marcou o ponto |
Tampouco lembro de terem sido pagos os estudantes, favelados, desabrigados, professores, motoristas, policiais civis, desempregados, moradores de rua, trabalhadores da construção civil, funcionários de escritórios e tantos outros que desceram às ruas naquelas semanas para expor sua indignação não apenas com um governo, mas com um sistema falido e desesperançoso.
Talvez o grupelho de ricaços que marchavam ao fim da manifestação, bem longe das bombas e da bestial repressão, tenham recebido algum pagamento em suas já gordas contas.
E o que demandavam todas essas pessoas? Explicitamente, saúde e educação melhores. Implicitamente, um novo sistema social e econômico.
A cúpula lulopetista, campeã do socialmente justo, foi pega de surpresa mas não ficou sem fazer nada. De Brasília, Dilma tomou uma decisão: mandou mais tropas para reprimir os manifestantes – e assegurar a festa da Fifa –, enquanto jurava de pés juntos que continuaria obedecendo ao princípio da responsabilidade fiscal.
Ah, também prometeu uma reforma política, mas logo esqueceu da promessa, sob ameaça de ver senadores e deputados federais engrossando as manifestações nas ruas de Brasília.
Dilma escolheu o seu lado. E não era o dos manifestantes |
Lula, Dilma et caterva certamente não sabiam, mas ali foi selado o destinho deles. As ruas deram uma chance final ao lulopetismo e este preferiu permanecer em seu mundinho palaciano.
O impeachment da Dilma, a Lava-Jato, a prisão de Lula, a eleição de Bolsonaro, tudo isso foi parido naquele momento decisivo em que Dilma foi à TV e se disse fiel à plutocracia nacional.
Esta sentiu o cheiro de sangue e, qual um tubarão, começou a planejar seu ataque à presa.
Em primeiro lugar, com a providencial ajuda do lulopetismo, tratou de sufocar a rebelião que ameaçava se tornar uma revolução.
Sem povo, foi o momento do passo seguinte, com a criação de vários movimentos fakes, emuladores da estética e da forma de organização dos movimentos populares que puxaram as manifestações em 2013.
Vem pra Rua, Revoltados Online, MBL, etc, todos pseudo movimentos populares criados em escritórios dos Estados Unidos e da Avenida Paulista, com a benção dos jornalões brasileiros e muito dinheiro escuso, passaram a tomar as ruas do Brasil, agora vazias, para pedir o impeachment da presidente e lutar contra a corrupção.
"o lulopetismo continuava acreditando que seria poupado" |
Não havia se apercebido de que a burguesia brasileira tinha outros planos e que agora o lulopetismo e até mesmo seu irmão gêmeo, o PSDB, não se faziam mais necessários. Era hora de liquidar o país.
Sem entender nada, paralisado por sua estupefação, o lulopetismo não pôde voltar para si mesmo e para sua história, muito menos analisar o que deu errado. Ouvindo seus marqueteiros, chegou à única conclusão possível: o produto é sempre bom, se ele não vende é porque foi sabotado por alguém.
Assim, a sabotagem ressurge das catacumbas da história: a única resposta possível para o fracasso retumbante da aventura lulopetista só poderia ser a intervenção na História de forças alheias, alienígenas, malvadas, diabólicas e inimigas da bem-aventurança. Do mesmo jeito que o mal só acontece por força do diabo, a política só dá errado por ação da CIA:
— se não fosse a CIA, o povo não teria ido às ruas aos milhões;
— se não fosse a CIA, a corrupta plutocracia nacional não teria conspirado para a queda da Dilma;
— se não fosse a CIA, Eduardo Cunha não teria ameaçado explodir o governo;
— se não fosse a CIA, jornalões e emissoras de TV não teriam feito campanha em prol do impeachment;
— se não fosse a CIA, o povo teria ido em peso às ruas para brigar contra o impeachment.;
— se não fosse a CIA, um patético e obscuro juiz de Curitiba não teria colocado o poderoso Lula na cadeia;
— se não fosse a CIA, um desqualificado deputado, famoso por dormir no Congresso, não teria sido eleito presidente da República.
Ah, se não fosse a poderosa e mística CIA…
Nesta hora, vemos o tamanho da incompetência do lulopetismo, pois, mesmo estando no poder desde 2003, não conseguiu montar serviços de inteligência capazes de detectar em tempo hábil tão titânica ação da CIA. Não conseguiu nem mesmo se dar conta de que o telefone da presidente da República estava sendo grampeado pela CIA… foi preciso um jornalista revelar isso.
"precisou um jornalista revelar a espionagem à presidente" |
Ou será que suas próprias forças de inteligência eram da CIA e o governo não sabia? Quiçá o próprio governo fosse da CIA e este papo da CIA agindo seja um plano elaborado pela CIA para não percebermos a ação da CIA!
Pensando nisso, eu também posso criar minha fake news.
Na década de 1970, o regime militar criou um sindicalismo pelego. Para isto, recrutou inúmeros operários para serem a direção sindical, sobretudo na próspera região do ABC. Parte destes operários foi mandada para os EUA, a fim de participar de cursos de formação junto ao sindicalismo oficialista daquele país.
No entanto, secretamente, também eram treinados pela CIA em técnicas de sabotagem, desmobilização operária e militância anti-comunista. A estratégia era dominar os sindicatos e impedir o avanço de forças comunistas ou revolucionárias entre a massa trabalhadora.
Este grupo de lideranças sindicais contou com o apoio de lideranças da Igreja Católica, preocupada com o avanço comunista entre os trabalhadores latino-americanos. O Vaticano, então, dá aval à criação das comunidades eclesiais de base, nas quais padres anti-comunistas formam lideranças populares na arte de lutar socialmente dentro da ordem.
Quando o milagre econômico gora e milhões de trabalhadores passam a pressionar o regime em gigantescas greves, estas lideranças formadas pelo programa consorciado entre EUA, milicos e Igreja assume a ponta e manobra a insatisfação popular para o campo seguro da negociação patrão-empregado. Rejeitam tanto a saída revolucionária, quanto o reentrada das antigas lideranças exiladas em 1964.
Carta aos Brasileiros: uma rendição incondicional |
Falam tudo e não falam nada. Aos poucos, vão colocando para fora os mais radicais e abandonando qualquer pretensão de mudar a realidade. Cada vez dão menos importância a princípios e bandeiras, só querem vencer as eleições, seja com qual discurso for.
Quem presta é marginalizado ou expulso e quem não presta é colocado pra dentro e ganha papel de destaque. Chega, enfim, o momento em que repetem a velha frase do ministro do AI-5 (uma ave de mau agouro) e, mandando às favas qualquer escrúpulo de consciência, e assinam um documento chamado Carta aos Brasileiros. Ficariam fiéis a ela até o fim.
Quando saem do poder, deixam atrás de si uma terra arrasada nas forças de esquerda e um país em frangalhos. O povo não tem outra opção senão devolver ao poder aos milicos ditadores, os mesmos que foram tirados há mais de 30 anos.
Mas não era esse justamente o plano desde o começo? Não foi para isso que foram treinados? A CIA, com sua habilidade geopolítica, já se adiantava décadas no futuro e previa o colapso de seu regime fantoche no Brasil e a ascensão de forças contestadoras. Não seria melhor antecipar-se e pôr em execução um plano de longo prazo para liquidar estas forças por dentro? No fim, a História regressaria e o regime fantoche voltaria nos braços do povo.
Certamente, um plano magistral da CIA. Ou seria apenas fake news? Os lulopetistas que respondam. (por David Emanuel de Souza Coelho)
2 comentários:
O MPL – Movimento Passe Livre deu o impulso legítimo, mas depois perdeu as rédeas das manifestações, que desaguaram nas “5 causas nobres dos proletariados”:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jornadas_de_Junho
(...)
Um vídeo intitulado "Anonymous Brasil - As 5 causas!" de autoria do coletivo Anonymous, é lançado na internet em resposta a mídia que frequentemente anunciava a falta de reivindicações claras durante os protestos, e sugere 5 motivos consensuais pelos quais as pessoas estariam se manifestando, pedindo a colaboração e adesão a estas causas como foco nos próximos protestos. Sendo elas:
A rejeição ao PEC 37;
A renúncia de Renan Calheiros da presidência do Senado;
Investigações e punição de irregularidades nas obras da Copa do Mundo a ser realizada no país;
Lei que torne corrupção crime hediondo;
E o fim do foro privilegiado.
O vídeo "As 5 causas" foi bem aceito chegando a receber em menos de 24 horas mais de 1 milhão de visualizações e em poucos dias a teve cerca de 1000 republicações em outros canais e sites de vídeos.
Ganhando destaque nos protestos, as "5 causas" geraram inúmeras matérias em sites e chegou a atribuir aos Anonymous a nova liderança nos protestos, ganhando espaço em matérias de rádio, revistas, jornais e televisão, incluindo repercussão internacional. Manifestantes não só no Brasil, mas brasileiros em outros países apoiaram as chamadas "5 causas" e exibiam cartazes com a lista durante protestos. (...)
---> Detalhe: De 2009 a 2012, alguns líderes do Anonymous foram presos pelo FBI. Ora, será que a CIA não tirou proveito disso e “operou” o grupo com propósitos escusos ? https://en.wikipedia.org/wiki/Anonymous_(group)#Wanted_criminals
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http://ref.scielo.org/975g2m
(...)
Se o meu raciocínio estiver correto, a segunda fase não teria representado uma apropriação do movimento pela direita, mas uma muito mais sutil ressignificação por parte de um centro pós-materialista. Por meio dela, tanto os "hospitais padrão Fifa" como as "punições exemplares aos corruptos" passaram a simbolizar a "modernização do Brasil". A hipótese de que um centro pós-materialista possa ter formado o eixo da segunda fase dos acontecimentos de junho encontra amparo nos dados disponíveis sobre o perfil ideológico dos manifestantes (Quadro 4). Não apenas o centro é a posição individualmente majoritária, mas, se considerarmos que a centro-esquerda e a centro-direita podem ser vistas como parte de um centro ampliado, chegaremos a que perto de 70% dos participantes giravam em torno de posições centristas. Faz sentido pensar que esquerda e direita se encontraram no centro ao cruzarem, em sentidos opostos, as avenidas do país.
Complementando a informação, em decorrência das jornadas de junho, os 5ª colunas lesa-pátria Dilma Roussef e seu ministro da justiça, José Eduardo Cardozo, encaminharam a aprovação da Lei anti-terrorismo, em que incluia em seu texto a famigerada delação premiada.
No ano seguinte, nascia a lava jato...
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