terça-feira, 3 de setembro de 2019

O BOLSONARO DO FUTEBOL ESTÁ NA RUA DA AMARGURA. FALTA O FELIPÃO DA POLÍTICA...

Não surpreendeu a ninguém o apoio do técnico Luiz Felipe Scolari ao deputado ultradireitista Jair Bolsonaro na última eleição presidencial: o treinador limitado, autoritário e truculento tem muitas afinidades com o político idem, idem e quase idem (há muito de propaganda enganosa nas suas bravatas). 

Pode-se dizer que o gaúcho à moda antiga Felipão é o machão que o paulista acariocado Bozo gostaria de ser. Como técnico do Grêmio, p. ex., calou a boca do congênere palmeirense Vanderlei Luxemburgo com um tapa em pleno estádio Olímpico.

Já do capitão motosserra só se conhecem agressões contra mulheres e contra o fracote Randolfe Rodrigues. Mas, quando a parada era mais indigesta, optou por obedientemente entregar arma e moto à bandidagem, preferindo preservar a vida do que a imagem.

Curiosamente, foi o outro bolsonarista do Palmeiras, o jogador Felipe Melo, quem precipitou a nova desgraça de Scolari: um dos recordistas mundiais de cartões vermelhos e amarelos, o bolsominion dos gramados (como o apelidou Juca Kfouri) novamente estava suspenso quando seu time mais dele carecia. Esta tem sido sua sina desde que, com muito rancor e nenhum juízo, enterrou a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2010.

A facilidade com que, na semana passada, o Grêmio virou o jogo contra o Palmeiras em plena arena paulista, frustrando novamente o sonho do Mundial que os alviverdes jamais conquistaram, foi decisiva para a demissão do Felipão, que acabou tendo o destino habitual dos que criam corvos: olhos bicados.
Mas, perguntarão os leitores, por que tanta bronca do velho treinador? É porque ele simboliza muito daquilo que eu mais deploro no esporte e na vida.

Eu tinha sete anos quando os brasileiros gritamos pela primeira vez a Taça do Mundo é nossa!. Acompanhei, atento e maravilhado, toda a trajetória da geração de ouro do futebol brasileiro. 

E jamais deixei de colocar a arte como um ingrediente indispensável para eu gostar de times e selecionados.

Apesar do meu coração corinthiano, nunca deixei de assistir às partidas que podia do Santos do Pelé, do Botafogo do Mané, do Cruzeiro do Tostão, do Flamengo do Zico, da laranja mecânica do Cruyff, do Napoli do Maradona, do Barcelona do Messi e outros esquadrões que ganhavam sem deixarem de proporcionar espetáculos deslumbrantes.

Cheguei a tirar férias como torcedor do meu time quando o treinador Mário Sérgio Pontes de Paiva, em 1993-95,  mandava seus pupilos fazerem faltas leves (evitando expulsões) o tempo todo, para o jogo dos adversários mais fortes não fluir, na esperança de marcar um gol numa bola vadia e segurar até o fim o placar mínimo. Eu acompanhava o resultado das partidas pelo jornal e mais nada.

Scolari nunca passou de um Mário Sérgio um pouco melhorado. Tornava seus times guerreiros (com uma rispidez bem próxima da deslealdade) e defensivistas, contando fazer gols principalmente à custa de bolas paradas e do jogo aéreo. Os jogadores mais emblemáticos do estilo Felipão foram o paraguaio Arce (um lateral direito muito hábil nos cruzamentos) e Jardel (centroavante alto e grande cabeceador). 

Para quem preza apenas a vitória, o Grêmio de Felipão, Arce e Jardel bastava. Para mim, era a quintessência do antifutebol.

A conquista do Mundial de 2002 foi o auge e o canto do cisne do Felipão, que nada mais faria de notável, até porque a revolução catalã, pouco depois, expeliu da divisão de elite do futebol mundial os treinadores meramente pragmáticos. 

E Scolari, quanto à estratégia de jogo, sempre foi zero à esquerda, como ficou evidenciado ao sofrer a pior derrota e a maior goleada que um selecionado principal brasileiro amargou em mais de um século de História e mais de mil partidas disputadas.

Antes, salvava-se nos aspectos táticos e motivacionais. Agora, nem isto. 

Queimou-se em 2012 no Palmeiras por ter passado às turbas organizadas os nomes de jogadores baladeiros a fim de que estas os disciplinassem, mas sua trairagem vazou para os delatados e ele ficou sem ambiente de trabalho, com o vestiário de pernas pro ar (metade do grupo o defendia e metade o execrava). Deixou o time  em marcha acelerada para a série B do Brasileirão.  

Desta vez, culpou os atletas pela desclassificação na Libertadores e eles, como era pra lá de previsível, arrastaram-se em campo domingo, enquanto os do Flamengo voavam.

Se tivesse parado na hora certa, seria lembrado como o pentacampeão de 2002 e não como a bruxa dos 7x1. Faltou-lhe humildade e simancol para sair enquanto estava por cima. (por Celso Lungaretti)
"Oi, zum, zum, zum, zum, zum, está faltando um.
Oi, zum, zum, zum, zum, zum, está faltando um"

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