quarta-feira, 14 de agosto de 2019

GOVERNO OU MOSTRENGO IDEOLÓGICO? O PRESIDENTE TEM VIÉS DITATORIAL E O GURU ECONÔMICO É UM LIBERAL ANACRÔNICO – 1

dalton rosado
O PRESIDENTE BOÇALNARO, O IGNARO; O MINISTRO TCHUTCHUCA GUEDES, AS CONTRADIÇÕES E IMPASSES POLÍTICO-ECONÔMICOS (ENDÓGENOS E EXÓGENOS)
"Todo nascimento supõe um 
rompimento" (Clarice Lispector)
O Estado sempre tem função estratégica sob o capitalismo (e não sobre). 

Os governos, espécies funcionais do gênero Estado, dependendo do matiz ideológico, dividem-se em dois modelos básicos, com variações de intensidade e posturas políticas, apenas. São eles: 
— os estatistas, adeptos de um estado intervencionista, proprietário dos meios de produção de modo integral ou parcial, e que se mantêm pela força (hoje eles são denominados de keynesianos ou neo-keynesianos);
b) os anti-estatistas, adeptos de um Estado mínimo que apenas cumpra a sua função de indutor da economia capitalista e mantenedor da ordem institucional, e que igualmente se mantêm pela força (hoje denominados liberais ou neoliberais).
.
Se quisermos, ainda podemos incluir um terceiro modo governamental (que também é espécie funcional do Estado), comum nos dias de hoje: os modelos híbridos, que atuam nos dois sentidos acima, ou seja, ora são estatizantes, ora liberais, numa simbiose de keynesianismo e neoliberalismo. 

Aliás, em razão da debacle capitalista mundial, é cada vez mais usual a existência de tal modelo híbrido.

O que se mostraram os Estados Unidos, defensores históricos do liberalismo de mercado, quando da intervenção do FED  (a Federal Reserve, o Banco Central deles) durante a crise do sub-prime, socorrendo os banco falidos mediante a injeção de dólares sem lastro? Ou, ainda, ao recorrerem à reserva de mercado contra produtos chineses?

O que se mostra a China (dita comunista), diante da ortodoxia liberal provocada pela necessidade de vender seus produtos para fazer face à sua crescente e já insolvável dívida monetária pública e privada?

Ambos os governos citados são estatizantes ou liberais dependendo das circunstâncias ditadas pelo capitalismo ao qual todos os Estados são dependentes submissos. 

Qualquer que seja seu matiz político ideológico, Estado moderno é sinônimo de capitalismo, e ponto final.

A Venezuela é tão capitalista quanto os EUA; os seus governos se diferenciam apenas na condução política, mas dentro de um mesmo norte referencial de produção mercantil decadente. As divergências se cingem às preferências políticas ditadas por interesses econômicos, e não é por menos que Vladimir Putin ajudou eleitoralmente Donald Trump.

Nosso vizinho sul-americano bolivariano gosta de vender o seu petróleo aos Estados Unidos, e os EUA gostam de comprar o petróleo barateado pela oferta superavitária internacional e pelo baixo custo do frete marítimo dada a proximidade da produção. Ambos são dependentes (até certo ponto) entre si, e quando se trata de interesse mercantil, excluem-se das negociações as divergências políticas. 
Apesar de todos os embargos que o Tio Sam articulou e patrocinou contra os governos bolivarianos, os estadunidenses continuaram comprando o petróleo venezuelano. 

É claro que, no interior do gênero capitalista, existem espécies as mais variadas e híbridas, que vão desde os modelos nacionalistas exacerbados, como o nazismo, de triste lembrança (era economicamente liberal e seus empresários industriais privados adoravam Hitler, mas defendiam a tese de Germany First, inclusive na questão do espaço territorial vital), até os modelos mais inusitados como o chinês, dito comunista na sua forma de governo, mas o mais capitalista de quantos disputam a guerra concorrencial de mercado mundo afora.

Sob a forma de produção mercantil, o gênero político-econômico é o capitalismo; as suas espécies, os tipos de governos políticos.

Mas o Brasil anda tão idiossincrásico que não se consegue enquadrá-lo dentre as espécies mais conhecidas. 

Temos um mostrengo ideológico eleitoral nascido da insatisfação popular com a debacle capitalista, falaciosamente apresentada para o grande público como sendo resultante da corrupção com o dinheiro público. 

Tal mostrengo elegeu um candidato cujo primarismo é chocante (ele não possui o traquejo cultural do Lula, justificadamente inculto por ser um migrante nordestino de origem operária, mas calejado em anos de difícil embate político ideológico) e que, por falta de um norte referencial, viaja o tempo todo na maionese e sequer sabe claramente o que quer, o que diz ou o que faz, daí já estarmos acostumados aos desmentidos do seu porta sem voz após cada declaração estapafúrdia. 

As posturas do presidente Boçalnaro, o ignaro, são tão absurdamente contraditórias que mais se parecem com a daquele viajante que, pretendendo ir de São Paulo para o Rio Grande do Sul, toma a Via Dutra e, quanto mais acelera, mais perdido fica. 

A pretensão do seu guru econômico Paulo Guedes (que perde as estribeiras quando o chamam de tchutchuca...) tem norte definido, embora ultrapassado pelo tempo, e se choca com o viés ditatorial imprudente de seu chefe. 

Boçalnaro quer o parlamento e o judiciário aos seus pés. Por ele, um cabo e um soldado suprimiriam o Supremo Tribunal Federal (como disse um dos filhos zero à esquerda); e não cessa de criticar o parlamento, do qual fez parte por longos e parasitários 28 anos, usando as redes sociais para suas críticas como se estivesse em campanha eleitoral. 

A guerra com o parlamento (sabidamente elitista, cujos membros fisiológicos lá estão majoritariamente por força do poder econômico, e que são ideologicamente mais afinados com o liberalismo burguês) é, claro, contraproducente para quem quer ver aprovadas as medidas impopulares tidas como indispensáveis por Paulo Guedes nestes tempos de vacas magérrimas.

Não é por menos que o senador Tasso Jereissati e a senadora Simone Tebet, que têm vieses ideológicos capitalistas, ficam assustados com a falta de tato do presidente e afirmam abertamente que ele contribuiria mais para a agenda liberal se ficasse calado. 

Já o viés ditatorial de Boçalnaro, o ignaro o leva a querer um retrocesso aos tempos de Luís XIV, autor da afirmação célebre que sintetiza o absolutismo: o Estado sou eu (“L’état c’est moi”). 

Bolsonaro não é liberal burguês, mas absolutista feudal com laivos napoleônicos militaristas. Um atraso histórico, e esta é uma das principais idiossincrasias ideológicas do seu desgoverno. (por Dalton Rosado
(continua neste post)

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro, DR

Por enquanto, os patrões estão contentes e os assalariados estão assustados.

Mas essa matilha ignóbil que usurpou o poder só vai cair quando começarem os saques aos comércios pela população faminta.

Uma coisa é certa, quando, em breve, vier a debacle econômica mundial que se anuncia, esses generais entreguistas (que nunca foram nacionalistas) vão se arrepender do que estão fazendo...

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