domingo, 3 de dezembro de 2017

JÁ ESTAMOS TESTEMUNHANDO O INÍCIO DOS ESTERTORES DO CAPITALISMO

DESSUBSTANCIALIZAÇÃO DO VALOR: O PRINCÍPIO DO FIM.

As mutações sociais históricas se processam de modo diferenciado com relação ao tempo médio de vida dos seres humanos; é por isto que as ações humanas muitas vezes não têm os seus reflexos vivenciados pelos que as causaram.

As verdadeiras revoluções comportamentais sociais correspondem às construções centenárias nas quais cada tijolo se soma aos milhões de tijolos acrescentados ao longo dos tempos por incontáveis gerações.

Cada passo dado, por mais imperceptível que seja em termos de significado social histórico, é uma contribuição silenciosa e definitiva para o avanço da roda da história (ainda que existam solavancos e retrocessos momentâneos, que fazem parte do itinerário humano). 

Neste sentido, uma descoberta científica, ainda que impulsionada por uma motivação econômica qualquer e, portanto, imanente à lógica da mediação social sob a forma valor, é também um passo dado no sentido da morte futura do capitalismo.  

A forma-valor se iniciou formalmente há cerca de 2.700 anos na Grécia, com a primeira mercadoria eleita como referência para a aquisição de todas as outras mercadorias no processo de troca quantificada, escambo, embrião do valor (que é diferente da troca do simples excedente de produção, sem quantificação de valor), tal qual um ser humano quando nasce, iniciou ali a sua caminhada para a morte, na razão direta de ser tal mediação social um fato histórico, não ontológico da nossa existência.   
Adam Smith: o egoísmo como motor do progresso.
Adam Smith, tido como o pai da economia moderna, entendeu, equivocadamente, a criação da mediação social sob a forma-valor como um dado ontológico da vida social, a ponto de considerar o trabalho produtor de valor tão indispensável para o ser humano como a satisfação das necessidades biológicas; e até mesmo como um ato de dignificação da condição humana! 

Não o é, absolutamente.  Pelo contrário, não passa de uma forma de escravização! 

Coube a Karl Marx, um século depois, desmistificar tal conceito, embora a teoria da crítica da economia política de Marx tenha soado para muitos (e ainda hoje soe, embora venha sendo ressuscitada atualmente) como um disparate.

A História praticamente se repetiu. Galileu Galilei, quando proclamou a heresia de que a Terra era redonda e girava em torno do sol, foi obrigado a renegar as suas afirmações para não morrer no fogo da nada Santa Inquisição

Marx, pelo menos, jamais teve de recuar de suas posições corretas, mas não escapou da estigmatização e satanização por parte daqueles que acreditavam e acreditam ser eterno, indispensável e único o modo de produção capitalista
O veredito da História  está sendo dado agora

Embora o avanço tecnológico que nos proporcionou as melhoras coletivas de vida tenha sido impulsionado pela guerra de mercado, trata-se, paradoxalmente, de um benefício advindo de uma negatividade intrínseca (que é a própria essência do sistema produtor de mercadorias e do mercado). Das guerras também decorrem avanços tecnológicos...

É no mercado que as mercadorias se digladiam em busca da própria hegemonia, com uma mercadoria ganhando vida em detrimento das outras que morrem, num exemplo micro-celular da essência belicista do capitalismo, a qual tem provocado o maior genocídio desde que se iniciou o itinerário humano sobre a face da Terra.

Trata-se de uma contradição  das mais emblemáticas:
— de um lado, o avanço tecnológico aplicado à produção de mercadorias implica um novo nível de produtividade, capaz de tornar o trabalho produtor de valor (trabalho abstrato) apenas marginal na produção de mercadorias; 
— de outro, como o valor das mercadorias nada mais é do que trabalho abstrato nelas cristalizado, objetivado, isto significa dizer que a eliminação do trabalho abstrato equivale à inviabilização da produção de um volume de valor global suficiente para irrigar o organismo social, retirando oxigênio dos dois maiores parasitas do capitalismo, o Estado (seu guardião) e, principalmente, o capital fictício (que vive de cobrar juros pelo empréstimo da mercadoria dinheiro, apostando nos lucros futuros da economia real). 
Quem encontrar um ser humano nesta foto receberá um livro do Adam Smith como brinde...
Resumo da ópera: o avanço tecnológico da robotização da microeletrônica, que dispensa custos com trabalho necessário (aquele remunerado ao trabalhador), representa a dessubstancialização do valor das mercadorias e, com ela, o emperramento de toda a engrenagem social erigida sob sua lógica destrutiva e autodestrutiva. Este é o paradoxo entre o bem e mal dos ganhos do saber tecnológico sob a égide do capital.
  
Tal fenômeno, cada vez mais agressivo, significa que o motor da História ganhou velocidade, com cada ano hoje vivido correspondendo a milhares de tijolos colocados imediatamente no tempo da construção histórica da transformação social. Já estamos, portanto, presenciando o início dos estertores do capitalismo.
  
O dito herege Marx, o esotérico, antimarxista, estudando o núcleo essencial da forma-valor, pôde desvendar a contradição essencial da dinâmica capitalista, vaticinando, há cerca de 160 anos, o seu fim irremediável por suas próprias contradições. 
160 anos depois, previsões de Marx começam a se confirmar
Desmentiu, portanto, o sábio Adam Smith, ao afirmar (*) que: 
"... Caso se conseguisse, com pouco trabalho, transformar carvão em diamante, o valor deste poderia cair abaixo do dos tijolos. Genericamente, quanto maior for a força produtiva de trabalho, tanto menor o tempo de trabalho exigido para a produção de um artigo; tanto menos for a massa de trabalho nele cristalizada, tanto menor o seu valor. 
Inversamente, quanto menor for a força produtiva de trabalho, tanto maior o tempo de trabalho necessário para a produção de um artigo, tanto maior o seu valor. A grandeza do valor de uma mercadoria muda na razão direta do quantum e na razão inversa da força produtiva do trabalho que nele se realiza..." 
OS GIGANTES TÊM PÉS DE BARRO

No início de 2008 –antes, portanto, da crise do subprime (aquela das bolhas do sistema financeiro, que eclodiria nos Estados Unidos, com reflexos mundiais, no semestre seguinte)–, foi publicado no jornal O Povo, de Fortaleza um artigo no qual demonstrei a insustentabilidade do aparentemente forte poderio do capital em face do processo autodestrutivo do próprio capital, que agora volta a se intensificar.
"Estourei a banca!"

Vale a pena reproduzir, na íntegra, aquele artigo, até para confrontá-lo com os acontecimentos seguintes:

"Os sintomas de debacle mundial do sistema produtor de mercadorias são evidentes, prenunciando uma crise que já atinge os Estados Nacionais e deverá provocar uma hecatombe no sistema financeiro internacional. A crise da produção industrial de mercadorias, atividade produtora de valor e mais valia, arrasta gravemente o Estado e o capital financeiro. 

Os sintomas mais evidentes desse quadro são os resultados financeiros de grandes e tradicionais impérios industriais mundiais que apresentam consideráveis prejuízos nos exercícios financeiros mais recentes. Vejamos os exemplos:

 a General Motors, nascida há exatos 100 anos nos Estados Unidos e difusora do way of life automobilístico mundial, apresentou no exercício de 2005 um prejuízo de cerca de US$ 5 bilhões, algo bastante significativo se levarmos em consideração que o valor de mercado do grupo está orçado em US$ 10,6 bilhões. A empresa ameaçou falir, simplesmente, e com isto arrastaria um universo de atividades econômicas, financeiras e industriais que lhe são atreladas;

 a Ford apresentou o seu pior resultado em 103 anos de existência, com prejuízo no exercício de 2006 da ordem de US$ 13 bilhões, demissões em massa e o fechamento de fábricas nos Estados Unidos;
"consideráveis prejuízos nos exercícios financeiros recentes"
 a Mitsubishi japonesa apresentou prejuízo de US$ 4,4 bilhões no exercício de 2004 e a Volkswagen alemã, em meio a denúncias de corrupção, também teve um desemprenho bisonho em 2005. 

O avanço das empresas asiáticas no setor e o crescimento industrial chinês, antes de representar vigor capitalista, significam a dessubstancialização do valor, com produção de alta tecnologia (ou não) sempre com mão-de-obra barata, além de ser insubsistente, porque dependente de um mercado externo cujo limite está previamente estabelecido. É o chamado crescimento para baixo, como se fora rabo de cavalo. 

A forma material concreta da produção mercantil entra em contradição flagrante com o limite de sua lógica abstrata. 
         
A consistência de uma teoria crítica afirma-se quando não se tem de corrigi-la a qualquer tempo e, mais consistentemente, quando ela se afirma com mais substância ao longo do tempo. A teoria critica da economia política de Karl Marx, que orienta os nossos escritos e avaliações, tem esta força argumentativa, ainda que ela contrarie interesses mesquinhos ou dogmáticos". (por Dalton Rosado)

* Karl Marx, O Capital – Crítica da Economia Política, Livro 1º, 4ª edição, 1890.

5 comentários:

Anônimo disse...

A Terra plana nunca foi dogma católico. O conhecimento que o planeta é esférico é aceito no ocidente alfabetizado desde os os gregos antigos. Galileu nada teve a ver com o formato da Terra, mas sim com o seu lugar no espaço. O interessante é que na astronomia o clero católico sempre forneceu pesquisadores de ponta. Seja Nicolau Copérnico ou Georges Lemaitre, o principal teórico da grande explosão que originou o universo.

celsolungaretti disse...

Caro Jorge,

no dia 31 de outubro de 1992, o Papa João Paulo II reconheceu oficialmente o engano cometido pelo Tribunal Eclesiástico ao exigir de Galileu Galilei a retratação de suas afirmações científicas sob pena de condenação como herege. O cientista italiano se retratou e teve a sua pena comutada para prisão domiciliar.

O Papa João Paulo II afirmou que "o erro dos teólogos da época, quando mantinham a centralidade da Terra, era o de pensar que o nosso entendimento da estrutura física do mundo era, de algum modo, imposto pelo sentido literal da Sagrada Escritura".

Já Giordano Bruno, que afirmou a existência de outros planetas e a possibilidade de existência de outras vidas neles, não teve o mesmo destino e foi condenado à morte sob o fogo da Santa Inquisição.

Como disse Marx, somente os que se aventuram a escalar as escarpas íngremes das montanhas e desvendar os segredos do pensamento conservador retrógrado é que podem alcançar os cimos luminosos.

Dalton Rosado.

Valmir disse...

pronto...é a ultima "crise final do capitalismo" desse ano decretada pela esquerda...ano que vem deve ter mais uma 3 ou 4.... como todo ano..

Anônimo disse...

A centralidade não a planicidade. Aliás, Terra plana nos últimos milhares de anos ressurgiu com a internet. São milhões de otários ao redor do mundo divulgado isso. Creio que no Brasil todos sejam eleitores do bolsonaro.

Unknown disse...

Eterno respeito ao Karl que inspirou tantas gerações.
Li e gostei do 18 Brumário e o ensaio Do Rendimento e Sua Fontes. Muito esclarecedores. Apesar de que o estilo do ensaio seja enfadonho.
Tivessem os banânicos o hábito de lê, e lessem Karl, não precisariam de rivotril.
Das Kapital me derrubou no primeiro paragráfo onde ele repetiu tudo que disse no anterior e acrescentou uma palavra. E assim é, ad nausea.
Mas tem seus méritos,menos um: o de ter derrubado o Smith.
Com a devida vênia, quem o fez foi Nash. Ao demonstrar que em jogos repetidos e com horizonte de tempo longo os seres humanos tendem a usar estratégias cooperativas.

Depois, os caras estudaram as bactérias do intestino humano e observaram a mesma estratégia...
Provando que a orgulhosa e pedante espécie humana tem o mesmo nível da E. coli que habita o excremento.

Quanto a derrocada do capitalismo é visível.
De nossa parte, a arrecadação foi 3/4 da esperada.

Em outros comentários referí-me ao protocolo Blockchain e às criptomoedas (as tulipas atuais). Pois bem, examinando direito, esse protocolo será o próximo passo na mediação financeira entre pessoas.
Assim, cada interação econômica será contabilizada descentralizadamente, ou seja, exige cooperação e honestidade.
E sabemos que até as bactérias são cooperativas quando convém.

E é isso. Devemos olhar a frente e ver o que de bom virá, sabendo que nem tudo cabe na forma que o Karl criou.

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