sexta-feira, 3 de novembro de 2017

POR QUE A ANTIGA CIDADE MARAVILHOSA SE TORNA CADA DIA MAIS HORROROSA?

O CAOS BRASILEIRO (E CARIOCA) NO
 QUESITO VIOLÊNCIA E SUAS CAUSAS
O mundo vai mal. As estatísticas sócio-politico-econômicas atestam a tragédia global crescente e que está agora sendo agravada pela crise ecológica (secas, inundações, incêndios florestais, furacões mais intensos e frequentes, aquecimento global, etc.). 

Isto salta aos olhos quando acompanhamos o noticiário nacional e internacional, tornando desnecessária a comprovação com os dados macroeconômicos e sociais que são publicados por órgãos pertencentes ao sistema que produz tal monstruosidade.  

Chocante é liderarmos o ranking negativo inclusive num item que reduz a pó o tradicional chavão sobre a cordialidade brasileira: somos os campeões mundiais em números absolutos e relativos de homicídios por armas de fogo! 

Foram 36.792 as mortes deste tipo ocorridas no ano de 2010, segundo o mapa da violência do Ministério da Saúde. O pior é que esta melancólica estatística vem sendo superada para maior a cada ano. O México, segundo colocado, registrou menos da metade de óbitos (17.561) em 2010. E a Unicef acrescenta que o Brasil é, no mundo, o país com maior número de assassinatos entre jovens de 10 a 19 anos.
É inadmissível que convivamos com mais mortes por armas de fogo em números absolutos do que a Índia e a China, países que possuem o sêxtuplo (ou mais) da nossa população. 

Temos taxas de mais de 30 mortes anuais para grupos de 100 mil habitantes no Espírito Santo, Bahia, Paraíba e Pernambuco, enquanto no estado de Alagoas este número sobe para 55,3. 

Resumindo: trata-se de uma verdadeira tragédia nacional macabra!

AS RAZÕES PRIMÁRIAS DA DESMEDIDA
 VIOLÊNCIA URBANA NO BRASIL

Ainda que possamos nos orgulhar da nossa maravilhosa miscigenação e convivência interativa pacífica das diversas etnias que aqui convivem sem nenhum conflito político-religioso (contrariamente aos que ocorrem nos seus países de origem), não podemos nos calar sobre a absurda violência urbana que assola o país.

Somos um país cindido pela cruel desigualdade social que nos transforma no que se convencionou chamar de Belíndia: um pouco da Bélgica e muito da Índia. Os poucos ricos daqui são comparáveis aos ricos do chamado 1º mundo; os muitos pobres daqui têm níveis de vida semelhantes aos dos países mais pobres da África, da Ásia e da América Central.

A cisão social causada pela desigualdade de renda é flagrante, pois, apesar de sermos um país mediano em termos da relação PIB/população, a diferença entre as remunerações da elite dominante e o salário dos trabalhadores de pouca qualificação é um assombro. Um juiz, p. ex., ganha em média trinta vezes mais do que um trabalhador na faixa de salário-mínimo. Se fizermos a mesma relação com os salários dos parlamentares (corrupção à parte), a coisa atinge patamares estratosféricos. 

Em razão dos baixos salários dos operários, deveríamos ter competitividade na produção de mercadorias voltadas para a exportação. Mas não a temos, e isto se deve ao chamado custo Brasil:  
a) somos um país de trabalhadores pobres, com baixo nível de produtividade e, hoje, em mais de 10% desempregados;  
b) temos uma carga tributária absurdamente variada e cara;  
c) nossa concentração de renda e das mais exageradas, dificultando a circulação da riqueza abstrata;  
d) somos um país burocratizado, no qual o cidadão é considerado, a priori, um criminoso em potencial; 
e) somos um país que não compreende os mecanismos autofágicos da guerra concorrencial internacional de mercado (como a China o faz), o que nos torna pouco competitivos no mercado internacional. 
A resultante disso é que apenas exportamos matérias-primas (ferro principalmente), produtos agrícolas (soja e carne) e pouca coisa de produtos manufaturados e tecnológicos que agregam alto valor econômico.

Já são bastante negativos os índices macroeconômicos e sociais do capitalismo, mas aqui nós ainda conseguimos piorá-lo, praticando-o de forma estúpida e elitista, sem tirarmos o devido proveito de nossas imensas potencialidades em recursos naturais e humanos. 

O capitalismo, tendo como uma de suas características básicas a reificação  (pois as coisas inanimadas, as mercadorias, dão ordens aos seus súditos incautos), impõe regras de comportamento ditatoriais, assassinas, que se não forem atendidas, causam a morte de tais súditos desavisados com intensidade ainda maior.

Mas, é na questão da impunidade histórica, seja quanto ao combate à corrupção com o dinheiro público, seja (principalmente) quanto ao combate ao furto e ao latrocínio que reside uma combinação explosiva de todos os fatores que culminam na vergonhosa tragédia nacional da violência urbana hoje existente. 

O Estado, diante da escalada da criminalidade criminalidade, perdeu a capacidade de prender, uma vez que um preso é mais caro do que um professor. O problema vai desde a má qualidade do aparelho policial preventivo e punitivo até o mau aparelhamento do Judiciário (com poucos e caros juízes e promotores), além da infraestrutura precária da máquina judiciária. Esta é a radiografia da impunidade.

A CRISE NO TOPO DO APARELHO
 JUDICIAL E DA JUSTIÇA

O ministro da Justiça Torquato Jardim, aquele mesmo que tramou a extradição ilegal do escritor italiano Cesare Batistti, cometeu mais um desatino: fez uma generalização acusatória que feriu os brios da corporação militar e do segmento político do estado do Rio de Janeiro, causando uma crise adicional no já conturbado e fragilizado governo do presidente temerário

Disse o ministro que o governo estadual do Rio de Janeiro não controla a Polícia Militar e que o comando da corporação está associado ao crime organizado. 

As graves acusações foram lançadas na véspera de uma data simbólica: a formalização do grupo de procuradores dedicados ao combate à criminalidade no Estado. O ministro da Justiça participou da cerimônia de assinatura de um protocolo de intenções do governo federal para enfrentar o crime organizado naquele estado.

É verdade que há um mau cheiro histórico na relação de combate ao crime no Rio de Janeiro envolvendo autoridades policiais civis e militares (vide assassinato recente de uma juíza por membros da Polícia Militar). Mas nunca se podem generalizar comportamentos profissionais atribuídos a uma corporação que conta com cerca de 50 mil homens, muitos dos quais vêm sendo assassinados na verdadeira guerra que se tornou o combate à criminalidade no Rio de Janeiro. 

O ministro da Justiça é estrategicamente desastroso e administrativamente ineficaz.

O que se pode inferir dessa crise é que a tragédia da segurança pública no Rio de Janeiro, com balas perdidas resultantes de tiroteios envolvendo facções criminosas entre si ou com a polícia amiúde vitimando inocentes, deriva de uma verdadeira anomia social própria a um Estado falido: comércio volumoso de drogas e armas; desemprego estrutural e baixos salários (subemprego); e corrupção escabrosa com o dinheiro público.

Uma das cidades com maior beleza natural do mundo se vê sufocada pela barbárie da depressão capitalista, conjuminada com a corrupção; com os parcos recursos públicos; e com o tráfico de drogas e armas que se constitui como um Estado paralelo que dá ordens aos moradores dos morros que circundam a cidade. 

A isso está reduzida a capital cultural do Brasil, 452 anos após sua fundação! A crise contrapondo o topo do aparelho policial e político do Rio de Janeiro ao ministro da Justiça é o mais eloquente exemplo do quanto pode decair uma sociedade sob o capitalismo, em países periféricos como o Brasil. (por Dalton Rosado)
Em 2016 já deixara de ser maravilhosa há muito. Me engana que eu gosto!

4 comentários:

Anônimo disse...

Celso, reportagem fiel a atual conjuntura da cidade maravilhosa.Só nos resta o pleito. Tudo muito caótico, horrível de pensar.Abraço

celsolungaretti disse...

Com certeza. A análise do Dalton é perfeita... e aterradora!

Valmir disse...

tudo começou a ferrar quando PMs começaram a ter aulas de direitos humanos (braço do crime organizado) e passaram a pensar como seus inimigos..daí se tornaram indefesos.( basta lembrar quando ha pouco tempo prenderam o cidadão americano que reagiu - americanos reagem - a um assalto..e a policia meio que se tornou babá de criminoso)

celsolungaretti disse...

Valmir, a relação entre direitos humanos e crime organizado nunca existiu. É mera demagogia DESUMANA da extrema-direita. Hitler explica.

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