Ao apresentar no blogue o filme O Jovem Karl Marx (vide post), dei-me conta de como é raro vermos os mais importantes episódios e personagens revolucionários serem levados às telas.
Da revolução russa, p. ex., temos os nonagenárias fitas de Eisenstein, que intelectuais cultuam mas os jovens não suportam em razão da forma anacrônica; Reds (d. e c/ Warren Beatty, 1981) sobre como o escritor John Reed documentou e eternizou os 10 dias que abalaram o mundo; O assassinato de Trotsky (d. Joseph Losey, 1972) e obras menores que quase ninguém conhece. É bem pouco.
Da revolução russa, p. ex., temos os nonagenárias fitas de Eisenstein, que intelectuais cultuam mas os jovens não suportam em razão da forma anacrônica; Reds (d. e c/ Warren Beatty, 1981) sobre como o escritor John Reed documentou e eternizou os 10 dias que abalaram o mundo; O assassinato de Trotsky (d. Joseph Losey, 1972) e obras menores que quase ninguém conhece. É bem pouco.
Daí a extrema relevância, ainda mais para revolucionários brasileiros, do filme La Cecilia (d. Jean-Louis Comolli, 1975), que resgata um episódio histórico pouco conhecido mesmo entre nós: a implantação de uma colônia rural no Paraná, por parte de anarquistas italianos.
O experimento durou cerca de quatro anos, entre 1890 e 1893. Houve muito entusiasmo no início, mas depois foram aflorando os problemas que acabariam levando à extinção da colônia. Eis alguns deles:
- a contribuição desigual de citadinos e camponeses, pois a produtividade dos primeiros era inferior. Deveriam receber a mesma fração dos frutos do trabalho, conforme os ideais igualitários? Isto não significaria uma espécie de proletarização dos que produziam mais por estarem acostumados a lidar com a terra? De outra parte, se os lavradores fossem melhor aquinhoados do que os outros, não estaria sendo reproduzida a escala de valores da sociedade burguesa? Inexistia uma solução que contentasse a todos.
- a dificuldade de lidarem, no dia a dia, com o conceito do amor livre, uma novidade que incomodava principalmente as colonas de origem camponesa;
- a absoluta falta de seriedade do Estado brasileiro, que já era patético décadas antes de De Gaulle o haver constatado. O imperador Pedro II, atendendo a pedido do músico Carlos Gomes, doou as terras para a instalação da Cecília, mas, proclamada a República, o seu ato foi sumariamente revogado e os colonos tiveram de pagar pelas terras com parte de sua colheita e trabalhando sem remuneração em obras do governo;
- a hostilidade dos moradores da região (por sentirem-se prejudicados pela concorrência) e de uma vizinha comunidade polonesa, católica e conservadora;
- as fases de escassez e de fome, com a consequente ocorrência de doenças decorrentes da desnutrição (problemas passageiros, que, contudo, reforçaram a tendência ao egoísmo por parte dos menos convictos dos ideais anarquistas, gerando nocivas divisões);
- a tentativa do governo de recrutar os colonos (italianos!!!) para combaterem a Revolução Federalista, o que, inclusive, contrariava seus ideais, pois simpatizavam com os revoltosos.
A Cecília chegou a ter 250 moradores, houve defecções em massa, a chegada de novas levas de pessoas atraídas pela divulgação nos círculos libertários europeus, etc. Alguns desistentes migraram para Curitiba, onde fundaram a Sociedade Giuseppe Garibaldi.
É o que o filme mostra, de forma dramatizada e com evidente simpatia pela causa.
Vale destacar que o elenco, cuja única cara familiar ao público brasileiro é a do ótimo Vittorio Mezzogiorno (No coração da montanha, O processo do desejo, Três irmãos), deu perfeita conta do recado.
Particularmente, eu preferiria uma abordagem menos convencional – como, p. ex., a que o cineasta suíço Alain Tanner deu aos ideais de 1968 no seu extraordinário Jonas, que terá 25 anos no ano 2000 (veja-o aqui).
É o que o filme mostra, de forma dramatizada e com evidente simpatia pela causa.
Vale destacar que o elenco, cuja única cara familiar ao público brasileiro é a do ótimo Vittorio Mezzogiorno (No coração da montanha, O processo do desejo, Três irmãos), deu perfeita conta do recado.
Particularmente, eu preferiria uma abordagem menos convencional – como, p. ex., a que o cineasta suíço Alain Tanner deu aos ideais de 1968 no seu extraordinário Jonas, que terá 25 anos no ano 2000 (veja-o aqui).
De resto, chega a ser chocante que, em meio a tanta tralha produzida no Brasil, ninguém haja realizado um filme sobre a Colonia Cecília. Nem sobre a importantíssima greve geral de 1917, a primeira com maior abrangência em nosso País, tendo sido dramática, sangrenta, longa e... vitoriosa!
A tutela do sectário PCB sobre a historiografia de esquerda implicou a minimização, tanto da Colonia Cecília quanto da greve de 1917, durante décadas. Quando as bandeiras negras anarquistas foram erguidas nas barricadas parisienses em 1968, o interesse dos historiadores por ambas foi reavivado, daí resultando livros e estudos acadêmicos que dimensionaram melhor sua relevância.
Nosso cinema, contudo, continua desperdiçando estes dois grandes temas. Que cada um teça suas conjeturas sobre os motivos de tão injustificável omissão.
Clique no 4º ícone da dir. p/ a esq.,
no rodapé, para ativar as legendas.
Um comentário:
Celso, valeu pela indicação do filme.
É bom ver que o sonho de liberdade é bem antigo.
Por em prática, já é outra história.
Gostei quando eles recinheceram que tanto aprenderam como ensinaram com a convivência.
Num filme com recursos limitados os atores deram o brilho que ele precisava.
Pode ser também que o ideal deu um gás a mais nas interpretações mesmo que tenha momentos panfletários.
Mas como não simpatizar cpm aqueles doidos que amavam tanto a liberdade?
Postar um comentário