sábado, 19 de março de 2016

NOVO MINISTRO DA JUSTIÇA DÁ ENTREVISTA DESASTROSA À 'FOLHA'

O New York Times, em editorial, identificou uma grande culpada pelo risco que Dilma Rousseff corre de ser mandada mais cedo para casa: ela própria.

O jornal, que vinha desaconselhando o impeachment, qualificou de "ridícula" a explicação por ela dada para tornar Lula ministro e estranhou que, lutando "pela sobrevivência política", Dilma ainda não tenha se dado conta da fragilidade de sua posição: "Surpreendentemente, parece ter achado que tinha capital político de sobra".

Então, conclui o NYT, "se suas últimas manobras impelirem o impeachment para a linha de chegada, Dilma só poderá culpar a si mesma".

É provável que o editorial tenha sido escrito antes de divulgada a gravação na qual, candidamente, Dilma abriu o jogo sobre a principal serventia do termo de posse. Caso contrário, seria mais contundente ainda.

Outra das últimas manobras de Dilma, a troca de ministro da Justiça, vai pelo mesmo caminho, de levantar a bola para o outro lado marcar pontos e mais pontos.

Era notória a pressão de Lula para que José Eduardo Cardozo inibisse a atuação da Polícia Federal até a inocuidade. 

Não aceitando se prestar a tal papel, Cardoso preferiu abrir mão do cargo. Então, o desconhecido Eugênio Aragão foi empossado sob suspeitas generalizadas de que vinha para botar um cabresto na PF.

Aí, neste sábado (19) ele dá entrevista simplesmente desastrosa à Folha de S. Paulo, repleta de afirmações que serão recebidas como a confirmação dos mais pessimistas augúrios. Leiam os trechos abaixo e constatem. Os grifos são meus, para destacar as afirmações mais chocantes e inconvenientes:  

A presidente Dilma fez algum pedido especial ao senhor?
Não. Ela me conhece e sabe quais são minhas posições. Só pediu apoio dentro do ministério. Um dos problemas estratégicos é a questão do vazamento de informações, que alguns dizem que são seletivos. Não podemos tolerar seletividade. Há uma politização do procedimento judicial, seja por parte do juiz, seja por parte dos agentes públicos em torno.

O sr. identificou abusos na Lava Jato em relação à PF?
É difícil divisar no Paraná quem é quem. O próprio uso da delação premiada tem pressupostos. No Direito alemão, a colaboração tem de ser voluntária. Se houver dúvida sobre essa voluntariedade, não vale. Na medida em que decretamos prisão preventiva ou temporária em relação a suspeitos para que venham a delatar, essa voluntariedade pode ser colocada em dúvida. Porque estamos em situação muito próxima de extorsão. Não quero nem falar em tortura. Mas no mínimo é extorsão de declaração... 
"A equipe será trocada, toda... eu não preciso ter prova."

E o vazamento de delação, preocupa?
Aí nós temos uma atitude criminosa, porque quem vaza a delação está querendo criar algum tipo de ambiente.

Mas esse vazamento pode vir da própria polícia...
Estou falando de polícia, Ministério Público, do juiz, e eventualmente do advogado. Mas o advogado tem uma vantagem: não é agente público. Mas os agentes públicos têm código disciplinar. O Estado não pode agir como malandro. A minha grande preocupação é com a qualidade ética desses agentes. Se vaza, é coisa clandestina. Se vaza, esse agente está querendo atribuir um efeito a esses atos públicos, que são essas delações.

Mas poderia o ministério punir algum agente que vazou?
A primeira atitude que tomo é: cheirou vazamento de investigação por um agente nosso, a equipe será trocada, toda. Cheirou. Eu não preciso ter prova. A PF está sob nossa supervisão. Se eu tiver um cheiro de vazamento, eu troco a equipe. Agora, quero também que, se a equipe disser "não fomos nós", que me traga claros elementos de quem vazou porque aí vou ter de conversar com quem de direito. Não é razoável, com o país num momento de quase conflagração, que os agentes aproveitem esse momento delicado para colocar gasolina na fogueira.

Pior, impossível. 

Quanto a colocar gasolina na fogueira, terá o novo ministro a mínima noção de quais serão as consequências de suas declarações? 

Se ele cumprir tais ameaças, as ruas rugirão de novo, empurrando ainda mais o impeachment para a linha de chegada.

Parece que, parafraseando T. S. Eliot, o governo de Dilma não cairá com estrondo, nem com um suspiro. Mas sim com as gargalhadas que dávamos quando assistíamos a um saudoso programa humorístico: Os Trapalhões.

2 comentários:

Paulo Volpini disse...

O Sr. distorce os fatos, sofisma;raras são suas críticas contra os tucanos. Espera, anseia o pior para uma "reconstrução da esquerda". E essa reconstrução é para vinte anos ou mais depois que o lulismo deixar o poder.

Desde quando Lula quis a troca do Ministro da Justiça [José Cardoso] porque ele não inibiu a polícia federal?

Embora o ex ministro da justiça [Cardoso] seja um excelente professor e advogado especialista em Direito Administrativo revelou-se um fraco, um tímido, um omisso no cargo em seu cargo.

O Ministro da Justiça é como o cargo do antigo Ministro do Interior. É para blindar, defender, ser o anteparo da presidência da república. É um cargo eminentemente político.

Aceitar que um agente da PF use a um cartaz com figura de Dilma para praticar o tiro o alvo e o Ministro da Justiça ficar aguardando "republicanamente" o inquérito da própria PF [o que deu três dias de suspensão do agente] é ser muito frouxo. Deveria mandar esse agente para os confins do Acre.

Aceitar que o descendente oriental processado por estar envolvido em facilidade de contrabando, condenado, afastado e reintegrado por liminar ainda não definitiva e fazer parte do grupo policial que prendia os empresários e políticos foi um verdadeiro deboche em termos de poder.

Como disse um comentarista para agir como bom moço deveria ter ido para o Ministério da Cultura. Lá sim poderia exercer sua elegância no poder.

O Ministro Cardoso no ministério era adepto do TQQ. Aparecia terça, quarta e quinta-feira, depois das onze horas e saía as 16 horas. Pensando que tudo ia correr na bonança esperava a tão prometida nomeação para o Supremo.

O Ministro Cardoso como disse era um especialista em Direito Administrativo.

Karl Kraus disse que "TODO ESPECIALISTA É UM ASNO NA SUA ESPECIALIDADE". E como Ministro da Justiça Cardoso fez asneira após asneira.

celsolungaretti disse...

Paulo,

os tucanos não me surpreendem. Fazem pelo País exatamente o que eu esperava deles: nada.

Já o PT é uma enorme decepção. Não foi para isso que ele foi criado. Ou você acha sabível um partido de trabalhadores passar um ano aplicando uma política econômica neoliberal?

Quanto ao enquadramento da Polícia Federal, há uns 6 meses talvez servisse de algo para o governo. Hoje a situação está tão deteriorada que fará apenas aumentar a rejeição, levando água para o moinho do impeachment.

Sou um homem de comunicação. Já treinei empresários para darem entrevistas, porque era o emprego que se oferecia para mim no momento (como nunca fui apaniguado nem protegido por pessoas ou partidos, tinha mais é de aceitar o que surgia no meu caminho). Um sujeito como esse Eugênio Aragão eu passaria horas e horas ensinando o bê-a-bá, mas, sob minha orientação, nunca diria as bobagens que disse à 'Folha'.

Quanto a distorcer, bem, há uma grande diferença entre a percepção da política que leitores têm e que jornalistas conhecedores dos bastidores têm. Eu, simplesmente, não levo em conta a conversa pra boi dormir com que essa gente se justifica, geralmente soprada no ouvido das 'excelências' pelo staff. Minha análise é bem mais aprofundada. Daí minha taxa de previsões corretas ser das mais elevadas.

Por último: ministros da Justiça e advogados gerais da União estão subordinados ao Poder Executivo, mas isto não implica a inexistência de um compromisso primordial com a Justiça. Não são --ou, pelo menos, não deveriam ser-- meros capachos de presidentes ou ex-presidentes.

O Cardozo não cumpria ordens que violentassem sua noção de dever. Saiu como um homem honrado e vai sobreviver politicamente depois da queda da Dilma.

Já os que dizem amém a todos os absurdos que vêm de cima terão muita dificuldade para arranjar emprego daqui a alguns meses.

Abs.

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