segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

ALGUNS LEMBRETES À EXMA. MARIA DO ROSÁRIO

Prezada deputada,

sou da geração 68 e comecei minha trajetória nos duros embates da política estudantil de então. Foi quando aprendi lições valiosíssimas para a minha militância revolucionária, que sigo até hoje.

Uma delas: a rua é sempre de mão dupla. Os adversários ou inimigos não esquecem o que dissemos em episódios passados e, quando mudamos nosso posicionamento ao sabor das circunstâncias, atiram isto triunfalmente na nossa cara.

O jeito é mantermo-nos fiéis a nossos princípios, por mais que isto desagrade aos companheiros mais simplistas ou simplórios.

Então, quando os pugilistas cubanos foram despachados a toque de caixa para Cuba, sem se levarem em conta os procedimentos que deveriam ter sido adotado num caso daqueles, protestei antes mesmo do Suplicy. Não tinha simpatia nenhuma por tais boxeadores que consideravam os euros mais importantes do que o país de nascença, mas, ainda assim, era um péssimo precedente que estava sendo aberto. Poderia mais tarde ser usado por um presidente de direita para entregar um companheiro valoroso a seus algozes. a rua é sempre de mão dupla

Houve quem me apedrejasse, claro, mas recebi meu prêmio adiante. Defendendo Cesare Battisti em textos e em eventos vários, frequentemente os antagonistas, desinformados, me acusavam de não haver agido da mesma maneira no caso dos cubanos. Tomavam-me pelo esquerdista atual típico. 

Quando eu informava que havia sido o primeiro a me posicionar contra a repatriação forçada, quebrava a perna deles. Alguns até perderam o rebolado e se tornaram presas fáceis no resto do debate.

Então, nunca se esqueça, minha cara Rosário: a rua é sempre de mão dupla.

Também não escreva bobagens como a de que pouco importam para onde vão as cinzas do brasileiro executado pelo abominável governo da Indonésia, pois as viúvas da ditadura retrucarão que, então, pouco importam igualmente as cinzas dos resistentes exterminados no Araguaia e em outros palcos das chacinas dos anos Médici

Reinaldo Azevedo já o fez. E é constrangedor ter de admitir que, desta vez, ele está com a razão.

Afora o fato de que uma ex-ministra dos Direitos Humanos jamais poderia ter enfatizado, de forma tão antipática quanto inoportuna, que Marco Archer era um traficante e não um herói. Antigamente éramos os primeiros a proclamar que traficantes deveriam ter julgamentos justos, ao invés de serem executados na calada da noite pelo Esquadrão da Morte.

Aliás, cá entre nós, as autoridades da Indonésia lembram muito a turminha do delegado Sérgio Fleury. E ainda querem ser respeitados! Pena de morte e barbaridades afins não merecem o respeito de homem civilizado nenhum! 

Com meus protestos de respeito e consideração,

Celso lungaretti

3 comentários:

Fernanda Tardin disse...

Eu li a integra do que Maria do Rosário falou ' sou contra a pena de morte, sou contra o fuzilamento. ... Agora é irrelevante onde as cinzas serão jogadas, visto que ele não é um herói e sim um traficante'. Em momento algum ela defendeu o governo da Indonésia.

E se falarmos de resistência ( onde não cabem a nós julgar aos resistentes, num momento impar de torturas físicas, mentais...) corremos riscos grandes: nem todos os heróis foram heróis. E muitos heróis ou heroinas ainda estão intocáveis ou 'irrevelaveis'.

Somos jornalistas e militantes Celso, sabemos que uma virgula altera um texto e a luta.

Não podemos omitir o todo, pois uma parte pode provocar erro irreparável e macular definitivamente a vida de quem carrega bandeiras . Vc. sabe as consequências disto.

No mais, concordo com Maria do Rosário. Quanto a Cesare, que tb. defendi num coletivo junto a vc., ele não traficava , ele é PRESO POLITICO.

celsolungaretti disse...

Minha caríssima Fernanda,

ela disse o máximo de inconveniências com o mínimo de palavras.

O Reinaldo Azevedo e outros reaças lhe deram xeque-mate: se não importa onde as cinzas do Marco Archer serão jogadas, por que ela se queixa tanto do sumiço das cinzas dos nossos companheiros?

Não era nem um pouco difícil prever que eles lhe jogariam isto na cara. A mulher não pensa um tiquinho que seja antes de escrever?

Quanto a ele não ser um herói mas sim um traficante, ISTO NÃO DIMINUI A RESPONSABILIDADE DO GOVERNO BRASILEIRO (inclusive a dela, que era ministra dos Direitos Humanos), QUE NÃO SOUBE EVITAR UMA PUNIÇÃO BÁRBARA E INJUSTA.

Sou contra a pena de morte em qualquer caso, mas a coisa fica pior ainda quando ela é aplicada contra quem não cometeu crime de sangue. Se há é altamente criticável a execução de uma assassino, é simplesmente abominável a execução de um mero traficante.

Quanto ao Cesare, ele só entrou neste assunto porque os direitistas alegavam que o governo brasileiro teria usado de dois pesos e duas medidas, despachando sumariamente os pugilistas cubanos e acabando por abrigar o Cesare.

Então, eu e o Suplicy escapávamos desta acusação nos debates públicos: ambos tínhamos sido contrários à repatriação forçada dos boxeadores. Ou seja, tínhamos uma vulnerabilidade a menos.

De resto, fico contente com seu contato. Fazia tempo.

Um abração!

Anônimo disse...

so existem duas ameaças basicas ao atual estagio civilizatorio da humanidade: a contenção do crime e controle da superpopulação atraves do controle da natalidade, sem isso naufragamos na barbarie de modo inapelavel...a "sinistra" e as igrejas, juntas na burrice como sempre, são peremptoriamente contra ambas as soluções; os resultados ja estão a vista de todos.

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