A Folha de S. Paulo publica com grande alarde que a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares tramou, mas acabou não executando, o sequestro do ministro Delfim Netto no final de 1969 ( http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0504200906.htm ).
O plano teria entrado na ordem do dia após o racha que reconstituiu a Vanguarda Popular Revolucionária, no Congresso de Teresópolis. Era a ação espetacular com que a VAR contava provar que a saída dos principais quadros de origem militar não teria afetado a capacidade operacional de seus grupos táticos -- pois ficara, para o restante da esquerda, a impressão de que a VPR faria a guerrilha e a VAR se restringiria à atuação junto às massas.
José Raimundo da Costa (o Moisés, que passou à História como o último comandante da VPR) e eu fomos os iniciadores do racha e os mais alvejados pelas críticas do pessoal que ficaria na VAR. Então, teoricamente, nada tenho a ver com essa história. Ela se refere à organização com a qual eu havia rompido e que me endereçara pesadas acusações, como costuma ocorrer nas lutas internas.
Mesmo assim, faço questão de deixar registrado que era uma decisão corretíssima da VAR: por seu papel histórico como signatário do Ato Institucional nº 5, Delfim Netto merecia, sim, servir como moeda de troca para livrar companheiros da tortura e da morte nos cárceres da ditadura.
Pois foi o malfadado AI-5 que deu o sinal verde para a linha dura militar praticar todas as atrocidades do período mais totalitário da História brasileira. Tenho reiteradamente afirmado que, mais que dos próprios torturadores, a responsabilidade por aquele festival de horrores foi de quem retirou a coleira dos pitbulls.
De cães de ataque só se espera que ajam de acordo com sua natureza; quem lhes determina o alvo e os açula é sempre o maior culpado.
Delfim Netto sabia muito bem o que adviria da proibição de habeas corpus para os acusados de "subversão" e da possibilidade de mantê-los presos, incomunicáveis, durante 30 dias (prazo que acabaria sendo ultrapassado na prática, eu mesmo fiquei incomunicável por 75 dias).
Ele não era nenhum inocente útil, mas sim um culpado inútil, com a agravante de que tinha mais discernimento do que a maioria dos participantes daquela ignóbil reunião.
Quanto à Folha, o enorme e injustificável espaço que dedicou a essa Batalha de Itararé (um não-fato, já que o sequestro nem sequer foi tentado) se deve, unicamente, ao fato de que Dilma Rousseff era dirigente da VAR e conhecia o plano.
Evidentemente, forneceu munição para as sórdidas campanhas de difamação que os sites de extrema-direita desencadearão e as correntes de e-mails maximizarão.
Já vim a público denunciar que a ralé fascista espalhara na internet uma ficha policial da ditadura a respeito de Roussef, com várias incorreções (atribuíam-lhe ações armadas praticadas por organização a que ela não pertencia).
Como daquela vez, reitero que, não sendo partidário da candidatura presidencial de Dilma nem tendo afinidade com ela, repudio com veemência o jogo sujo de quem exuma episódios do passado para servirem, preconceituosamente, como arma política no presente.
Um comentário:
Mais uma vez é impressíndivel que a história seja contada e de preferência por quem viveu a mesma desnudando os fatos.
Mais importante ainda é sabermos que jamais devemos confiar no que a imprensa tendenciosa e obscura trata com Dita Branda, mais uma vez parabéns pelo texto.
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