Vou surpreender meus leitores, ao reconhecer que, pelo menos num ponto, a avaliação dos comandantes militares insubmissos é correta: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está mesmo empurrando com a barriga a solução da crise que eles provocaram.
A ordem é minimizar o frontal desafio do ministro da Defesa Nelson Jobim e dos três comandantes das Forças Armadas (ou apenas de dois, as versões variam...), à autoridade presidencial, ao Governo, à democracia e aos valores da civilização.
Tarso Genro e Paulo Vannuchi, seguindo o script da Operação Panos Quentes, dizem que a coisa não foi tão grave assim e que as arestas serão aparadas futuramente.
Não se sabe sequer quando. Alguns dizem que vai ser a partir do 11 de janeiro em que Lula reassumirá seu posto. Outros, que a nova e expurgada versão do Programa Nacional de Direitos Humanos só será conhecida em abril.
O veteraníssimo colunista político Jânio de Freitas denuncia que o vazamento da insubordinação militar foi orquestrado: plantaram a notícia simultaneamente em vários órgãos de imprensa, uma semana depois dos fatos.
Quem seriam os vilãos? Pessoas interessadas em provocar crises institucionais, com vistas à próxima eleição presidencial.
Ou seja, quereriam minar a popularidade de Lula, ao açularem contra ele o que há de mais liberticida, reacionário, rancoroso e podre na sociedade brasileira.
Faz sentido.
Subsiste, entretanto, o fato de que as forças golpistas são aquelas mesmas que tentaram lançar o Cansei, com enorme apoio na mídia, e mesmo assim colheram retumbante fracasso.
Se possível, estão mais debilitadas ainda, face ao aumento acentuado da popularidade do Lula.
Então, é de se lamentar que ele não tenha aproveitado o momento propício para esmagar o ovo da serpente, utilizando um motivo que sempre calou fundo na caserna: a quebra da autoridade.
Quando o ditador Geisel tentava desmontar a máquina de terrorismo de estado que se tornara desnecessária com o fim da luta armada, havia muitos setores militares que continuavam defendendo o DOI-Codi.
Aí se deu o assassinato de Vladimir Herzog e Geisel ordenou aos torturadores: um acontecimento desses não poderia se repetir.
Logo depois eles mataram Manuel Fiel Filho. Foi quando Geisel extinguiu o DOI-Codi e dispersou seus integrantes por unidades militares distantes, não porque fossem culpados de atrocidades, mas por terem descumprido a ordem direta dele, comandante supremo das Forças Armadas.
Nem o mais empedernido defensor do arbítrio ousou protestar, quando as coisas foram colocadas dessa forma. A obediência à hierarquia é incutida nos aspirantes a oficiais desde o primeiro dia de Academia.
Enfim, não adianta chorarmos o leite derramado. Lula perdeu ótima oportunidade para livrar-se dos que estão, dentro do seu governo, semeando ventos para provocar tempestades.
Torçamos para que ele não venha a arrepender-se amargamente disto -- pois os maiores prejudicados seremos nós.
De resto, os ministros progressistas devem ter clareza quanto ao que é realmente importante defenderem, durante a revisão do PNDH prometida por Lula aos militares chantagistas.
A apuração integral dos crimes praticados por agentes do Estado (e pelos paramilitares por eles acobertados, como os do CCC) durante a ditadura é imprescindível e inegociável.
A apuração simultânea de eventuais excessos praticados por resistentes seria totalmente descabida, uma mera igualação entre carrascos e vítimas, que só se sustenta em termos propagandísticos.
A extrema-direita bate nesta tecla à exaustão nos seus sites goebbelianos, omitindo sempre que nada disso teria acontecido se a democracia não houvesse sido detonada pelos golpistas de 1964; e que há enorme diferença entre terrorismo de estado, sancionado pelo ditador de plantão e seus ministros (os signatários do AI-5), e as reações desesperadas dos resistentes.
No fundo, os comandantes fascistas não são tão obtusos a ponto de ignorarem que por aí não se irá a lugar nenhum, em termos legais. Querem apenas munição para a batalha de mídia, contando com a conivência da grande imprensa para confundir a opinião pública.
É uma falácia que deve ser firmemente rechaçada.
Quanto à retirada ou manutenção das homenagens prestadas a totalitários, não importa tanto.
O povo, na verdade, não está nem aí para a figura histórica que deu nome a uma via ou logradouro público.
Às vezes, a denominação oficial nem sequer vinga, como nos casos da ponte Rio-Niterói (RJ) e do Minhocão (SP). Quem atenta para que ambos reverenciam o ditador Costa e Silva? Quantos conhecem o papel histórico que ele desempenhou?
Quando a coisa passa da conta, a reação da cidadania já corrige a distorção: em São Carlos (SP), uma campanha de esclarecimento foi suficiente para a rua Sérgio Paranhos Fleury ser rebatizada como rua D. Helder Pessoa Câmara.
Então, meu conselho ao Vannuchi e ao Tarso é que finquem pé no fundamental e não desperdicem energias com o secundário.
A ordem é minimizar o frontal desafio do ministro da Defesa Nelson Jobim e dos três comandantes das Forças Armadas (ou apenas de dois, as versões variam...), à autoridade presidencial, ao Governo, à democracia e aos valores da civilização.
Tarso Genro e Paulo Vannuchi, seguindo o script da Operação Panos Quentes, dizem que a coisa não foi tão grave assim e que as arestas serão aparadas futuramente.
Não se sabe sequer quando. Alguns dizem que vai ser a partir do 11 de janeiro em que Lula reassumirá seu posto. Outros, que a nova e expurgada versão do Programa Nacional de Direitos Humanos só será conhecida em abril.
O veteraníssimo colunista político Jânio de Freitas denuncia que o vazamento da insubordinação militar foi orquestrado: plantaram a notícia simultaneamente em vários órgãos de imprensa, uma semana depois dos fatos.
Quem seriam os vilãos? Pessoas interessadas em provocar crises institucionais, com vistas à próxima eleição presidencial.
Ou seja, quereriam minar a popularidade de Lula, ao açularem contra ele o que há de mais liberticida, reacionário, rancoroso e podre na sociedade brasileira.
Faz sentido.
TIGRES DE PAPEL
Subsiste, entretanto, o fato de que as forças golpistas são aquelas mesmas que tentaram lançar o Cansei, com enorme apoio na mídia, e mesmo assim colheram retumbante fracasso.
Se possível, estão mais debilitadas ainda, face ao aumento acentuado da popularidade do Lula.
Então, é de se lamentar que ele não tenha aproveitado o momento propício para esmagar o ovo da serpente, utilizando um motivo que sempre calou fundo na caserna: a quebra da autoridade.
Quando o ditador Geisel tentava desmontar a máquina de terrorismo de estado que se tornara desnecessária com o fim da luta armada, havia muitos setores militares que continuavam defendendo o DOI-Codi.
Aí se deu o assassinato de Vladimir Herzog e Geisel ordenou aos torturadores: um acontecimento desses não poderia se repetir.
Logo depois eles mataram Manuel Fiel Filho. Foi quando Geisel extinguiu o DOI-Codi e dispersou seus integrantes por unidades militares distantes, não porque fossem culpados de atrocidades, mas por terem descumprido a ordem direta dele, comandante supremo das Forças Armadas.
Nem o mais empedernido defensor do arbítrio ousou protestar, quando as coisas foram colocadas dessa forma. A obediência à hierarquia é incutida nos aspirantes a oficiais desde o primeiro dia de Academia.
Enfim, não adianta chorarmos o leite derramado. Lula perdeu ótima oportunidade para livrar-se dos que estão, dentro do seu governo, semeando ventos para provocar tempestades.
Torçamos para que ele não venha a arrepender-se amargamente disto -- pois os maiores prejudicados seremos nós.
O FUNDAMENTAL E O SECUNDÁRIO
De resto, os ministros progressistas devem ter clareza quanto ao que é realmente importante defenderem, durante a revisão do PNDH prometida por Lula aos militares chantagistas.
A apuração integral dos crimes praticados por agentes do Estado (e pelos paramilitares por eles acobertados, como os do CCC) durante a ditadura é imprescindível e inegociável.
A apuração simultânea de eventuais excessos praticados por resistentes seria totalmente descabida, uma mera igualação entre carrascos e vítimas, que só se sustenta em termos propagandísticos.
A extrema-direita bate nesta tecla à exaustão nos seus sites goebbelianos, omitindo sempre que nada disso teria acontecido se a democracia não houvesse sido detonada pelos golpistas de 1964; e que há enorme diferença entre terrorismo de estado, sancionado pelo ditador de plantão e seus ministros (os signatários do AI-5), e as reações desesperadas dos resistentes.
No fundo, os comandantes fascistas não são tão obtusos a ponto de ignorarem que por aí não se irá a lugar nenhum, em termos legais. Querem apenas munição para a batalha de mídia, contando com a conivência da grande imprensa para confundir a opinião pública.
É uma falácia que deve ser firmemente rechaçada.
Quanto à retirada ou manutenção das homenagens prestadas a totalitários, não importa tanto.
O povo, na verdade, não está nem aí para a figura histórica que deu nome a uma via ou logradouro público.
Às vezes, a denominação oficial nem sequer vinga, como nos casos da ponte Rio-Niterói (RJ) e do Minhocão (SP). Quem atenta para que ambos reverenciam o ditador Costa e Silva? Quantos conhecem o papel histórico que ele desempenhou?
Quando a coisa passa da conta, a reação da cidadania já corrige a distorção: em São Carlos (SP), uma campanha de esclarecimento foi suficiente para a rua Sérgio Paranhos Fleury ser rebatizada como rua D. Helder Pessoa Câmara.
Então, meu conselho ao Vannuchi e ao Tarso é que finquem pé no fundamental e não desperdicem energias com o secundário.
Um comentário:
Caro Celso,
Nós, da LS-21, estamos divulgando uma nota pública a respeito desse acontecimento absurdo. Com sua permissão, eu a colocarei aqui.
um abraço,
Dea
O GOLPE DO REVEILLON
Quem tem medo da Verdade e da Justiça?
Nos últimos três dias de 2009, a paz democrática em nosso país foi sobressaltada por supostas articulações golpistas, que teriam como fulcro os protestos e ameaças de demissão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, e dos comandantes das três forças militares, em reação ao terceiro plano nacional de direitos humanos, que submete à apreciação do Executivo a idéia de encaminhar ao Congresso um projeto de lei para a formação de uma Comissão da Verdade e da Justiça. A celeuma foi provocada por uma matéria do jornal O Estado de S.Paulo, com base em declarações anônimas de um suposto “general”. No dia seguinte o anunciado golpe do reveillon ganhou densidade em editorial do mesmo jornal e matérias publicadas pela sua concorrente Folha de S.Paulo.
Ainda não está claro se a cúpula militar desafiou a autoridade do comandante supremo das forças armadas, o presidente da República, com a ameaça de demissão coletiva. E não há evidências de desordem nos quartéis ou da existência de um número significativo de oficiais da ativa dispostos a desonrar as fardas e insígnias que lhes foram confiadas pelo povo brasileiro, rasgando a Constituição com o propósito espúrio de encobrir crimes hediondos e de lesa-humanidade da ditadura e para proteger o anonimato de assassinos e torturadores. As matérias publicadas, porém, evidenciam, sim, a existência de minorias fascistas subversivas infiltradas nas instituições e com vínculos na grande imprensa, dispostas a tudo para interromper o ciclo de legalidade democrática, desenvolvimento econômico e inclusão social vivido por nosso país.
Face a propaganda do golpe do Estado, é lícito que se pergunte: Quem tem medo da verdade? Quem tem medo da Justiça? E quem tem medo de um futuro de luz e transparência?
Os inimigos da verdade são os apóstolos da mentira.
Os adversários da justiça são os cultores da injustiça, da ilegalidade, da perseguição e da desigualdade.
Temem a verdade, a justiça e a transparência aqueles que têm algo a esconder, as mãos sujas do sangue de inocentes e patriotas. Felizmente eles não são muitos e os poucos remanescentes do período mais sombrio de nossa história são covardes o suficiente para agirem nas sombras, sem revelar suas identidades ou seus verdadeiros propósitos. Não serão capazes, portanto, de iludir e obter o apoio da jovem oficialidade, formada nos princípios do respeito à ordem democrática. No passado enfrentaram a oposição de uma juventude que não hesitava em sacrificar a própria vida por seus ideais. Hoje os propagadores do golpe do reveillon e de outros golpes terão que enfrentar uma juventude ainda mais determinada e um povo que aprendeu as virtudes da convivência democrática! Antes que eles se constituam numa ameaça, é preciso que sejam identificados e denunciados. Por mais solertes e covardes que sejam, é importante que entendam, uma vez mais, a velha lição: Não passarão!
Em 1º de janeiro de 2010
Liga de Socialistas do Século XXI (LS-21)
Inquietos@grupos.com.br
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