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terça-feira, 8 de setembro de 2020

PREPARE-SE, MR. TRUMP: O PIB DOS EUA AUMENTA E O POVO EMPOBRECE, ENTÃO EM NOVEMBRO VOCÊ SERÁ "D-E-M-I-T-I-D-0!"

paul krugman
A POBREZA INTERNA BRUTA ESTÁ CRESCENDO
Você tem uma vida melhor hoje do que tinha em julho?

Diante da situação, nem se deveria perguntar isso. Afinal, as ações subiram; a economia acrescentou mais de um milhão de empregos em agosto (explico as aspas daqui a um minuto); estimativas preliminares sugerem que o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos está aumentando rapidamente no terceiro trimestre, que acaba neste mês.

Mas a Bolsa não é a economia: mais da metade de todas as ações são propriedade de apenas 1% dos estadunidenses, enquanto a metade inferior da população possui somente 0,7% do mercado.

Os empregos e o PIB, em contraste, são praticamente a economia. Mas não são o ponto principal da economia. O que alguns economistas e muitos políticos com frequência esquecem é que a economia não é fundamentalmente sobre dados, é sobre pessoas. 
1% dos estadunidenses possuem todas as ações da Bolsa de lá

Eu gosto de dados, tanto quanto ou até mais do que qualquer um. Mas o sucesso de uma economia deve ser avaliado não pela estatísticas impessoais, e sim pela melhora na vida das pessoas.

E o fato simples é que nas últimas semanas a situação de grande parte dos estadunidenses piorou bastante.

Obviamente, isso vale para os cerca de 30 mil estadunidenses que morreram de Covid-19 em agosto –em comparação, somente 4 mil pessoas morreram na União Europeia, que tem uma população maior–, mais o número desconhecido, porém maior, de nossos cidadãos que sofreram danos duradouros à saúde. 

E não olhe agora, mas o número de novos casos de coronavírus, que estava em declínio, parece ter atingido o platô; entre o Dia do Trabalho nos EUA [07/09 em 2020] e a reabertura das escolas, há uma boa probabilidade de que a situação do vírus dê mais uma virada para pior.

Mas as coisas já pioraram para os milhões de famílias que perderam a maior parte de sua renda normal em consequência da pandemia e ainda não a recuperaram. 

Nos primeiros meses da depressão pandêmica, muitos desses estadunidenses sobreviveram graças à ajuda federal de emergência. Mas grande parte dessa ajuda foi cortada no final de julho e, apesar dos ganhos de empregos, estamos no meio de um enorme aumento da pobreza nacional.

Então vamos falar sobre aquele relatório do emprego.

Uma coisa importante a se ter em mente sobre as estatísticas mensais oficiais do emprego é que elas se baseiam em pesquisas realizadas na segunda semana do mês. Foi por isso que usei aspas em agosto. O que o relatório de 6ª feira (4) realmente nos deu foi um instantâneo da situação do mercado de trabalho por volta de 12 de agosto.

Isso pode ser importante. Dados privados sugerem uma desaceleração no crescimento dos empregos desde o final de julho. Por isso, o próximo relatório de emprego, que será baseado em dados coletados nesta semana –e também será o último antes da eleição–, provavelmente (não certamente) será mais fraco que o último.

Em todo caso, aquele relatório de agosto não foi ótimo, considerando-se o contexto. Em tempos normais, um ganho de 1,4 milhão de empregos seria impressionante, mesmo que alguns deles fossem uma bolha temporária associada ao censo. Mas ainda estamos com 11 milhões de empregos a menos do que tínhamos em fevereiro.

E a situação continua muito dura para os trabalhadores mais atingidos. O declínio da pandemia atingiu de maneira desproporcional os trabalhadores no setor de lazer e hotelaria –como restaurantes– e o emprego nesse setor ainda está cerca de 25% abaixo do normal, enquanto a taxa de desemprego para trabalhadores na indústria ainda está acima de 20%, mais de quatro vezes seu nível de um ano atrás.

Em parte por causa do lugar onde a queda se concentrou, os desempregados tendem a ser estadunidenses que ganhavam salários baixos mesmo antes do declínio econômico. E um fato perturbador sobre o relatório de agosto foi que os salários médios aumentaram. 

Não, não foi um erro de impressão. Se os trabalhadores de baixa renda mais atingidos pela queda fossem recontratados, esperaríamos que os salários médios caíssem, como fizeram durante a recuperação de maio e junho. Aumento de salários médios nesta altura é um sinal de que os que realmente precisam de empregos não os estão conseguindo.

Assim, a economia continua se desviando dos que mais precisam de uma recuperação.

Mas a maior parte da rede de segurança que sustentou temporariamente as vítimas econômicas do coronavírus foi rasgada.

A Lei Cares, aprovada em março, deu aos desempregados mais US$ 600 por semana em benefícios. Esse suplemento teve um papel crucial para limitar as dificuldades extremas; a pobreza pode até ter diminuído.

Mas o suplemento terminou em 31 de julho e tudo indica que os senadores republicanos nada farão para restabelecer a ajuda antes da eleição. A tentativa do presidente Donald Trump de implementar por decreto um suplemento semanal de US$ 300 deixará de atingir muita gente e se mostrará inadequada até para os que o receberem. 

As famílias podem ter sobrevivido por algumas semanas com suas economias, mas as coisas vão ficar muito duras para milhões de pessoas.

A conclusão é que, antes de citar estatísticas econômicas, você deve pensar no que elas significam para as pessoas e suas vidas. 
Os dados não são insignificantes: um milhão de empregos ganhos é melhor que um milhão de empregos perdidos, e um PIB em crescimento é melhor do que um que encolhe. 

Mas, com frequência há uma desconexão entre os números das manchetes e a realidade da vida estadunidense, e isso é especialmente verdadeiro neste momento.

O fato é que esta economia simplesmente não está funcionando para muitos estadunidenses que enfrentam tempos difíceis –os quais, graças às decisões políticas de Trump e seus aliados, só estão ficando mais difíceis. (por Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia)

quarta-feira, 20 de maio de 2020

A LIÇÃO É PARA TRUMP, MAS SERVE TAMBÉM PARA O BOZO: "DEVERÍAMOS AJUDAR OS TRABALHADORES, NÃO MATÁ-LOS"

Até onde sei, a maioria dos epidemiologistas está horrorizada com a corrida dos Estados Unidos para reabrir sua economia, e abandonar boa parte do distanciamento social que ajudou a conter a Covid-19.

Sabemos o que uma reabertura segura requer: um nível de contágio baixo, testes abundantes, e a capacidade de rastrear e isolar rapidamente os contatos de novos casos. Até o momento, não temos qualquer dessas coisas.

É claro que os epidemiologistas podem estar errados. Mas em cada estágio da crise, eles estiveram certos, enquanto as previsões dos políticos e seus asseclas quanto a um fim rápido da pandemia se provaram absolutamente incorretas. 

E se os especialistas estiverem certos mais uma vez, a abertura prematura pode resultar em centenas de milhares de mortes –e gerar resultados adversos mesmo em termos econômicos, já que uma segunda onda de infecções poderia nos forçar a voltar ao confinamento. Assim, de onde vem essa pressão pela reabertura?

Parte dela vem dos malucos da direita. Apenas uma pequena minoria de estadunidenses acredita que a liberdade inclui o direito de colocar vidas alheias em risco (e é isso que congregar grandes grupos de pessoas em meio a uma pandemia causa); que usar uma máscara seja antipatriótico, ou efeminado, ou algo assim; que a Covid-19 seja uma trapaça perpetrada pelos progressistas. Mas essa minoria tem imensa influência dentro do Partido Republicano.

Parte da pressão vem da obsessão de Donald Trump com o mercado de ações. Sua recusa inicial a fazer qualquer preparativo para a pandemia aparentemente se devia à preocupação de que reconhecer a ameaça, de qualquer maneira que fosse, assustaria o mercado. E a pressão pela reabertura pode refletir uma convicção semelhante de que voltar à vida normal seria bom para o mercado, mesmo que mate muita gente. Vamos morrer pelo índice Dow Jones!

Uma coisa que ouço com frequência é que devemos reabrir pelo bem dos trabalhadores, que precisam voltar a ganhar salários a fim de colocar comida na mesa para suas famílias. Por isso é importante compreender que esse é realmente um péssimo argumento.

Pois os Estados Unidos são perfeitamente capazes de proteger contra dificuldades econômicas severas os trabalhadores que perderam o emprego. 

Como disse Jerome Powell, o chairman do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, numa entrevista televisada domingo, podemos e devemos adotar políticas que “mantenham os trabalhadores em suas casas, permitam que continuem pagando suas contas e mantenham suas famílias solventes”.

E o que realmente surpreende é que já estamos fazendo boa parte disso. A Lei Cares, o pacote de US$ 2 trilhões em assistência contra a pandemia aprovado no final de março, expandiu substancialmente a elegibilidade para o auxílio-desemprego e a generosidade desse auxílio. E os benefícios expandidos, a despeito de alguns tropeços iniciais, estão cada vez mais fazendo o que necessita ser feito.

É verdade que em março, quando as solicitações de auxílio-desemprego começaram a disparar, os escritórios que distribuem os benefícios –administrados pelos governos estaduais– ficaram sobrecarregados, o que levou muitos estadunidenses que tinham direito a benefícios a não conseguirem atendimento. E muitas famílias ainda não estão recebendo a assistência a que teriam direito.
"Juro que não tenho sintoma nenhum da Covid-19"

Mesmo assim, um estudo da Brookings Institution indica que em abril o auxílio-desemprego cobriu cerca de metade dos salários perdidos por conta do confinamento –uma estimativa que confirma meus cálculos caseiros.

E esse índice de substituição deve quase certamente ter crescido de forma substancial nas últimas semanas. Os escritórios que administram o auxílio-desemprego estão gradualmente eliminando os atrasos acumulados no atendimento dos pedidos, e com isto o auxílio vem chegando a um número cada vez maior de trabalhadores desempregados. 

Ao mesmo tempo, as provas disponíveis indicam que os mercados de trabalho mais ou menos se estabilizaram, ao menos por enquanto, há cerca de um mês.

Por isso é uma aposta segura que, a esta altura, a maior parte, se bem que não toda, a perda de salários causada pelo distanciamento social esteja sendo compensada pela assistência governamental ampliada.

É uma história de sucesso que não está sendo celebrada; a maior parte da atenção da mídia se concentrou em outras partes da Lei Cares, especialmente o apoio às pequenas empresas, que está uma bagunça.

Mas o auxílio-desemprego, depois de problemas iniciais, está fazendo muito para ajudar os trabalhadores estadunidenses. E o crédito por isso cabe aos democratas, que insistiram em que essa assistência fosse parte do pacote. 
Suspeito que o sucesso do auxílio-desemprego ajude a explicar um aspecto chave da situação política com relação à reabertura –ou seja, que o clamor pelo fim das restrições não está vindo dos trabalhadores.

As perdas de empregos se concentraram entre os trabalhadores de remuneração mais baixa, mas pesquisas de opinião pública indicam que a demanda por abertura rápida vem principalmente dos republicanos de alta renda.

Ou seja, fizemos um trabalho bem melhor do que a maioria das pessoas percebe em proteger os trabalhadores estadunidenses contra dificuldades no período de confinamento. 

É claro que não foi um completo sucesso, e as primeiras semanas foram bem complicadas. Mas o fato é que o sofrimento foi bem menor do que se poderia esperar diante de um índice de desemprego real de provavelmente cerca de 20%.

Mas o auxílio-desemprego expandido que está apresentando resultados tão bons deve expirar em 31 de julho. Isto deveria causar medo.

Suponha que os epidemiologistas estejam certos, afinal, e que uma reabertura prematura leve a uma segunda onda de infecções. O que precisaremos nesse caso será de um segundo período de confinamento. Mas todas as indicações são de que os republicanos se opõem a prorrogar o auxílio.

O que eles querem, em lugar disso, são leis que isentem as empresas de responsabilidade legal caso seus empregados adoeçam.

Ou seja, querem forçar os estadunidenses a voltar a trabalhar mesmo que isto os mate. (por Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia)
Toque do editor — O artigo semanal de Krugman para o New York Times mais uma vez comprova que os desatinos aqui cometidos pelo Bozo, o horroroso nem sequer originais são, pois ele apenas macaqueia os erros crassos de Trump, como:
 a campanha contra o distanciamento social; 
 a hostilização da OMS e outras importantes entidades médicas e científicas; e 
— a aposta na hidroxicloroquina como remédio milagroso apesar de vários estudos recentes terem revelado que, nessa utilização indevida, trata-se de uma droga mais perigosa da que útil.

A diferença é que os EUA são muito mais ricos e dispõem de uma burocracia permanente que segura as pontas mesmo quando o presidente é desastroso. Ainda assim, a reeleição de Trump se torna cada vez mais improvável, enquanto Bolsonaro só por milagre iniciará 2021 no cargo. (por Celso Lungaretti) 
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