Celebridades que questionaram a sentença monstruosa da juíza Bárbara de Lima Iseppi contra o comediante Léo Lins estão voltando atrás à medida que os rancorosos punitivistas divulgam exemplos chocantes do tipo de humor que ele fazia, chantageando esses me(r)dalhões eternamente reféns das tendências majoritárias nos seus respectivos nichos.
Entre interesses e convicções, escolhem sem pestanejar os primeiros, por mais humilhante que seja a retratação. Preferem ser vistos como cidadãos que opinam levianamente, sem informarem-se direito sobre o assunto, do que como vozes discrepantes das Maria-vai-com-as-outras que seguem invariavelmente o rebanho, mesmo no erro e na abjeção.
Depois que Hitler e Mussolini tiveram o fim que sempre mereceram, alemães e italianos que antes esmagadoramente os idolatravam, correram a proclamar inocência.
Mas os chifres e os rabos pontiagudos não sumiram graças a tamanha hipocrisia, tanto que a Itália continuou se rendendo ao fascismo. A virtude não está mais no meio...
Assim, após chafurdar na lama com o pornocrata Silvio Berlusconi, a velha bota tem hoje como primeira-ministra a Giorgia Meloni, cujo lema é Deus, Pátria e Família.
Opositora do aborto voluntário, da eutanásia, da união civil entre pessoas do mesmo sexo, da paternidade LGBT, etc., ela se diz apenas conservadora cristã. Sei.
Se roubou, estuprou, feriu, matou, vandalizou, etc., que mofe na prisão.
Se apenas escandalizou a sociedade ou debochou de minorias, que seja condenado a prestar serviços comunitários, assistir a palestras, receber tratamentos, etc.
Tal era o entendimento da esquerda à qual aderi na virada de 1967 para 1968: uma sociedade que erige a ganância em prioridade suprema predispõe os indivíduos a todo tipo de comportamentos distorcidos, daí devermos antes reeducar as vítimas do capitalismo do que fazer desabar sobre elas todo o peso da lei.
A esquerda daquele tempo tinha coragem de assumir que o crime maior de todos é a própria existência do capitalismo e, enquanto não o superarmos, o punitivismo será quase sempre intimidação e/ou vingança, não justiça.
Mas as pessoas simples estão ainda imbuídas do simplismo do olho por olho, dente por dente, ilusório lenitivo para suas dores.
E a esquerda atual abre mão do dever de educá-las, preferindo a opção confortável de somar-se cinicamente a elas, jogando Marx no lixo.
Eu fico com Marx. (por Celso Lungaretti)
"Não guardo mágoa, não blasfemo, não pondero/
Não tolero lero-lero, devo nada pra ninguém"
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