LUNGARETTI E CASAGRANDE NUM DIÁLOGO DE SURDOS SOBRE "AINDA ESTAMOS AQUI"
Celso Lungaretti-- O Oscar é tão somente uma premiação da INDÚSTRIA cinematográfica, serve para turbinar o faturamento dos filmes nos quais o investimento foi grande e o retorno precisa ser igualmente elevado. Mas, o descompromisso do Oscar com a qualidade é tamanho que foi capaz de não premiar aquele que até hoje se mantém como o melhor filme de todos os tempos, CIDADÃO KANE. Confira a lista dos contemplados ano a ano e você constatará que pelo menos a metade foi de filmes tico-ticos, logo esquecidos. Quanto à ARTE cinematográfica, o principal festival do planeta é, disparado, o de Cannes, no qual nosso cinema sempre obteve o merecido destaque. De você eu esperava mais espírito crítico, não esse embasbacamento diante do MARKETING estadunidense, que nos impinge ouro de tolo inclusive na área artística.
Walter Casagrande Junior-- Pode ficar com dor de cotovelo Celso. Não tem problema. Vc acha que q gente se preocupa com quem torce contra? Não mesmo. Abraço.
Celso Lungaretti-- Torcer CONTRA? Se sou parte dessa história e fui procurado por muitos veículos para falar sobre os tempos sombrios! Por que torceria contra? Mas, depois fui crítico de cinema e apoiei os cineastas que criavam um visual e uma abordagem diferenciadas do Padrão Globo, com aqueles intragáveis cacoetes de telenovela que os filmes do cinemão (que era como apelidávamos as grandes produções hollywoodianas) mantinham. E o que vejo é o abandono das tentativas de fugir dessa camisa de força, a rendição a uma estética conservadora e rasteira. Chateia-me essa obsessão de viralatas complexados, de ganharem o Oscar, que é só o prêmio com mais marketing em cima, quando já temos várias Palmas de Ouro. Assim nunca forjaremos novos cineastas de qualidade superior, como o Glauber Rocha e outros do cinema novo. Por último: é feio distorcer as opiniões de quem te critica. Por bandeiras que vc prega na coluna eu arrisquei minha vida, derramei meu sangue e chorei a morte de muitos companheiros queridos. Então, mais respeito!
Walter Casagrande Junior-- Bom Celso, por aqui todo mundo é gênio, cineasta, médico, crítico de cinema e tudo que quiser Não sei nem se vc se chama Celso de verdade Nem se se vc existe mesmo Vc quer mais respeito? Então aprenda a respeitar as pessoas.
Celso Lungaretti-- Casagrande, você várias vezes se lamentou publicamente do seu drama pessoal e teve, pelo menos, a minha compreensão, pois é mesmo extremamente doloroso ter um mundo de gente o criticando sem sequer saber direito o que você sofreu. Mas, não teve o mínimo cuidado de pesquisar sobre mim, embora eu seja um personagem muito conhecido das redes sociais de esquerda: o mais jovem comandante de uma organização guerrilheira, preso aos 19 anos e lesionado para sempre, tornado um bode expiatório da derrota da luta armada e sendo capaz de provar a falsidade de uma grave e injusta acusação 34 anos depois de tê-la sofrido. Sobrevivi à mesma estigmatização que levou um sofrido companheiro ao suicídio, dei a volta por cima e, desde 2005, com a credibilidade restabelecida, tenho sido blogueiro destacado na defesa dos direitos humanos e da memória dos companheiros tombados nos anos de chumbo. E não uso pseudônimo nas redes, sempre me assino Celso Lungaretti.
OBSERVAÇÕES
Lancei o Náufrago da Utopia em 08/08/2008 como blog pessoal e, para manter um registro rigoroso das polêmicas que eu travava nas redes sociais, passei a nele postar todas elas.
À medida que foram entrando colaboradores fixos (o falecido Apollo Natali, Dalton Rosado, David Coelho e Rui Martins), passei a considerá-lo um blog coletivo. Cheguei até a abrir mão durante cerca de um ano da função de editor, que o David assumiu solidariamente para que eu pudesse poupar-me de esforços excessivos.
Mas, à falta de um espaço mais apropriado, creio ser ainda a melhor opção para conservar o quase-debate desta semana com o Casagrande na área de comentários sobre esportes do UOL.
E por que o qualifico de diálogo de surdos? Porque, de um lado, o Casagrande não entendeu o meu ponto de vista e respondeu a partir de uma suposição equivocada.
Do outro porque, embora girasse em torno do filme Ainda Estamos Aqui, do Walter Salles, da minha parte não foi uma discussão sobre o filme em si, já que não o assisti.
A audição imperfeita que tenho desde que meu tímpano do O.D. foi estourado por um torturador da PE da Vila Militar em junho de 1970 faz com que eu só assista as películas brasileiras quando consigo agregar uma legenda em espanhol.
Então, eu quis questionar tão somete o excessivo valor que os brasileiros concedem a um prêmio cujo júri é mais de gente que trabalha na área de cinema mas não necessariamente como diretores, roteiristas, críticos ou professores da sétima arte.
Tal composição eclética facilita os acertos de bastidores para atribuição dos prêmios principais segundo critérios fundamentalmente comerciais, e não artísticos.
Se o Casagrande tivesse a mesma convivência que eu tive com os cineastas independentes de São Paulo, principalmente o Carlos Reichenbach e o Jairo Ferreira, saberia porque me incomodam tanto os filmes que, mesmo quando trazem abordagens de esquerda, utilizam a estética caça-níqueis em que a TV Globo viciou os videotas brasileiros.
De resto, foi um excesso imperdoável da minha parte ter-me referido a um possívelembasbacamentodo Casagrande com o Oscar, quando a verdadeira pedra no meu sapato era o embasbacamento da maioria dos brasileiros com tudo que tem a etiquetamade in USA.(CL)
Ary Toledo cantando "Hey, mister" em 1969. Saudades do tempo em que
os artistas brasileiros mantinham espírito crítico com relação aos EUA!
4 comentários:
William Orth
disse...
Boa noite. Esse "Casa" dispensa comentários . Não simpatizava com ele ,agora tenho nojo. NÃO VAI GANHAR O OSCAR .
Existe muita gente, mesmo de esquerda, que se deslumbra com a atenção que recebe do seu entorno e do público em geral por estar trabalhando na grande imprensa. O problema é que ela não nos pertence. Ora nos projeta, ora nos destrói, de várias maneiras.
Um exemplo extremo foi o Tim Lopes, que se acreditava tão intocável por pertencer à Globo que desprezou as cautelas mais elementares que um repórter deve tomar quando atua em território dominado pela bandidagem.
Inclusive, alguém pode ter sentido na pele como esse tipo de prestígio é ilusório e fugidio, mas mesmo assim, passada a tempestade, voltar a superestimar a própria importância e a transpirar arrogância. De que nos servem as lições da vida, se delas não extraímos as devidas conclusões?
Celso!! O que é isso?! Nós olhamos para a senzala, para os imigrantes do pós lei áurea... E você perde tempo discutindo com casa grande! Olha a nossa idade companheiro!
4 comentários:
Boa noite. Esse "Casa" dispensa comentários . Não simpatizava com ele ,agora tenho nojo. NÃO VAI GANHAR O OSCAR .
Existe muita gente, mesmo de esquerda, que se deslumbra com a atenção que recebe do seu entorno e do público em geral por estar trabalhando na grande imprensa. O problema é que ela não nos pertence. Ora nos projeta, ora nos destrói, de várias maneiras.
Um exemplo extremo foi o Tim Lopes, que se acreditava tão intocável por pertencer à Globo que desprezou as cautelas mais elementares que um repórter deve tomar quando atua em território dominado pela bandidagem.
Inclusive, alguém pode ter sentido na pele como esse tipo de prestígio é ilusório e fugidio, mas mesmo assim, passada a tempestade, voltar a superestimar a própria importância e a transpirar arrogância. De que nos servem as lições da vida, se delas não extraímos as devidas conclusões?
A estupidez e a arrogância imperam na humanidade. A postura do Casagrande neste diálogo mostra que ele nada difere daqueles que ele diz combater.
Celso!! O que é isso?! Nós olhamos para a senzala, para os imigrantes do pós lei áurea...
E você perde tempo discutindo com casa grande! Olha a nossa idade companheiro!
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