domingo, 20 de outubro de 2024

A VERDADEIRA POLARIZAÇÃO É O DA LUTA DE CLASSES: ENTRE CAPITAL E TRABALHO

 


Existe uma ideia fixa da mídia burguesa brasileira: o fim da polarização política. Em seu mundo dos sonhos, o Brasil deveria ser formado apenas por centristas cêntricos, vivendo no consenso liberal do mercado e da democracia que não muda nada. O modelo maior desse sonho são os EUA do período pós Segunda Guerra, quando Democratas e Republicanos se revezaram na Casa Branca mantendo essencialmente as mesmas práticas. 

Por óbvio, em um país periférico e de extração colonial igual o Brasil, o sonho de um regime político de consenso liberal é mero delírio de uma burguesia siderada, que vive de costas para o seu próprio país e sempre se pensando como parte do mundo cosmopolita dos grandes capitalistas estadunidenses e europeus. Contudo, um país afundado na super exploração do trabalho, na dilapidação de seus recursos naturais, na economia desnacionalizada e que possui uma classe dominante que jamais chegou a ser ilustrada só pode ser o lugar da furiosa polarização entre pouquíssimos possuidores de muito e muitíssimos possuidores de nada

Polarização brasileira em ato. 

Pior, pois sequer nos EUA e na Europa o dito consenso liberal existe mais. Ao contrário, a polarização se acentua no centro do capitalismo, refletindo o aprofundamento da concentração de riqueza e da espoliação dos trabalhadores. Ao invés do Brasil se tornar o primeiro mundo, é ele quem está virando o Brasil, em um fenômeno batizado de brasileirização do mundo. Ou seja, o abismo da polaridade entre uma multidão de miseráveis e um grupo diminuto de possuidores vai se alastrando por todo lugar, levando à erosão dos regimes políticos desses países e à instabilidade como regra. 

Na realidade, a polarização não vem de outro lugar senão da oposição entre capital e trabalho. O capitalismo está fundado na exploração do trabalho no interior da propriedade privada em que o trabalho concreto é transformado em abstrato gerando o valor. Essa oposição é a raiz da sociedade capitalista e não pode ser anulada pela mera vontade de quem quer que seja. É a partir dela que está fundamentada a luta de classes. 

No mundo da mídia brasileira não existe 
contradição entre capital e trabalho. 
O que ocorreu durante décadas nos EUA e na Europa foi a denominada exportação das contradições. Rosa Luxemburgo foi uma pioneira na análise desse fenômeno em que os países centrais do capitalismo diminuem suas tensões internas absorvendo riqueza da periferia do sistema. Ao fazer isso, é possível aumentar a renda média dos trabalhadores enquanto a super exploração é imposta aos trabalhadores dos países periféricos. Foi exatamente o acontecido nos países centrais no período pós-guerra através das multinacionais que arrochavam o trabalhador na periferia e conseguia, com o valor importado, manter um padrão elevado para a média da população de seus países de origem. Tinha-se, assim, países majoritariamente de classe média. 

Mas a restruturação neoliberal colocou fim a esse processo ao cortar benefícios sociais, flexibilizar leis trabalhistas e impor uma reorganização do sistema produtivo em que os trabalhadores do centro perderam seus empregos seja para a automação, seja para trabalhadores da periferia, ao verem suas fábricas e empresas migrarem para países da América Latina, Ásia e África. O novo status da globalização na prática colocou fim às separações dos mercados nacionais ao impor um mercado unificado e homogêneo, controlado por oligopólios e em que os trabalhadores competem globalmente entre si. O resultado é a agudização da luta de classes em nível global e, logo, da polarização. 

Até na Europa, as contradições estão se 
acentuando.
Ao invés de diminuir, a polarização está se acentuando, acompanhando o processo de agudização da própria luta de classes e a crise crônica do capitalismo. Os nomes que encampam cada polo não importam, o importante é considerar a dinâmica política e social desse processo cuja base material não depende da vontade deste ou daquele sujeito.

Longe de demonizarmos a polarização, é preciso compreende-la em radicalidade e avançar na verdadeira polarização contra o capitalismo. Contudo, não podemos ter a ilusão que iremos todos ficar de mãos dadas como se estivéssemos em um clipe da música Imagine do John Lennon. A era do socialismo utópico já passou há mais de século. Na prática, a divisão da sociedade entre aqueles que desejam preservar o capitalismo e aqueles que desejam ir além fatalmente ocorrerá. Cabe a nós estarmos preparados para o momento decisivo do enfrentamento. (por David Coelho)

2 comentários:

Anônimo disse...

https://elpais.com/cultura/2024-10-15/aquellas-decadas-doradas-en-las-que-el-cine-italiano-se-sintio-el-mejor-del-mundo.html

Anônimo disse...

Como é que se pode morar naquele edifício ao lado da favela sem pensar no filme 'Zona de Interesse'??

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